Tati é uma jovem popular no seu colégio e bastante envolvida com as redes sociais. Contudo, após conteúdos íntimos do seu celular serem divulgado no grupo do WhatsApp da turma, ela passa a ser perseguida por outros estudantes. Esse é o enredo do filme “Ferrugem”, dirigido por Aly Muritiba, que foi o grande vencedor do Festival de Gramado de 2018 e também selecionado para o Festival Internacional de Sundance.
“Eu tenho um filho adolescente e uma filha pré-adolescente, e me senti muito impelido a falar com eles sobre o mundo conectado e as possíveis consequências danosas dele. Por isso, escolhi os temas de cyberbullying e pornografia de vingança para falar também sobre machismo e misoginia”, relata Muritiba. “O filme possui uma série de elementos educativos que podem e devem ser discutidos entre professores e alunos”, acrescenta. Confira a entrevista completa:
Por que é importante falar sobre cyberbullying e pornografia de vingança?
Aly Muritiba: O cyberbullying é apenas a progressão, a evolução de algo que já existia antes, que é o bullying. E a diferença dessa violência para uma brincadeira é que ela é feito deliberadamente para provocar sofrimento no outro. No caso de sua versão virtual, o alcance – e consequentemente os danos – são muito maiores. Normalmente, ela, por meio do revenge porn (pornografia de vingança) é feita para machucar mulheres. Os autores são homens inconsequentes, que se sentem magoados, traídos ou abandonados. E isso tem provocado muito sofrimento psicológico e muita morte das vítimas. Então é importante, no momento atual em que se discute tanto o uso responsável das redes sociais e da internet, assim como o papel do homem e da mulher no mundo, debater esse tema também. Esclarecer que ambas as práticas são atitudes criminosas.
De onde surgiu a ideia de fazer este filme?
Muritiba: A ideia de fazer “Ferrugem” veio de um desejo grande de falar sobre esse ambiente virtual. Eu tenho um filho adolescente e uma filha pré-adolescente, e me senti muito impelido a falar com eles sobre o mundo conectado e as possíveis consequências danosas dele. Por isso, escolhi os temas de cyberbullying e pornografia de vingança também para falar sobre machismo e misoginia.
Como o roteiro foi elaborado?
Muritiba: Ele foi elaborado a quatro mãos, por mim e pela co-roteirista Jessica Candal. Ambos fomos educadores e professores de adolescentes durante algum tempo de nossas vidas. E a dinâmica foi a de escuta. Nós tínhamos um tema e fomos a campo conversar com os jovens, entender seus desejos e medos. Pesquisamos materiais jornalísticos, entrevistamos psicólogos e advogados, para que o roteiro fosse escrito não apenas de maneira verossímil, mas também embasada e responsável. O processo durou mais de um ano até chegarmos ao tratamento final.
Como os professores do ensino médio podem debater o filme com seus alunos?
Muritiba: Vemos muitas escolas levando os estudantes para as salas de cinema, para depois promover uma discussão não apenas com educadores, mas com psicólogos e psicopedagogos. O filme possui uma série de elementos educativos que podem e devem ser discutidos entre professores e alunos. Ele fala sobre negligência institucional, no caso da instituição de ensino; negligência parental, a partir do modo como os pais da personagem não se relacionam com ela e permanecem em silêncio; de problemas cada vez mais frequentes relacionados à depressão e ao suicídio na adolescência; e fala muito sobre como o isolamento no caso de cyberbullying pode ser prejudicial. Como é importante buscar ajuda não apenas dos amigos adolescentes mas de adultos.
A que você atribui o sucesso do filme com o grande público e nos festivais de cinema?
Muritiba: Penso que tem a ver com o fato dele não apenas tratar de temas contemporâneos, mas de trabalhá-los de maneira responsável e respeitosa.
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