A derivação de palavras é um conteúdo curricular previsto entre o sexto e o oitavo anos do ensino fundamental e retomado no ensino médio, sendo sufixos e prefixos elementos presentes nesse processo.
O prefixo aparece antes do radical e altera o sentido da palavra sem mudar sua classe gramatical, como em desleal (derivação de leal). Já o sufixo vem depois do radical e pode modificar tanto o sentido quanto a classe da palavra, como em felicidade (derivação de feliz).
“O conteúdo de formação de palavras é uma oportunidade para os alunos compreenderem que a língua é dinâmica e que novas palavras são criadas a partir de elementos já existentes, o que demonstra a existência de padrões lógicos que estruturam o nosso idioma”, explica a professora de língua portuguesa da rede Sesi-MG Rafaela Pereira.
Para ensinar o tema, Pereira sugere atividades de pesquisa de vocabulário. “Instigar os alunos a serem ‘arqueólogos das palavras’ ajuda a transformar a percepção do ensino da língua portuguesa”, aponta.
A docente recomenda oferecer situações em que os estudantes criem palavras a partir dos processos de derivação e de composição. “Podem ser propostas atividades como quebra-cabeças ou dominós com os prefixos e sufixos mais utilizados na língua portuguesa, pedindo que formem palavras ao uni-los aos radicais. Outras possibilidades são a produção de esquemas coloridos, ilustrativos e explicativos sobre esses processos, além da elaboração de narrativas com propósitos explicativos (storytelling)”, acrescenta.
A seguir, conheça quatro atividades pedagógicas que ajudam a ensinar sufixos e prefixos nos últimos anos do ensino fundamental.
1) Derivação sufixal nos nomes dos estabelecimentos comerciais
Na monografia “O estudo da formação de palavras e as práticas em sala de aula” (2022), Pereira propõe que duplas de alunos inventem nomes para novas lojas de um shopping a partir dos produtos vendidos nelas.
“Eles pensaram em brigadeiria (loja de brigadeiros), saboneteria (loja de sabonetes), sucaria (loja de sucos), frutaria (loja de frutas) e cookeria (loja de cookies)”, relata. Em seguida, questionou a turma sobre a existência de um padrão na formação desses nomes.
“Eles notaram a presença do sufixo -ria, muito usado para designar estabelecimentos (padaria, drogaria, mercearia, sorveteria). A partir disso, criaram outros nomes, como caparia (loja de capinhas de celular) e chuteria (loja de chuteiras), que apresentaram à classe para que os colegas adivinhassem o produto vendido”, conta.
Os estudantes também refletiram se haveria uma intenção de diferenciar, por meio dos sufixos -aria e -eria, estabelecimentos que vendem apenas um produto daqueles que também oferecem serviços.
“Curiosamente, perceberam que há palavras formadas com ambos os sufixos: salgadaria/salgaderia; chocolateria/chocolataria; hamburgueria/hamburgaria; leitaria/leiteria. Notaram ainda que nem todos os nomes eram fáceis de usar, como dogueria ou cachorroquenteria. Nesse caso, prevaleceria o termo mais confortável para o falante”, descreve.
2) Novas palavras adicionadas aos dicionários
Pereira apresentou aos alunos a versão digital do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), que conta com a seção “Novas Palavras”. Usou exemplos recém-adicionados, como agrofloresta e biossegurança, para discutir derivação.
As duplas ainda montaram uma lista de termos usados nas mídias digitais e verificaram se apareciam no VOLP online e em dicionários impressos. Notaram que alguns constavam apenas na versão digital.
“Expliquei que a atualização online é mais ágil, mas que todo processo é acompanhado por uma equipe de lexicógrafos. Eles entenderam que o dicionário não abrange todas as palavras de uma língua”, comenta.
Entre os termos levantados pelos alunos surgiu malandramente, registrado posteriormente no VOLP, e também desumilde, que ainda não aparece. “Eles acreditaram ser desumilde incorreto. Então, pedi que comparassem com desumano, analisando outro uso do prefixo des- antes de palavra iniciada com h”, relata.
3) Palavras que se popularizaram nas redes sociais
Pereira criou com os alunos uma lista de palavras que haviam se popularizado em ambiente virtual, caso de antirracista, sudestino, afrofuturismo, feminicídio, etarismo e negacionismo
“Elaboramos esquemas informativos e ilustrados explicando como a palavra era formada e a qual classe gramatical pertencia, exemplificando o seu uso em uma frase no contexto das redes sociais”, relata.
“Eles analisaram se elas permitiam a criação de outras palavras e quais significados poderiam ser atribuídos. A metodologia escolhida foi aula invertida, e eles montaram a análise das palavras que fizeram por meio de uma apresentação”, pontua.
“Para instigá-los, solicitei que eles pensassem em como explicar isso caso um aluno estrangeiro estivesse na classe. Quais informações são importantes para que esse estudante entendesse os processos de formação de palavras. Isso fez diferença na hora de mostrarem o que apreenderam”, assinala Pereira.
4) Criação de neologismos
No artigo “A língua que falamos – a criação do dicionário de neologismos da turma 104”, a mestre em linguística aplicada Mariana Backes Nunes propôs aos alunos do primeiro ano do ensino médio que inventassem palavras para, em seguida, analisarem suas estruturas e processos de formação.
Surgiram termos criativos, como: bolotinho (pão cacetinho doce com sementes), polvodátil (polvo pré-histórico), amícomaz (melhor amigo), coúcho (paixão recente), experança (perda das esperanças) e desbonito (pessoa que só parece bonita em fotos).
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Crédito da imagem: FG Trade – Getty Images