O teatro desempenha um papel singular na formação dos estudantes. Ao vivenciarem diferentes personagens, histórias e contextos, os alunos desenvolvem habilidades cognitivas, emocionais e sociais.

A apresentação é apenas uma parte da montagem cênica, que deve ser vista como um processo de aprendizagem, conforme aponta a professora de artes cênicas da rede municipal do Rio de Janeiro (RJ) Caroline da Silva Barbosa.

“Nos momentos da escolha do tema, das improvisações, da contextualização da história do teatro, da apreciação de artistas brasileiros e internacionais, serão experimentadas diferentes habilidades. Além disso, o objetivo do teatro na escola não é formar atores, mas trabalhar esta arte para a formação dos cidadãos”, justifica a docente.

Listamos abaixo 13 dicas para a criação de uma peça teatral junto aos alunos no contexto da rede pública. Confira.

1) Trabalhe habilidades diferentes em cada faixa etária

Em cada faixa etária, o trabalho com o teatro pode ter um foco específico ligado ao processo de desenvolvimento dos estudantes. “No ensino fundamental I, focamos na vivência, experimentação, imaginação e criatividade do estudante. Geralmente, trabalhamos com jogos dramáticos, que têm como foco a experimentação, sem regras rígidas”, descreve Barbosa. “Portanto, para esse grupo não é interessante produzir um trabalho fechado, com falas decoradas e marcações cênicas”, pondera a professora.

“Caso haja uma apresentação de estudantes do ensino fundamental I, proponho uma ‘aula aberta’, ou uma vivência cênica coletiva, na qual os responsáveis também podem participar”, acrescenta.

Já nos anos do ensino fundamental II e ensino médio, Barbosa conta que é possível experimentar os jogos teatrais e o próprio teatro, assim como contextualizá-lo e apreciá-lo. “O trabalho com a relação entre quem vê e quem assiste, ou seja, de atores e plateia, proporciona reflexões e aprendizagens coletivas”, diz.

2) Escute os alunos para a escolha do tema

Para Barbosa, a escolha do tema é um dos pontos que move o processo da montagem teatral.

“Em improvisações cênicas, nas quais os estudantes escolhem sobre o que falar, aparecem temáticas que poderão ser aprofundadas dentro de um processo de montagem teatral”, explica a professora.

“O caminho, portanto, não é ‘de fora para dentro’, mas das demandas surgidas em sala de aula. Nesse sentido, o diálogo também se torna fundamental para essa escolha”, complementa.

Ator, professor da rede municipal de Diadema (SP) e mestrando em educação, Vinicius Expedito Mena de Oliveira indica fazer rodas de conversa com os alunos. “As crianças trazem assuntos que elas gostam ou que estão em pauta. A gente escolhe o tema de forma democrática ou junta as temáticas que os alunos trazem”, compartilha o professor.

3) Improvisações ajudam na construção da dramaturgia

Jogos e improvisações ajudam os alunos a levantarem as cenas caso o texto criado seja coletivo. Porém, se a peça for uma adaptação, há ganhos em fazer jogos de improvisação com os alunos também.

“Costumo pegar uma página da dramaturgia já existente e experimentá-la, lendo de formas diferentes, com os alunos improvisando a partir da maneira que entenderam o texto”, conta Barbosa.

“Também sugiro improvisações que tenham como referências diferentes indutores, como música, imagem e poesia”, acrescenta.

4) Perguntas ajudam na construção de um texto coletivo

Depois de levantar as cenas por meio das improvisações, Oliveira indica trazer perguntas disparadoras para ajudar na construção da dramaturgia coletiva.

“Por exemplo, questiono em qual ambiente essa peça ou ação se passa; quais são os figurinos, objetos de cena que a gente pode levantar; qual o clímax, conflito e norte principal do enredo; o que que vai acontecer; se será drama ou comédia; qual o tom da peça, se é trágica, reflexiva etc.”, compartilha.

5) Use literatura e músicas para ajudar a entender o tema abordado

“O professor poderá trazer também outras referências, como dramaturgias que tenham ligação com esse tema, ou mesmo reportagens, imagens, poesias e músicas. Mas é importante pensar nessa escolha junto aos estudantes”, recomenda Barbosa.

6) Nem todos os alunos precisam atuar

“Observe o interesse dos estudantes e as funções nas quais eles se sentem mais confortáveis. Assim, em determinado momento do processo, caso seja do interesse do estudante, solicito que ele registre as cenas de forma escrita, da maneira como ele lembrar do que foi feito. Assim, o estudante assume a dramaturgia e vamos construindo a adaptação do texto ou o roteiro colaborativo”, compartilha a professora. O mesmo vale para outras funções dentro do trabalho teatral, como figurinista, cenógrafo, produtor etc.

7) Apresente o trabalho de outros atores

Além da experimentação a partir de jogos, trazer referências para os estudantes contribui bastante para a construção de personagens, como relata Barbosa.

“Busco sempre trazer imagens e gravações de montagens cênicas de grupos de teatro brasileiros e internacionais. Assim, fazemos a análise do trabalho de um ator ou uma atriz, percebemos de que forma vão construindo seus personagens e vamos tentando pensar de que forma a experiência deles poderia ajudar em nosso processo”, afirma.

8) Aquecimento para integrar

O aquecimento pode ser pensado para todo o grupo como forma de integrar o coletivo, ainda que nem todos estejam em cena como atores. “Se sinto o grupo disperso, penso em aquecimentos que trabalham a respiração e o olhar para si. Se vejo que eles necessitam de uma energia mais vibrante, busco algum jogo teatral ou mesmo brincadeiras que estimulem isso, como pique-parede”, indica Barbosa.

O aquecimento também ajuda a estimular a expressão corporal e vocal. “É importante que os estudantes estejam à vontade, e o trabalho com jogos é um grande aliado”, lembra a docente.

9) Faça a preparação corporal dos personagens

Com tema e personagens definidos, Oliveira sugere fazer uma brincadeira para a preparação corporal desses personagens. “Inicio a criação da personagem a partir do corpo. Proponho jogos com quatro elementos naturais da natureza – água, terra, fogo e ar. Eles vão experimentando as intensidades desses elementos no corpo”, diz.

O docente também traz jogos que apresentem velocidade e pausas, explorando diferentes níveis de ritmo que o nosso corpo pode atingir. “Isso ajuda que as crianças tenham mais propriedade nos movimentos e consigam se expressar por meio das suas intenções, que são necessárias para o personagem”, completa.

10) Solicite aos alunos que façam a gênese dos personagens

Fazer a gênese de um personagem significa desenvolver e explorar os elementos que compõem a identidade, história, motivações e características dele. “Ou seja, o aluno faz uma investigação pessoal sobre o que o personagem quer comunicar e responde qual o nome, idade, signo, profissão, onde mora, qualidades, defeitos etc.”, orienta Oliveira.

11) Escolha de cenário e figurino deve ter uma intenção

Infelizmente, nem sempre há verbas para figurino e cenário. “Encontramos alternativas junto aos próprios estudantes. É interessante pensar com eles na importância das cores, na mensagem que cada símbolo pode passar para o público e nos detalhes. Assim, vamos decidindo juntos e dentro das nossas possibilidades o conceito que queremos inserir nesses elementos cênicos, trazendo das nossas próprias casas objetos e figurinos a partir do conceito escolhido”, diz Barbosa.

Segundo a docente, também é importante trazer diferentes referências para os estudantes que forem responsáveis pelo cenário e figurino, como: imagens de peças teatrais, fotografias etc.

12) Não apresse o momento da apresentação

Apresentar à comunidade é um grande desafio, visto que é um momento em que os estudantes estão expostos aos olhares externos. “Muitas vezes, expomos os estudantes de forma equivocada, acelerando o processo. Leve a apresentação ao público somente se considerar que é um momento propício”, sugere Barbosa.

“Apresentar à comunidade escolar também exige parceria com outros profissionais da escola, para que seja possível mobilizar o público, organizar o espaço e fazer com que a experiência seja agradável para todo mundo”, acrescenta.

13) Envolva os alunos na comunicação da apresentação

A comunicação da apresentação dos alunos para a comunidade escolar também pode ser pensada pedagogicamente. “Pense sobre como comunicar a peça para diferentes públicos: será por convite, por redes sociais ou outra forma?”, questiona Oliveira.

Veja mais:

11 jogos teatrais educativos para realizar com os alunos

11 jogos do teatro do oprimido para aplicar em sala de aula

Alunos da rede pública usam teatro para debater relações raciais

Crédito da imagem: vgajic – Getty Images

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