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Depois de analisar os desafios das redes públicas com o ensino remoto, a Rede Pesquisa Solidária avalia os planos do Ministério da Educação e das redes públicas estaduais e municipais para o retorno às aulas presenciais ainda durante a pandemia de covid-19.

Neste podcast, as integrantes do estudo da Universidade de São Paulo Dara Pinto e Maíra Meyer avaliam alguns dos itens considerados de maior eficiência no combate à propagação do coronavírus na reabertura das escolas e os protocolos sanitários adotados. No áudio, elas citam pontos importantes que ficaram de fora dos planos de estados e municípios.

“É o caso de certos cuidados com a ventilação; uma testagem que poderia ser muito mais ativa e pra além de aferição de sintomas; uma distribuição de máscaras de maior qualidade, como a PFF2.”, afirma Meyer. “Grande parte do público infantil apresenta a contaminação assintomática. Por isso é muito importante a testagem nas escolas”, avalia Pinto, sobre um dos itens que não está sendo levado em consideração. “Só 8% das capitais e 7% dos Estados tinham realmente previsão de uma testagem mais ativa, ainda que por amostragem”, completa Meyer.

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Atualizado em 11/08/2021, às 12h27

Transcrição do Áudio

Música: “Trap Picaso”, com Verified Picasso

Dara Pinto:
Grande parte do público infantil apresenta a contaminação que é assintomática. Por isso é muito importante a testagem nas escolas. O meu nome é Dara Pinto, sou graduanda em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e atualmente sou pesquisadora da Rede de Pesquisa Solidária e Políticas Públicas e Sociedade.

Maíra Meyer:
Uma das coisas que a gente percebeu também foi que os protocolos (todos eles praticamente) previam compra de termômetros, por exemplo. É uma medida que a gente considera que não faz tanto sentido, porque você está aferindo só um sintoma possível e muitos casos nem apresentam sintoma. Eu sou Maíra Meyer, eu estou no último ano da graduação em ciências sociais na USP e faço parte da Rede de Pesquisa Solidária desde o começo deste ano.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Com o retorno às aulas presenciais em boa parte do país, como estão sendo tratados os protocolos sanitários em Estados e municípios? Análise realizada pela Rede de Pesquisa Solidária, demonstra que a maior parte das redes públicas brasileiras precisa de melhorias para garantir maior segurança de alunos e profissionais da educação.

Dara Pinto:
Nossa coleta de dados é feita por meio de documentos que são publicados pelas secretarias de Educação, tanto de Estados como dos municípios, especificamente das capitais, de divulgação dos protocolos sanitários. Gostaria de ressaltar que o nosso índice ele foi construído com base em recomendações de órgãos internacionais como: a OMS (Organização Mundial da Saúde) e algumas experiências de reabertura de outros países. A gente buscou avaliar oito categorias que são divididas entre medidas de média e alta complexidade. É importante entender que algumas medidas exigem um pouco mais de coordenação entre outras secretarias, além da Secretaria de Educação, então, por isso, a gente procurou dividir as nossas variáveis entre alta e média complexidade.

Marcelo Abud:
Em medidas de alta complexidade, alguns itens avaliados foram o uso de máscaras, a ventilação e a testagem.

Maíra Meyer:
E alguns aspectos muito importantes ficavam faltando, como é o caso de: certos cuidados com a ventilação; uma testagem que poderia ser muito mais ativa e pra além de aferição de sintomas; uma distribuição de máscaras de maior qualidade, como a PFF2; e também a divisão em bolhas das turmas, né?, não só o revezamento, mas um revezamento pensado de uma maneira inteligente pra realmente evitar o contato entre as turmas; e ter controle de quem tem contato com quem.

Marcelo Abud:
Na análise, o guia do MEC sobre o tema também foi comparado com os documentos de Estados e municípios.

Maíra Meyer:
Então, no nosso índice, o Governo Federal recebeu uma nota de 40,6, de 100, e as capitais receberam 47,9, de 100, e os Estados: 56,8, de 100. Então mesmo os Estados tendo ido melhor, ainda tem um grande espaço para melhorar até 100.

Marcelo Abud:
De acordo com a pesquisa, em geral, neste retorno às aulas, a testagem não foi considerada.

Dara Pinto:
A gente viu com experiências internacionais que a testagem ativa, fora de sintomas, apenas pra monitorar a situação epidemiológica, ela é muito importante pra contenção de surtos, pra contenção da progressão da contaminação. Porque uma criança, apesar de assintomática, ela pode sim ainda passar a ser o ente contaminador, né? Pouquíssimos protocolos, a minoria, colocou uma política mais eficaz, mas normalmente não há testagem ativa no sentido de testar toda a comunidade escolar.

Música: “Testando” (Ellen Oléria)
Teste, um, dois, três, testando

Maíra Meyer:
Então a gente viu que a grande maioria dos protocolos previam só o encaminhamento ou pra postos de saúde ou até só pra casa da pessoa, no caso de sintomas. E em muitos casos, ainda mais em crianças, como a Dara falou, nem apresentam sintomas e a gente teve só 8% das capitais e 7% dos Estados que tinham realmente previsão de uma testagem mais ativa, ainda que por amostragem, pra tentar dar conta de casos que pudessem estar contaminados sem sintomas.

Dara Pinto:
O Governo Federal no seu guia orientador de retorno às aulas presenciais não estabeleceu nenhum nível de obrigatoriedade ou recomendação em relação a testagem. Então ele leva nota zero nesse quesito, nessa categoria “testagem”, no nosso índice de retorno às aulas presenciais.

Marcelo Abud:
A utilização de máscaras de alta qualidade tem se mostrado comprovadamente como uma medida de grande efetividade na contenção do contágio por COVID-19. No entanto, este aspecto também tem sido negligenciado na reabertura para o ensino presencial.

Dara Pinto:
Cerca de um ano e alguns meses depois do início da pandemia no Brasil, alguns estudos relataram que as máscaras de tecido têm uma eficácia um pouco reduzida quando comparadas às máscaras PFF2 (conhecidas como N95), que possuem filtros. Elas dão um pouco mais de segurança tanto às crianças, aos profissionais de educação, que estarão em ambientes internos e em ambientes normalmente fechados. Ao longo desse tempo, os estudos demonstraram que as máscaras mais eficazes, mais efetivas na contenção da contaminação, são máscaras PFF2 e com filtro.

Música: “Dança da Máscara” (Sandra Perez / Paulo Tatit / Zé Tatit), Palavra Cantada
Máscara
Agora é máscara
Moda da máscara
Vamos dançar…
E esperar
Passar….

Dara Pinto:
A gente tem 8% das capitais e apenas 4% dos Estados realmente distribuindo máscaras de maior qualidade, ou seja, uma minoria. E é bastante importante que se pense uma maneira mais eficaz de distribuição, justamente para poder dar maior segurança às pessoas que voltarão ao ambiente escolar, aos jovens, às crianças e aos profissionais de educação, né?

Marcelo Abud:
O levantamento demonstra que a ampla ventilação dos ambientes não tem recebido a devida prioridade nos protocolos.

Maíra Meyer:
Na categoria de ventilação, a gente verificou se existia a obrigatoriedade de manter janelas abertas. Então no caso de uma sala de aula que não tivesse uma janela que pudesse ser aberta, isso, provavelmente, sendo imperativo no protocolo, teria que ser atendido. A gente também, em ventilação, viu questão de aulas em espaços abertos sempre que possível e, por fim, se existia algum monitoramento do nível de CO², se está acontecendo a ventilação correta. Esse ninguém atendeu: do monitoramento de CO², ninguém atendeu. E, pra isso, existe até uma máquina que inclusive é mais barato do que um termômetro, que poderia ter sido investido nisso.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
O estudo da Rede Pesquisa Solidária sobre os protocolos para o retorno às aulas está no final do texto que acompanha este áudio. Nele, fica evidente a falta de preocupação com medidas como a distribuição, ou mesmo conscientização para o uso de máscaras de maior qualidade, a testagem ativa nas escolas e a adequada ventilação dos ambientes em que as aulas acontecem.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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