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Um mapa interativo e digital com a história do bairro do Grajaú. Esta é a proposta do TCA (Trabalho Colaborativo de Autoria) realizado em 2019 e que terá continuidade neste ano na EMEF Padre José Pegoraro, localizada na zona sul de São Paulo.

O professor de língua portuguesa da escola, Diego Navarro, ouvido pelo Instituto Claro neste podcast, afirma que as atividades seguem o conceito de  cartografia afetiva.

Visita do Grupo de Meio Ambiente à Casa Ecoativa (crédito: divulgação)

 

“A ideia principal é que você consiga entender o território no qual você é sujeito, a partir das relações que você trava com ele. Entender o bairro não só como um pedaço do mapa, uma construção do estado, mas sim como um lugar com o qual você se relaciona, que te traz lembrança, memória, afeto mesmo”, explica.

Nesse sentido, a exploração dos trabalhos desenvolvidos em slams de poesia, centros culturais, coletivos de grafite, grupos de preservação do meio ambiente, espaços educativos, entre outros, contribuem para que os estudantes consigam enxergar o território para além daquilo que é posto e socializado na mídia.

“O Grajaú figura entre os piores índices de desenvolvimento. E, a partir do momento que os alunos têm contato com esses números, gera uma certa angústia e eles começam a falar “‘como mudar isso?’”, defende o professor de geografia, Carlos Amorim.

O trabalho foi idealizado após a revisitação do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, que valoriza a interdisciplinaridade. “Um país chamado Grajaú” busca dialogar também com um trabalho iniciado em 2013, intitulado: “Grajaú, onde minha história começa”.

A ideia central é a de ajudar na ressignificação da relação dos estudantes com o bairro, ajudando-os a entender o território como um espaço rico de histórias e personagens, em diferentes áreas de atuação, que ajudam a construir uma imagem mais ampla do bairro do Grajaú.

Visão geral do mapa interativo gerado pelos alunos do projeto “Um país chamado Grajaú”

 

Neste sentido, cada disciplina tem sua importância. No áudio, você acompanha ainda o depoimento da professora de ciências, Thabata Soares, que destaca um lado pouco conhecido da região: o da vasta área verde que ela compreende.

“A gente fez um tour também pelo bairro ali, conhecer um pouquinho da história da Ilha do Bororé, que fica tão próxima deles – dá para ir a pé da escola até lá – e que muitos alunos não conheciam, porque o trajeto deles era da escola pra casa, da casa pra escola. E aí eles conheceram locais que eram próximos e que eles não tinham contato, não tinham acesso, não tinham conhecimento mesmo.”

Para Navarro, os alunos passaram a ver o bairro para além do que é noticiado. “Hoje, eles se orgulham de ser moradores do Grajaú. Um depoimento importante de uma aluna nossa, que é a Maira, explica que ela parou de ver o bairro só no preto e no branco e começou a enxergá-lo em suas diferentes cores, pelo fato dos sujeitos se sentirem pertencentes àquele bairro e capazes de lutar para que esse bairro consiga melhorar”, conclui.

Em 2020, a proposta é ampliar o projeto e abranger todos os anos do fundamental II.

Links:
Site do projeto “Um país chamado Grajaú”
https://maphub.net/josepegoraro/Um-pais-chamado-Grajau
Podcast “Caps é espaço para discussão sobre cidadania na zona sul de São Paulo”, com a poeta Maria Vilani

Crédito das imagens principais: divulgação

Transcrição do áudio:

Música “Acorde”, de Poeta Márcio Ricardo e Gustavo Arrunjus, de fundo

Carlos Amorim:
O Grajaú figura entre os piores índices de desenvolvimento.

Marcelo Abud:
Carlos Amorim, professor de geografia da Escola Municipal Padre José Pegoraro.

Carlos Amorim:
E a partir do momento que os alunos têm contato com esses números gera uma certa angústia e eles começam a falar ‘como mudar isso?’.

Música “Acorde”, de Poeta Márcio Ricardo e Gustavo Arrunjus
“É, a vida nunca foi fácil…”

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Um mapa interativo e digital do Grajaú foi criado pelos alunos do 9º ano da Escola Municipal Padre José Pegoraro. A ideia é a de revelar um outro lado do bairro da zona sul de São Paulo, ao valorizar movimentos político-culturais, organizações sociais, lideranças da região e a defesa do meio ambiente. O Instituto Claro ouve alguns dos envolvidos no projeto “Um país chamado Grajaú”. Um deles, o professor de língua portuguesa, Diego Navarro, revela o ponto de partida da iniciativa.

Diego Navarro:
Em janeiro de 2018, um ex-aluno da escola faleceu, ele foi pegar um pipa na represa que a gente tem aqui muito perto da escola, que é a Billings, e ele acabou se afogando. Esse foi um momento decisivo pra gente falar “olha, nós precisamos deste projeto”. Era algo que já estava sendo gestado, mas, a partir disso, ele tomou uma forma mais bem definida, que a gente queria que os alunos entendessem o bairro em todas as suas potencialidades e não só como um lugar de perigo. Daí a necessidade de trabalhar tanto as coisas boas do bairro quanto aqueles problemas que também precisam ser solucionados.

Música: “Ainda há tempo” (Criollo)
“As pessoas não são más / Elas só estão perdidas / Ainda há tempo / Não quero ver você triste assim não / Que a minha música possa / Te levar amor”

Marcelo Abud:
Navarro afirma que o projeto trabalha com o conceito de cartografia afetiva.

Diego Navarro:
A ideia principal é que você consiga entender o território no qual você é sujeito a partir das relações que você trava com ele. Entender o bairro não só como um pedaço do mapa, uma construção do estado, mas sim como você se relaciona com aquele bairro, o que te traz de lembrança, o que te traz de história, de afeto mesmo.

Marcelo Abud:
Os estudantes foram estimulados a explorar o território, em busca de histórias e personagens, para se sentirem pertencentes à região em que vivem.

Diego Navarro:
O mapa é todo subsidiado pelo material de pesquisa desenvolvido pelos nossos alunos. Eles visitam o lugar, lá eles realizam a entrevista, a pesquisa, tiram fotos e, a partir disso, eles precisam montar o relatório. Esse relatório, às vezes, pode ter aspectos relacionados aos componentes curriculares, algo relativo à disciplina de história e de artes também, quanto, para você montar formalmente o relatório, você precisa desse conhecimento desenvolvido na disciplina de língua portuguesa, o desenvolvimento do texto, trabalhar especificamente com esse gênero. As disciplinas acabam se concatenando com o trabalho de maneira bastante orgânica.

Música: “Acorde” (Poeta Márcio Ricardo, Gustavo Arrunjus)
“Hipocrisia é falar e não fazer / Reclamar de quem se esforça numa luta pra aprender / Que o mundo gira / Então lute pra viver / Que a vida é um sopro / Então acorde e levante pra vencer”

Diego Navarro:
Pra dar um exemplo prático, a gente decidiu que ia visitar o Centro de Arte e Promoção Social do Grajaú, o Caps. Então, os alunos prepararam uma pauta de pesquisa e uma pauta de entrevista. Essa pesquisa realizada entra, de certa maneira, na disciplina de língua portuguesa, porque eles têm que montar um relatório de pesquisa, depois essa pauta passa por uma correção e discussão entre eles.

Marcelo Abud:
No final de 2017, o Instituto Claro entrevistou Maria Vilani, escritora importante do Grajaú e fundadora do Caps. Desde os anos 1990, o Centro de Arte e Promoção Social organiza rodas de conhecimento sobre questões que envolvem o cidadão em seu contexto sociocultural, político, psíquico e econômico.

Maria Vilani:
O Caps nasceu de uma forma muito espontânea. Ele não foi pensado. Nós começamos um trabalho com crianças, numa recreação infantil. A partir dessa recreação infantil, nós conhecemos as mães artesãs e a partir deste momento nós criamos uma oficina de artesanato. E, aí, a gente não tinha como vender esta arte que elas criavam. Então, nós começamos a trabalhar para ter uma feira no Grajaú, uma feira de artesanato. E aí nós começamos a chamar outros artesãos, outros artistas para fazer uma festa bonita e descobrimos que tinha artista demais no Grajaú. E aí nós resolvemos não só fazer a feira, mas sentar, elaborar um estatuto e criar um centro de arte. Foi espontâneo, aconteceu.

Música: “Bença Mãe” (Rael)
“É terra, semente, mãe do Sol nascente / É luz reluzente, vem curar minha mente, mãe / Faça dessa canção ritual / Que pros aflitos seja paz espiritual”

Diego Navarro:
Como a gente está em um território que, apesar de ser em São Paulo – uma metrópole – é uma área com uma riqueza muito grande vegetal, a disciplina de ciências foi importante para, em primeiro lugar, conseguir levar para eles aspectos mais teóricos sobre como é desenvolvida essa parte no território, para que, depois, quando eles participassem das visitas, explorações, eles soubessem como fazer uma análise dessa parte também.

Thabata Soares:
Eu sou a professora Thabata Soares Damasceno dos Santos, de ciências… Com o grupo de meio ambiente, a gente foi visitar a Casa Ecoativa, que é um espaço na Ilha do Bororé, bem próximo da escola, que, na verdade, não é uma ilha, é uma península, porque ela tem ligação ali com o continente. E eles fazem um trabalho muito legal com permacultura, agrofloresta, educação ambiental… E essa foi uma primeira visita em que eles conheceram o espaço, eles plantaram, fizeram roda de conversa.

A gente fez um tour também pelo bairro ali, conhecer um pouquinho da história da Ilha do Bororé, que fica tão próxima deles ali, da para ir a pé da escola até lá, e que muitos alunos não conheciam mesmo, porque o trajeto deles era da escola pra casa, da casa pra escola. E aí eles conheceram locais que eram próximos e que eles não tinham contato, não tinham acesso, não tinham conhecimento mesmo.

Marcelo Abud:
Diego Navarro avalia que, após um ano de projeto, os alunos hoje têm mais conhecimento social, histórico e cultural do bairro.

Diego Navarro:
Eles sabem problematizar as questões do bairro de maneira mais complexa, propor soluções para os problemas que encontraram, eles sabem quais são os problemas e o que seria preciso para solucioná-los e quais são as autoridades que eles precisam pressionar para solucionar esses problemas.

Outra coisa importante eu acho que é não enxergar só o bairro como um lugar perigoso, que é muito construído pelo próprio senso comum, pelas condições materiais e as contradições sociais que estão expostas no bairro o tempo inteiro. Então, hoje, eles se orgulham de ser moradores do Grajaú. Um depoimento importante de uma aluna nossa, que é a Maira, de que ela parou de ver o bairro só no preto e no branco e começa a enxergar o bairro em suas diferentes cores, pelo fato dos sujeitos se sentirem pertencentes àquele bairro e capazes de lutar para que esse bairro consiga melhorar.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Para conhecer melhor o projeto e ter acesso ao mapa interativo e digital do bairro, procure na internet por “Um país chamado Grajaú”.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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