Ouça também em: Ouvir no Claro Música Ouvir no Spotify Ouvir no Google Podcasts Assina RSS de Podcasts

Os jogos olímpicos se aproximam, e com eles aumenta o interesse de estudantes pelas atitudes desportivas atreladas ao desenvolvimento físico e pelos valores olímpicos. O momento é oportuno para trabalhar o conceito de olimpismo nas aulas de educação física.

“O olimpismo é uma forma de entender o esporte além do rendimento, do resultado, identificar o potencial educativo que o esporte tem e, por meio do esporte, educar, construir valores, conceitos que possibilitem a união entre os povos, o respeito às diferenças, inserção do aluno que está desenvolvendo aquele conteúdo de uma forma mais justa, mais respeitosa dentro da sociedade”, afirma o professor de educação física da Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista, em Campo Grande (MS), Leonardo Liziero.

Entrevistado neste episódio, o educador explica que o olimpismo é baseado em valores imaginados pelo historiador francês Pierre de Coubertein, idealizador dos jogos olímpicos modernos – a partir de 1894.

“A excelência, que é fazer o melhor, independente do resultado ou independente da comparação com o outro; a amizade, que possibilita você interagir na diferença, respeitando o outro da melhor forma possível; e o terceiro valor: o respeito, que é aquele que move essa vida social, essa vida em sociedade e comunidade, na qual as diferenças estão presentes”, explica Liziero.

olimpismo-jogos-escola-educação-física
Alunos participam de jogos realizados na escola (crédito: acervo professor Leonardo Liziero / Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista)

Olimpismo na educação física

Incentivado pela coordenadora de educação física da escola, Rosimeire da Conceição, o Liziero coloca em prática, desde 2012, um plano de ensino com foco no olimpismo para turmas dos anos iniciais do ensino fundamental. No áudio, Liziero compartilha o passo a passo da trilha pedagógica que segue na escola, que, segundo ele, tem como ponto alto o momento em que o conceito é efetivamente colocado em prática.

“A gente teve uma aplicação, um fechamento com esses jogos olímpicos acontecendo na escola, envolvendo todas as turmas, todos os professores, com cerimônia de abertura, com a tocha olímpica, apresentação cultural e depois a vivência dos jogos”, detalha o professor.

Percorrendo as etapas do planejamento, os alunos conhecem os jogos olímpicos, sua origem e valores propagados, correlacionam esses valores – excelência, amizade e respeito – com as atitudes necessárias no cotidiano e desenvolvem seu repertório motor por meio da vivência de diversas modalidades esportivas olímpicas – individuais e coletivas.

“Ao trabalhar nesses valores com as crianças, elas já exercitam eles no próprio dia a dia delas, de forma que elas levem para a vida reflexões do que elas estão fazendo, se aquilo é legal ou não, os impactos que isso vai gerar na vida delas, além do muro da escola”, enfatiza Conceição.

Veja mais:

11 dicas para organizar uma olimpíada ou evento recreativo na escola

Crédito da imagem: acervo do professor Leonardo Liziero – Escola Municipal em Tempo Integral Professora Ana Lucia de Oliveira Batista

Transcrição do Áudio

Música: “Airborne”, de Quincas Moreira, fica de fundo

Leonardo Liziero:

O olimpismo é uma forma de entender o esporte além do rendimento, do resultado, identificar o potencial educativo que o esporte tem e, por meio do esporte, educar, construir valores, conceitos que possibilitem a união entre os povos, o respeito às diferenças, inserção do aluno que está desenvolvendo aquele conteúdo de uma forma mais justa, mais respeitosa dentro da sociedade. Então, o olimpismo tem esse caráter.

Eu sou o Leonardo Liziero, professor de educação física numa escola de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, chamada “Professora Ana Lúcia de Oliveira Batista”, uma escola em tempo integral, e a gente trabalha com a faixa etária aqui na escola, da educação infantil até o quinto ano do ensino fundamental.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Marcelo Abud:

Os jogos olímpicos modernos foram idealizados pelo Barão Pierre de Coubertein. O historiador francês se inspira em escavações arqueológicas realizadas em Olímpia, na Grécia, para a criação do Comitê Olímpico Internacional, o COI, em 1894. Para Coubertin, os jogos olímpicos estimulariam a amizade por meio da convivência mútua. Essa é a base do olimpismo.

Leonardo Liziero:

E ele se apresenta com três valores, três pilares essenciais, né, que é a excelência, que é fazer o melhor, independente do resultado ou independente da comparação com o outro; a amizade, que possibilita você interagir na diferença com outro, respeitando o outro da melhor forma possível; e o terceiro valor: o respeito, que é aquele que move essa vida social, essa vida em sociedade e comunidade, na qual as diferenças, elas estão presentes. Isso é um fator positivo e que a gente precisa respeitar essas diferenças e construir relações que sejam saudáveis dentro dessa diferença.

É óbvio o ganhar, ele é legal, ele é importante. Todo mundo vibrava, torcia pela vitória naquele momento do jogo, porém todos compreendiam, né, o processo de respeito àquele que não tinha vencido o jogo, então, foi muito legal. E, sim, é possível trabalhar em todas as faixas etárias, e a gente busca fazer esse trabalho aqui na escola de uma forma articulada.

Marcelo Abud:

Em anos olímpicos, o professor mobiliza todos da comunidade escolar para a participação em atividades envolvendo a essência do olimpismo.

Leonardo Liziero:

Trabalhando com olimpismo, com jogos olímpicos dentro da educação física escolar, em um primeiro momento, a gente usou até um desenho clássico do Pateta nos jogos olímpicos. Ele é divertido, ele é engraçado, apresenta muitos elementos ali dos jogos olímpicos clássicos, né, da origem dos jogos olímpicos, pra ter esse despertamento. E fiz uma roda de conversa sobre os elementos que estavam ali presentes, falando um pouco do que eram esses jogos olímpicos, esse contexto inclusive religioso, sagrado, para aquele povo, e as coisas que aconteciam, como parar tudo que estava acontecendo, com o objetivo de todo mundo estar envolvido nesses jogos. E também as modalidades que nele aparece, vinculadas em especial ao atletismo, provas de campo, né, e provas de pista, de corrida, e as lutas.

Marcelo Abud:

Após esse primeiro contato com o tema, nas aulas de educação física, estudantes participam de vivências envolvendo essas modalidades, antes de serem estimulados a outras reflexões.

Leonardo Liziero:

Num terceiro momento, nós assistimos um outro vídeo, que é um documentário que pegaram atletas contemporâneos e eles fizeram uma simulação, uma representação desses jogos clássicos, como acontecia naquele contexto originário. Quando a gente discutiu ali aspectos culturais que estavam presentes no vídeo, levantando ali essa questão. E depois nós fizemos uma pesquisa, a gente produziu um texto adequado ali para os alunos, sintético, para que eles pudessem fazer uma pesquisa sobre modalidades, sobre algumas questões do olimpismo.

Marcelo Abud:

O próximo passo foi fazer com que a turma se aprofundasse tanto nessas modalidades clássicas como naquelas que foram sendo acrescentadas ao longo das edições dos jogos.

Leonardo Liziero:

Daí nós fizemos vivências das modalidades presentes nos jogos olímpicos atuais. Então, esportes coletivos – futebol, basquete, handebol – e também as provas individuais de luta e de atletismo. E fizemos também o varal de modalidades. Toda a olimpíada lança pictogramas das modalidades. A gente utilizou desses pictogramas junto com a definição e o nome da modalidade, e os alunos faziam como se fosse um quebra-cabeça de montar a modalidade, com a imagem, o nome da modalidade e uma definição. E depois foi confeccionado um mural com todas essas modalidades, que ficava disponível visualmente para os alunos.

Marcelo Abud:

O ponto alto da trilha pedagógica da escola envolvendo olimpismo é quando os valores são colocados em prática.

Leonardo Liziero:

A gente teve uma aplicação, uma culminância, né, um fechamento com esses jogos olímpicos acontecendo na escola, envolvendo todas as turmas, todos os professores, com cerimônia de abertura, com a tocha olímpica, apresentação cultural e depois a vivência, né, dos jogos. A gente conseguiu, nesse contexto, medalhas para entregar para os alunos e também certificados.

O foco não era no desempenho específico da modalidade. Quem venceu, né, ou deixou de vencer a modalidade, mas sim o processo. Os alunos que estavam envolvidos, que estavam engajados, que estavam interessados, buscando também os valores que superam o rendimento simplesmente.

Marcelo Abud:

A coordenadora em educação física da escola em que Liziero trabalha, Rosimeire da Conceição Pereira França, comenta os resultados desse tipo de atividade com as turmas.

Rosimeire da Conceição:

Acho que o maior impacto assim é de ele estar, de cada criança que vivenciou todo esse processo, né, perceber a questão da teoria e prática de tudo que ele vivenciou com o professor ali, que ele está aplicando, né? Eu participei de um evento, de uma olimpíada, eu dei o meu melhor, eu respeitei meus colegas.

E quando a gente faz esses movimentos aqui na escola, são sentimentos e emoções que duram um período muito grande e que eles estão sempre, assim, puxando. Então, é uma forma assim que a gente vê no dia a dia todos os impactos dessas vivências.

Leonardo Liziero:

E o impacto que causa, né? Eu lembro de um aluno especificamente que tinha muita dificuldade nas relações sociais dentro da escola. E esse conteúdo a gente trabalhou no primeiro bimestre, naquele período. A diferença que causou essas vivências que a educação física oferece atrelado a esse emocional durante o jogo, atrelado a essas reflexões que acontecem nas rodas de conversa, tudo isso gerou um impacto muito legal para ele, que possibilitou identificar uma transformação muito grande no aluno. Isso eu estou falando de um aluno como uma alteração comportamental muito grande, que dava muito trabalho, terminou o ano muito bem. E isso é muito, muito legal, muito significativo.

Rosimeire de Conceição:

Ao a gente trabalhar nesses valores com as crianças, elas já exercitam eles no próprio dia a dia delas, de forma assim que eles levem para a vida deles reflexões do que eles estão fazendo, se aquilo é legal ou não é legal, os impactos que isso vai gerar na vida deles além do muro da escola.

Música: “Airborne”, de Quincas Moreira, fica de fundo

Marcelo Abud:

Ao se trabalhar o olimpismo na escola, a proposta é que estudantes reflitam criticamente sobre os valores do esporte para o convívio coletivo. Dessa forma, compreendem que seus atos podem influenciar o ambiente e a sociedade em que vivem.

Marcelo Abud para o podcast de Educação do Instituto Claro.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.