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O método científico de Leonardo Da Vinci é composto pelo uso da experiência para comprovar uma ideia. Essa é a base da ciência até hoje.

“Muito do que se faz atualmente é também com base experimental. Os estudiosos, como eu, têm tido a convicção de que você só faz uma experiência — seja em laboratório, seja no campo — se já tem algo em mente. Ou seja, primeiro vem a ideia e, depois, a execução ou diversas execuções. O Leonardo é um bom exemplo disso. Ele tinha a intuição do que ele queria demonstrar e aí partia para a experiência. Então, ciências experimentais acabam usando esse método”, define o professor titular de história da ciência da Universidade de São Paulo (USP), Gildo Magalhães. 

Da Vinci (1452 – 1519) é tido como o gênio do Renascimento por ter se destacado em estudos de diversas áreas. Além do artista que ficou conhecido por um dos quadros mais famosos do mundo, a pintura de Monalisa, foi também engenheiro, arquiteto, músico e, entre outras atividades, um dos grandes idealizadores de máquinas modernas. Tudo isso, apesar de não ser propriamente um matemático. 

“Ele mesmo não tinha essa formação matemática, ele tinha muito mais era uma intuição geométrica dos estudos que  fazia envolvendo a parte de dinâmica aérea e as pesquisas dele sobre o voo”, exemplifica Magalhães.

Da Vinci na sala de aula

No podcast, além de analisar como os cadernos de desenho e a obra artística do italiano contribuíram para a ciência, o diretor do Centro Interunidades de História da Ciência da USP também apresenta ideias que podem inspirar atividades na sala de aula. 

No áudio, você acompanha também a participação do professor do Laboratório de Criação Visual da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Marcos Danhoni. Ele traz uma proposta de abordagem interdisciplinar dos muitos mundos de Leonardo Da Vinci e dá exemplos de como trabalhar as diferentes facetas do artista e cientista na escola. 

“A gente desenvolve trabalhos como a construção de asas, tudo em pequena escala; a construção de máquinas e, também, o estudo anatômico, envolvendo aí os alunos seja de biologia, seja de artes visuais”, explica.

Atividades aliando o raciocínio de Leonardo da Vinci a partir de desenhos e pinturas permitem a estudantes a percepção de uma ciência empírica, englobando observação da natureza, raciocínio lógico e intuição matemática, características dos principais métodos científicos até hoje.

Transcrição do Áudio

Música: introdução instrumental de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Gildo Magalhães:

Muito do que se faz hoje é também com base experimental. Os estudiosos, como eu, têm tido a convicção de que você só faz uma experiência — seja em laboratório, seja no campo — se você já tem algo em mente. Ou seja, primeiro vem a ideia e, depois, a execução ou diversas execuções. 

O Leonardo é um bom exemplo disso. Ele tinha a intuição do que ele queria demonstrar e aí partia para a experiência. Então, ciências experimentais acabam usando esse método. 

Meu nome é Gildo Magalhães, sou professor titular de história da ciência na USP. 

Vinheta: Instituto Claro — Educação

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:

Engenheiro, arquiteto, artista… De meados do século XV ao início do século XVI, a genialidade do italiano Leonardo da Vinci é reconhecida em diversas áreas. Neste episódio, você conhecerá um pouco mais das vertentes do também inventor e cientista. Nos cadernos que deixou, apesar de não ter formação em matemática, percebe-se o espírito geométrico.

Gildo Magalhães:

Ele não precisava por em equações o que estava estudando porque ele intuía o comportamento, vamos dizer, global. Isso está assinalado também num escrito dele que é sobre pintura, que ele diz que quem não souber matemática, não pode ser pintor. Mas ele mesmo não tinha essa formação matemática, ele tinha muito mais era uma intuição geométrica dos estudos que ele fazia envolvendo a parte de dinâmica aérea, né, as pesquisas dele sobre o voo. 

Marcelo Abud:

Entre as experiências registradas por Da Vinci em cadernos, Magalhães destaca a de fluxo de água. 

Gildo Magalhães:

Colocando, por exemplo, um balde cheio de furos, ele ia vendo até onde que a água enchia o balde e, dependendo da altura do furo, até onde que a água caminhava pelo furo até atingir o chão. Isso ele registrou com bastante cuidado e hoje chamaríamos isso de método experimental. 

Ele não foi a primeira pessoa a fazer isso — acho que aí há um exagero — muitos outros fizeram experiências antes dele, na Idade Média. Isso para não citar na antiguidade pessoas como Archimedes. 

Marcelo Abud:

O professor analisa que os desenhos ligados à física ou engenharia são muito esquemáticos. Já na parte de anatomia, a arte foi uma aliada da ciência. 

Gildo Magalhães:

Ele é famoso por fazer desenhos dos órgãos internos, provavelmente dissecava cadáveres e estudava eles minuciosamente, aí os desenhos já têm uma qualidade muito grande: dos detalhes que ele coloca, como, por exemplo, de um feto dentro do útero, e muitos outros desenhos que ele fez do olho e dos ossos revelam que nessa parte de anatomia, ele tinha usado todo o arsenal dele como pintor, artista, desenhista. 

Marcelo Abud:

Da Vinci também ficou conhecido pelas experiências em relação ao voo. 

Gildo Magalhães:

Ele estudou muito o formato das asas e como era o desempenho das aves durante o voo e tentou imaginar como fazer isto com o ser humano. Deixou vários desenhos a esse respeito. E, mais recentemente, em Milão, houve uma reconstrução desses desenhos na forma de modelos que provaram que ele estava indo no caminho certo. E tudo isso ele intuiu. 

Marcelo Abud:

O professor do Laboratório de Criação Visual da Universidade Estadual de Maringá, Marcos Danhoni, relata alguns trabalhos que podem ser desenvolvidos na escola de forma interdisciplinar, levando-se em conta as diferentes facetas de Leonardo Da Vinci. 

Marcos Danhoni:

A gente desenvolve trabalhos como a construção de asas, tudo em pequena escala; a construção de máquinas e, também, o estudo anatômico, envolvendo aí os alunos seja de biologia, seja de artes visuais. Construímos também aquelas pontes de madeira — também sempre em pequena escala, microescala — onde não é necessário nenhum tipo de amarração com cordas ou aparafusamentos, para mostrar outro lado de Leonardo dentre todas as visões que a gente já trabalhou aqui: anatomia, voo, movimento, queda acelerada e, também, a questão da arquitetura.

Gildo Magalhães:

Eu acho que daria para fazer coisas e nem precisariam ser tão rebuscadas assim, exigir tanto aparelhamento como, por exemplo, o escafandro. Nós podemos fazer coisas parecidas, porque elas já existem inclusive na atualidade, para você conseguir respirar estando dentro d’água, comunicando com um tubo de ar. 

As pessoas poderiam ligar essas banalidades, porque são muito comuns, com a parte histórica. Aí, sim, valeria a pena pesquisar. Seria importante, então, mostrar para os alunos do ensino médio alguma coisa desses cadernos do Leonardo. 

Marcelo Abud: 

A união entre a arte e a ciência inspirada nos muitos mundos de Leonardo Da Vinci pode ainda gerar uma observação interessante, a partir do quadro mais famoso do italiano. Magalhães propõe um exercício para que se vejam outras mensagens por trás do sorriso de Monalisa. 

Gildo Magalhães:

Tem, eu diria, uma espécie de mensagem secreta, porque atrás da Monalisa existe água e a água está em dois níveis. De um lado, olhando para tela o lado direito, a água está em um nível elevado e, do lado esquerdo, esta água está num nível bem mais baixo. 

A gente não sabe o que se passa, porque a cabeça da Monalisa esconde essa transição. Mas fica dito nessa mensagem dele que a passagem da água pelos dois níveis seria possível de duas maneiras: ou ali há uma cachoeira, lá atrás da cabeça, que a gente não vê, mas, se houvesse uma cachoeira a água do lado de baixo estaria mais turbulenta. Então a outra hipótese é que lá atrás haja uma represa, uma barragem. E por que a barragem se esconde atrás da cabeça? É como se o Leonardo quisesse nos dizer ‘fazer barragem é um exercício intelectual’. Claro que tem uma parte manual, física, né, mas você tem que conceber a barragem. E onde você concebe a barragem? É no cérebro, é na sua cabeça. 

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:

Para Gildo Magalhães, estudar as obras e os desenhos deixados em cadernos por Leonardo Da Vinci é uma forma de demonstrar o método científico de Da Vinci. Diferentemente do senso comum de que o cientista descobre algo ao fazer uma experiência, o professor explica que, em geral, a experiência é a forma de confirmar e validar as ideias geradas na mente de cientistas e inventores.

Marcelo Abud para o podcast de educação do Instituto Claro.  

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