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O livro “Pipo e Lila ajudando as crianças num momento difícil – Quando a chuva passar” foi desenvolvido para trabalhar as emoções de estudantes da educação infantil e do ensino fundamental diante da catástrofe que atinge o Rio Grande do Sul desde abril.

“As nossas histórias terapêuticas, elas sempre têm começo, meio e fim. O começo sempre é dentro da situação disfuncional que a criança está vivendo; o meio, a gente vai encontrando formas de resolver as situações; e no final sempre é um final feliz”, explica a psicóloga clínica e doutora em ciências da saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ana Lúcia Castello.

Junto com a também psicóloga clínica Fabiana Brandão, Castello se baseia em técnicas da terapia Eye Movement Dessensitization and Reprocessing (EMDR), que em português significa Dessensibilização e Reprocessamento por meio de Movimentos Oculares. Na história, Pipo e Lila entram em contato com essa abordagem terapêutica e aprendem a controlar o estresse e a ansiedade associados a eventos traumáticos. O livro gratuito pode ser baixado nesse link.

Desenhos, respiração e o “abraço da borboleta”

Na entrevista a este episódio do Livro Aberto, as autoras compartilham os recursos que ajudam as crianças a lidarem com tragédias. Fabiana Brandão destaca a importância do estímulo ao desenho. “Ele vem como a forma da criança representar a imagem mental do que ela viveu. Mesmo as que já têm a fala – as que não têm, [o livro] vai ajudar a representar e ressignificar aquela situação vivida -, elas vão poder deixar no concreto [os acontecimentos], e isso vai trazer mais confiança para ela na possibilidade da mudança, para internalizar bem, instalar essa situação positiva de futuro”, explica.

A respiração é outra forma de controlar melhor as emoções. Nesse podcast, Brandão lê um trecho do livro com um exercício para ajudar a controlar as emoções.

“Muitas pessoas quiseram nos ajudar e uma profissional me ensinou uma maneira de eu poder acalmar meus pensamentos e as minhas emoções. Me ensinou uma maneira de respirar importante: Inspira contando 4 tempos. Segure o ar contando 4 tempos Expira contando 8 tempos Solta o ar completo contando 4 tempos”, diz um trecho do livro. O termo “tempos” se refere a segundos.

Castello cita ainda o chamado “abraço da borboleta”, idealizado pelos terapeutas mexicanos Ignacio Jarero e Lucina Artigas, quando o furacão Paulínia atingiu aquele país em 2008.

“E a doutora Lucina estava atendendo as crianças, e fazer estimulação bilateral com as crianças estava sendo muito difícil. Então ela pedia às crianças para colocarem as duas mãos na frente do peito e golpearem lentamente um lado e outro, com objetivo de fazer a estimulação bilateral cerebral. Ela mostrava como se as mãos ficassem similares às asas de uma borboleta. Por isso que a técnica se chama ‘o abraço da borboleta’”, detalha a terapeuta.

O livro foi imaginado para as psicólogas e autoras utilizarem em escolas do Rio Grande do Sul, mas elas ressaltam que a obra pode ser importante para qualquer criança. “As crianças também podem desenvolver esse tipo de trauma por ouvirem tanto o que está acontecendo, por verem muitas imagens nas TVs, então poderia ajudar bastante as crianças de uma maneira geral”, esclarece Castello.

Crédito da imagem: ilustração de Durvally Nicoletti e Bruna Nicoletti

Transcrição do Áudio

Música: “Rainbow Forest”, de Quincas Moreira, fica de fundo

Ana Lúcia Castello:

A história, na terapia com crianças, ela é muito importante. Porque essas narrativas em histórias, elas ajudam a criança a entender o mundo para que possa se tornar psicologicamente integrada. Assim, a partir dos cinco anos, a criança já é capaz de gerar suas próprias histórias, suas próprias narrativas, e elas entendem o que esperam.

As nossas histórias terapêuticas, elas sempre têm começo, meio e fim. O começo sempre é dentro da situação disfuncional que a criança está vivendo; o meio, a gente vai encontrando formas de resolver as situações; e no final sempre é um final feliz.

Sou Ana Lúcia Castello, sou psicóloga clínica, trainer em EMDR – a sigla significa Dessensibilização e Reprocessamento por meio de Movimentos Oculares. É uma terapia de reprocessamento cerebral muito usada em ajuda humanitária. E estamos aqui no SOS Borboleta para o Rio Grande do Sul.

Vinheta: Livro Aberto – Obras e autores que fazem história

Música: “Toy Piano”, de Wayne Jones, fica de fundo

Marcelo Abud:

Pipo e Lila fazem parte de histórias terapêuticas criadas pelas psicólogas Ana Lúcia Castello e Fabiana Brandão. Desta vez, as personagens aparecem no livro “Pipo e Lila ajudando as crianças num momento difícil – Quando a chuva passar”. Castello explica a motivação para a criação da obra, que está disponível online e sem custo.

Ana Lúcia Castello:

Crianças que passaram por um momento muito ruim, que foi quando a chuva veio de uma maneira que ninguém conseguiu conter, então é um desastre natural, contado em história, para que a criança sinta o peso da história e como fazer para que isso fique um pouco mais leve, principalmente no cérebro dela.

Marcelo Abud:

Na história, Pipo e Lila vão entrar em contato com técnicas do EMDR, uma abordagem terapêutica para o tratamento do estresse e da ansiedade associados a eventos traumáticos.

Ana Lúcia Castello:

No EMDR, nós fazemos uma estimulação bilateral, inicialmente visual. Hoje a gente utiliza também uma estimulação tátil e temos outros tipos de estimulações que nós ensinamos para os pacientes, para eles se autorregularem e reprocessarem os seus traumas.

Marcelo Abud:

Para desenvolver os livros terapêuticos, Ana Lúcia Castello conta com a parceria da terapeuta pela Associação Brasileira de EMDR, Fabiana Brandão. A psicóloga clínica explica um dos recursos com os quais Pipo e Lila tomam contato em “Quando a chuva passar”.

​ ​Fabiana Brandão:

O desenho, ele vem como a forma da criança representar a imagem mental do que ela viveu. Mesmo as que já têm a fala, – as que não têm, vai ajudar a representar e ressignificar aquela situação vivida – e mesmo as que falam, ela vai poder deixar no concreto, e isso vai trazer mais confiança para ela na possibilidade da mudança, para internalizar bem, instalar essa situação positiva de futuro.

Marcelo Abud:

Os espaços para os desenhos no livro convidam as crianças a expressarem o que estão sentindo. A proposta é que comecem representando os momentos ruins e, ao longo da história, com ajuda de recursos terapêuticos, encontrem saídas para os traumas. Brandão lê um trecho do livro.

Som de página de livro sendo virada

Fabiana Brandão:

Muitas pessoas quiseram nos ajudar, e uma profissional me ensinou uma maneira de eu poder acalmar meus pensamentos e as minhas emoções. Me ensinou uma maneira de respirar importante: inspira contando 4 tempos, segura o ar contando 4 tempos, expira contando 8 tempos e solta o ar contando 8 tempos.

Som de página de livro sendo virada

Fabiana Brandão:

Isso ativa o nosso sistema parassimpático, que é o que faz o contrário do simpático, que é o que faz a gente ficar mais ansioso. O importante é que esses dois sistemas estejam em harmonia, né? Quando um está de mais, você vai ter o coração acelerado, a respiração acelerada, isso é desagradável. Aí você consegue regular com a respiração, a criança saber disso, ela se empodera, né? Se eu me sentir mal, eu sei o que é que eu posso fazer para me controlar.

Marcelo Abud:

Para ajudar a controlar as emoções, Pipo e Lila também conhecem uma técnica que foi desenvolvida pelos terapeutas de EMDR Lucina Artigas e Ignacio Jarero diante do furacão Paulínia, no México, em 2008: o “abraço da borboleta”.

Ana Lúcia Castello:

E a doutora Lucina estava atendendo as crianças, e fazer estimulação bilateral com as crianças estava sendo muito difícil. Então ela pedia às crianças para colocarem as duas mãos na frente do peito e golpearem lentamente um lado e outro, com objetivo de fazer a estimulação bilateral cerebral. Ela mostrava como se as mãos ficassem similares às asas de uma borboleta. Por isso que a técnica se chama “abraço da borboleta”.

Marcelo Abud:

Castello lê o trecho em que esse recurso é apresentado às crianças no livro.

Som de página sendo virada

Ana Lúcia Castello:

Essa profissional também ensinou a mim e aos meus amigos uma técnica que pode ajudar a mudar os pensamentos, as emoções e as sensações corporais ruins que aparecem nesse momento, que é o abraço da borboleta. Então a gente pede pra que a criança desenhe, ele fazendo o “abraço da borboleta”.

Som de página sendo virada

Ana Lúcia Castello:

O “abraço da borboleta” é uma das técnicas de estimulação bilateral utilizadas no mundo inteiro. Hoje nós temos vários psicólogos nessas frentes de catástrofes trabalhando, e a maior parte deles utilizando o “abraço da borboleta”.

Marcelo Abud:

A história terapêutica vivida por Pipo e Lila começa com o trauma diante de uma chuva sem precedentes, passa por meios de ressignificar o que estão sentindo e evolui para um final feliz.

Fabiana Brandão:

Depois, na próxima página, está o pipo e a Lila, e os amigos falando: “Pensei em tudo o que aconteceu e me dei um abraço bem forte. Abracei meus amigos. Abraços sempre me fazem sentir bem e pensar em coisas positivas. Fui lembrando que agora estava seguro, que podia me sentir alegre. Comecei a me sentir em segurança, meu corpo ficou tranquilo e senti um calor gostoso no coração”.

Som de página de livro sendo virada

Marcelo Abud:

Ana Lúcia Castello afirma que a história pode servir também para crianças que não estejam diretamente ligadas à região da catástrofe.

Ana Lúcia Castello:

As crianças também podem desenvolver esse tipo de trauma por ouvirem tanto o que está acontecendo, por verem muitas imagens nas TVs, então poderia ajudar bastante as crianças de uma maneira geral. Os próprios pais contarem as histórias para ressignificar na psiquê da criança, né, tudo aquilo que está acontecendo, porque essas crianças que somente viram as imagens, elas trazem um nível de estresse um pouco menor do que aquelas que vivenciaram, então eu acho que ajudaria bastante.

Música: “Rainbow Forest”, de Quincas Moreira, fica de fundo

Marcelo Abud:

O livro “Pipo e Lila ajudando as crianças num momento difícil – Quando a chuva passar” termina com as crianças lembrando das chuvas do passado que foram boas e que colorem o céu com um arco-íris.

A obra online foi disponibilizada pelas autoras e você pode baixar no link que está no texto que acompanha esse episódio no site do Instituto Claro.

Marcelo Abud para o Livro Aberto do Instituto Claro.

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