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A “Geração Whatsapp” é caracterizada por um perfil de pessoas que lidam cada vez mais com aplicativos e parecem ter tudo à distância de um único clique. A definição é do professor do Centro Universitário Faap Eric Messa, a partir de estudos como coordenador do Núcleo de Inovação em Mídia Digital da mesma instituição.

“Junto disso, vou adicionar inclusive um período que foi importante na vida dessas pessoas de isolamento social forçado. Eu entendo que hoje a gente começa a perceber um perfil de pessoas que tem falta de uma habilidade interpessoal, principalmente na questão do convívio social”, afirma.

O pesquisador analisa que quando estão reunidas num mesmo espaço, sentem desconforto com a presença física do outro e não conseguem começar uma conversa espontaneamente. “São pessoas que inclusive, muitas vezes, preferem muito mais estarem sozinhas do que num ambiente público. Então têm dificuldade de se relacionar socialmente”, explica o professor.

“Geração WhatsApp na escola

Pensando no ambiente escolar, em que a educação é considerada um espaço de relação social fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, Messa aponta as dificuldades a serem enfrentadas.

“Quando são obrigadas a criar esse relacionamento, se relacionam de maneira muito fria, distante, com conversas curtas, feitas de breves diálogos, e, inclusive, já vi situações de pessoas sendo às vezes grossas e ríspidas por conta mesmo dessa dificuldade de saber lidar com outras pessoas”, analisa.

Diante do desconforto que crianças e jovens têm em se relacionar, os professores podem agir para melhorar o ambiente e estimular o trabalho coletivo.

“Ter um professor que tenha um papel ativo nessa organização de grupo, e aí existem diversas estratégias de se organizar um grupo, mas que seja, de novo, pelo interesse. Pedir para que cada um fale um tema de interesse e perceber que algumas pessoas têm o mesmo interesse, e agrupá-las então dessa maneira”, conclui Messa.

Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo.

Eric Messa:

“Geração WhatsApp” foi um termo mais informal e ilustrativo que eu quis dar para um perfil de pessoas – que é crescente, né? – que a gente vem identificando que estão cada vez mais lidando com aplicativos, que desde a sua infância tiveram tudo muito on demand, usando ferramentas mais de streaming por exemplo. Então são pessoas que têm tudo à distância de um único clique.

Eu sou Eric Messa, coordenador de uma área aqui na Faap, que é o Núcleo de Inovação em Mídia Digital.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo.

Marcelo Abud:

No dia a dia, muitos adolescentes e jovens passaram a ter à disposição conteúdos e aplicativos que atendem às suas expectativas sem depender de outras pessoas para ter acesso a eles. Com fones de ouvido e olhares na tela, estão cada vez mais fechados em seus próprios gostos pessoais. É o que o professor e pesquisador Eric Messa chama de “Geração WhatsApp”. Mas e no ambiente escolar, em que as relações entre as pessoas têm papel fundamental, como essa geração tem se comportado?

Eric Messa:

Estão marcadas por um contexto social dessa nossa época dentro de uma polarização e uma intolerância, que, junto disso, vou adicionar inclusive um período que foi importante na vida dessas pessoas de isolamento social forçado. E aí, juntando tudo isso, eu entendo que hoje a gente começa a perceber um perfil de pessoas que têm falta de uma habilidade interpessoal, principalmente na questão do convívio social.

São pessoas que inclusive muitas vezes preferem muito mais estarem sozinhos do que num ambiente público. Então têm dificuldade de se relacionar socialmente, seja no ambiente de escola, por exemplo, ou, depois, mais tarde, dentro do ambiente de trabalho mesmo, trabalhando em equipe com os colegas de trabalho.

Marcelo Abud:

Messa aponta que a maioria das pessoas que compõem a “Geração WhatsApp” são aquelas nascidas no final dos anos 1990 e começo dos anos 2000.

Eric Messa:

Mas não entendo que seja um perfil, uma característica exclusiva dessa geração, por isso não uso o termo “Geração Z”. Eu acho que a gente pode ver pessoas também que são da geração anterior, dos “Millenium”, ou da geração posterior, que nasceram nos anos 2010 em diante, dentro dessa década, que também vão trazer essa característica.

Então acho que tem aí um perfil mais particular, não tão focado só na questão geracional e de idade.

Marcelo Abud:

O predomínio da comunicação pelo celular contamina a forma como essas pessoas se relacionam. Elas mantêm contatos a distância, usam diálogos extremamente curtos.

Eric Messa:

São pessoas que têm uma dificuldade muito grande de se relacionar com pessoas que elas ainda não conhecem e essa dificuldade de conhecer novas pessoas. Então no ambiente de ensino, dentro de uma sala de aula, são pessoas que têm dificuldade de se aproximar, de fazer amizade, de tomar essa iniciativa, né, um perfil muito mais introvertido. E, de novo, nesse ambiente mais de polarização que a gente vive, então fica aquele medo do que eu posso falar, não posso falar, e elas acabam preferindo, escolhendo ficarem sozinhas ou, quando são obrigadas a criar esse relacionamento, se relacionam de maneira muito fria, distante, com conversas curtas, feitas de breves diálogos, e, às vezes, inclusive um risco, já vi situações de pessoas sendo, às vezes, grossas e ríspidas, por conta mesmo dessa dificuldade de saber lidar com outras pessoas.

Marcelo Abud:

Se quando essas pessoas estão reunidas num mesmo espaço, sentem desconforto com a presença física de outras, de que forma isso tem refletido no ambiente escolar?

Eric Messa:

A relação social faz parte do processo de educação, e ela não vem acontecendo. A gente tem percebido que pessoas estão chegando na escola sem essa habilidade interpessoal. Então, a meu ver, há uma necessidade de se trazer uma ação mais ativa da escola – em particular do professor – na resolução dessa questão.

Hoje em dia eu penso que o professor tem um papel fundamental em sala de aula de trabalhar essa questão das habilidades interpessoais, para fazer com que essas pessoas possam desenvolver uma habilidade que não vem mais naturalmente como nas gerações anteriores. Eles não conseguem naturalmente conversar entre si, isso precisa ser promovido.

Marcelo Abud:

Eric Messa sugere uma atividade para que a professora ou o professor consiga promover uma melhor comunicação e relacionamento entre estudantes.

Eric Messa:

Um exercício que eu sugiro em sala de aula é que utilize de técnicas, né, metodologias ativas inclusive servem muito para isso, para estimular, promover esse contato. Inclusive para assuntos que, às vezes, num primeiro momento, podem parecer fugir do assunto próprio da sala de aula, né, a estimular que as pessoas, por exemplo, falem seus gostos pessoais, interesses, para abrir espaço para que um perceba que tem o mesmo interesse que o outro, ter ali o professor como um personagem bastante ativo da promoção dessa relação entre eles, né, entre os alunos, não necessariamente só entre o professor e o aluno.

Marcelo Abud:

Tendo passado um tempo considerável em isolamento social e com o costume cada vez maior de consumir o que gosta sozinho ou sozinha, quem faz parte da “Geração WhatsApp” demonstra pouca habilidade para trabalhar em equipe.

Eric Messa:

Hoje em dia, quando o professor não participa ativamente dessa organização do grupo, os estudantes têm muita dificuldade deles próprios, em si, conseguirem se dividir em alguns grupos. Então, de novo, me parece importante que, nesse momento que a gente vive hoje, ter um professor que tenha um papel ativo nessa organização de grupo, e aí existem diversas estratégias de se organizar um grupo, mas que seja, de novo, pelo interesse. Pedir para que cada um fale um tema de interesse e perceber que algumas pessoas têm o mesmo interesse e agrupá-las então dessa maneira.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo.

Marcelo Abud:

Não há dúvida de que a dificuldade de escutar pontos de vista de outras pessoas e o alto grau de individualismo são características que dificultam a convivência no ambiente escolar. Eric Messa destaca a importância do papel ativo de professoras e professores na promoção da relação entre estudantes.

Marcelo Abud para o podcast de educação do Instituto Claro.

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