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Confira a transcrição do áudio
O efeito estufa é necessariamente ruim? Diminuir a velocidade máxima permitida em uma estrada pode, por exemplo, ajudar no combate ao seu aumento?
Para responder a essas questões, o Instituto Claro conversa com duas estudiosas do assunto que explicam qual a relação entre a energia liberada pelos automóveis e o aquecimento global. Isto porque o governo da Holanda diminuiu a velocidade máxima nas estradas, desde o início deste ano, com o intuito de reduzir a poluição e as emissões de carbono.
A doutora em física pela Universidade de São Paulo (USP), Viviane Alves, explica que há resultado efetivo na redução de 130 km/h para 100 km/h nas rodovias do país europeu.
“Quanto mais rápido um automóvel está, mais energia ele precisa. Nesse processo de combustão é que são emitidos os gases do efeito estufa. Para aumentar a velocidade em 30%, eu preciso colocar 69% a mais de energia. Então, embora possa parecer pequena a alteração de 100 para 130 quilômetros por hora, isso vai fazer diferença em termos energéticos”.
Também entrevistada para o podcast, a mestre em bioquímica pelo Instituto de Química da USP, Soraia Ferini Namora, lembra que o efeito estufa é fundamental para a manutenção da vida na Terra, por manter o planeta aquecido.
“Se a gente não tem uma barreira que segura, de alguma forma, uma parte desse calor, a gente teria temperaturas muito baixas, o que inviabilizaria a vida como a gente conhece na Terra”, esclarece. O problema vem justamente a partir do momento em que há um excesso desses gases. “Esse efeito estufa, em princípio, intensificado, leva ao aumento do calor que fica retido na baixa atmosfera e, portanto, leva a um aumento da temperatura global do planeta”, complementa Soraia.
No áudio, as professoras trazem exemplos que demonstram a relação entre velocidade dos automóveis e emissão de gases, além de uma experiência simples, que pode ser reproduzida em sala de aula para demonstrar uma das consequências do desequilíbrio no efeito estufa.
Crédito da imagem: CreativeNature_nl – iStock
Transcrição do áudio:
Soraia Namora:
Por conta das emissões de gases pelos automóveis e veículos de uma forma geral, a gente vem intensificando o efeito estufa.
Viviane Alves:
Quanto maior a velocidade, mais energia ele vai precisar. Nesse processo de combustão é que são emitidos os gases do efeito estufa.
Marcelo Abud:
O Instituto Claro conversa com a bioquímica Soraia Ferini Namora e a física Viviane Alves, elas explicam como as aulas ajudam os estudantes a entender melhor as consequências das decisões e atitudes que podem diminuir ou aumentar a emissão de gases do efeito estufa.
Vinheta: “Instituto Claro – Educação”
Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo
Marcelo Abud:
A utilização de notícias como ponto de partida para a discussão de assuntos relacionados à sala de aula pode ser uma boa forma de gerar interesse nos estudantes. Neste podcast, o Instituto Claro ouve as professoras Viviane Alves e Soraia Ferini Namora para repercutir como a física e a química ajudam a entender o impacto que a velocidade dos automóveis tem na emissão de gases que geram o aumento do efeito estufa.
Isto devido a notícia da Holanda ter diminuído, desde o início deste ano, a velocidade máxima nas estradas do país, de 130 para 100 Km/h. Uma medida para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
Pra começo de conversa, a mestre em bioquímica pelo Instituto de Química da USP, Soraia Namora, esclarece que o efeito estufa é fundamental para a manutenção da vida no Planeta Terra.
Soraia Namora:
O efeito estufa é um efeito essencial para a vida na Terra. É formado a partir de gases que compõem a atmosfera naturalmente, como o CO², gás carbônico como a gente conhece mais popularmente, e o CH4, que é o gás metano… Esses dois gases são os principais gases de efeito estufa que a gente tem, eles formam uma camada ao redor da baixa atmosfera e impedem que a maior parte do calor que chega aqui na superfície da Terra retorne para a alta atmosfera. Então, se a gente não tem uma barreira que segura, de alguma forma, uma parte desse calor próximo da gente, a gente teria temperaturas muito baixas, o que inviabilizaria a vida como a gente conhece na Terra.
Música: “O Sal da Terra” (Beto Guedes), com Roupa Nova e Ivete Sangalo
“Terra! ? És o mais bonito dos planetas / Tão te maltratando por dinheiro / Tu que és a nave nossa irmã”
Marcelo Abud:
O desequilíbrio do efeito estufa vem a partir do excesso de gases, emitidos principalmente pelas indústrias e veículos.
Soraia Namora:
E esse efeito estufa, em princípio, intensificado, leva ao aumento do calor que fica retido na baixa atmosfera e, portanto, leva a um aumento da temperatura global do planeta. É importante frisar que isto não tem nada a ver com ondas de calor ou ondas de frio, isso tem a ver com o aumento global da temperatura.
Marcelo Abud:
Doutora em física pela Universidade de São Paulo, a professora Viviane Alves confirma a relação entre velocidade e emissão de gases.
Viviane Alves:
Os automóveis, para poderem atingir uma certa velocidade, têm que aumentar a sua energia cinética, que é a energia relacionada ao movimento do carro.
Essa energia vem da combustão, então a gente tem energia química que estava armazenada nos combustíveis, o motor a combustão vai transformar essa energia em energia térmica; a maior parte dessa energia, na verdade, é perdida, na forma de calor, mas uma parte dela é convertida em energia cinética para o carro.
Soraia Namora:
Os principais gases que são emitidos quando a gente tem veículos queimando combustível de origem fóssil, principalmente petróleo, então diesel e gasolina, e menos quando a gente tem queima de etanol e de gás natural, são o CO2, que é o menos pior de todos, ele é emitido quando a queima acontece na condição ideal, uma quantidade adequada de oxigênio; é formado também o CO, que é o monóxido de carbono, veja, tem um oxigênio a menos do que o CO2, ou seja, na sua queima tinha menos oxigênio do que o necessário para acontecer a queima completa. Esse é um gás muito mais perigoso para a gente, muito mais tóxico, muito mais poluente, portanto. É formada a fuligem, que é o carbono queimado na forma de carvão; e são formados derivados de enxofre e de nitrogênio.
Música: “Música Urbana” (Andre Pretorius / Felipe Lemos / Flavio Lemos / Renato Russo), com Capital Inicial
“Andando por ruas quase escuras os carros passam / As ruas têm cheiro de gasolina e óleo diesel / Por toda plataforma, toda a plataforma”
Soraia Namora:
Esses gases. o SO2, o SO3 e o N2O5, em concentração maior, podem levar à formação de chuva ácida. Quando a gente tem chuva ácida no ambiente é um indicador de que aquele ambiente está bastante poluído em termos de gases lançados na atmosfera.
Marcelo Abud:
Viviane Alves confirma o efeito positivo da medida tomada pelo governo Holandês, que reduziu a velocidade nas estradas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa.
Viviane Alves:
Quando a gente calcula a energia cinética, esse cálculo envolve o quadrado da velocidade. Isso significa que para eu aumentar a velocidade em 30%, eu preciso colocar ali 69% a mais de energia. Então, por isso também que, embora possa parecer pequena a diferença de 100 para 130 quilômetros por hora, isso vai fazer uma grande diferença em termos energéticos.
Marcelo Abud:
Em uma aula de física é possível demonstrar como o excesso de gases do efeito estufa gera concentração de raios infravermelhos.
Viviane Alves:
Cada tipo de molécula, cada tipo de gás vai absorver ou ser transparente para certas frequências de radiação eletromagnética. Então, o que acontece no efeito estufa é que esses gases acabam refletindo o infravermelho que está vindo da Terra de volta para a Terra, eles não deixam o infravermelho passar. Quanto mais desses gases a gente tiver na atmosfera, mais o infravermelho, que é uma das formas de propagação de calor, mais ele vai ser refletido de volta para a Terra e, com isso, o ambiente via ficando mais quente.
Música: “Tic Tic Nervoso” (Antonio Luiz / Marcos Serra), com Magazine
“Estou preso no trânsito com pouca gasolina / O calor tá de rachar e lá fora é só buzina”
Marcelo Abud:
Uma experiência simples pode demonstrar, em sala de aula, a relação entre o aumento de gases gerados pelos combustíveis e o aquecimento global.
Viviane Alves:
Você pode pegar, por exemplo, um aquário e virar de ponta cabeça e, na parte de baixo, colocar coisas que sejam mais escuras, porque tendem a absorver vários comprimentos de onda, várias frequências da radiação eletromagnética. Então, você põe uma lâmpada em cima, o que vai acontecer é que esses raios vão passar pelo vidro. Se tiver, por exemplo, um tecido preto embaixo, esse tecido pode absorver todas as frequências da luz visível e vai reemitir algumas frequências na faixa do infravermelho. E nem todo esse infravermelho vai conseguir passar de volta pelo vidro, uma parte vai ser refletido. Então, se você deixar um termômetro lá dentro e uma lâmpada do lado de fora, certamente a temperatura lá dentro vai subir muito mais rapidamente do que a temperatura do ambiente onde a lâmpada está inserida, do lado de fora desse aquário.
Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo
Marcelo Abud:
A utilização de assuntos que estão na pauta do dia, como é o caso do efeito estufa, é uma forma de aumentar o interesse dos alunos pelas aulas.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.
Atualizada em: 16/3/2020 às 19h02