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Dados do Censo Escolar da Educação Básica divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontam problemas em relação à estrutura para prática desportiva. De acordo com relatório divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), escolas que possuem quadras e materiais adequados para as aulas de educação física somam apenas 40,6% das instituições de educação básica no Brasil.

“Às vezes ele [professor] tem um local de prática, mas não tem bola, bambolê, cone, corda, não tem condições. Tem a quadra só, não tem rede, não tem nada. Então, 27% das escolas brasileiras não tem nem material e nem espaço. E isso é grave, porque o professor de educação física ou o pedagogo sem espaço e sem material não consegue organizar o conhecimento, o conteúdo no currículo”, avalia a professora de educação física e doutora em ciência do movimento humano Cassia Damiani.

A especialista lamenta a falta de valorização das aulas de educação física escolar. Para Damiani, isso compromete as habilidades físico-motoras e prejudicam as evoluções cognitiva e socioemocional de crianças e jovens.

“Se nos faltar o acesso a esse leque imenso de dança, jogos, ritmo, esporte, se nos faltar isso na infância e na adolescência, nós teremos dificuldade de sistematizar teoricamente o nosso pensamento, porque o nosso psiquismo necessita de várias relações e aproximações, tanto com os seres humanos, porque é assim que nós nos tornamos humano, quanto com o meio. E a prática, principalmente essa de aprendizagem na idade escolar, é que faz a mediação disso”, aponta.

O relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisa os dados do censo escolar, destaca a importância de se valorizar as aulas de educação física. Segundo o documento, “considera-se que a melhoria da infraestrutura nas escolas é uma das maneiras de fortalecer o papel do poder público e fomentar as práticas esportivas para crianças e adolescentes em idade escolar”.

Damiani ressalta que o acesso à cultura corporal é uma responsabilidade do poder público. “É dever do Estado cumprir com a determinação de educar as crianças e adolescentes, desde a tenra idade até o ensino médio”, analisa.

Clique no botão acima e assista à íntegra da entrevista.

Crédito da imagem: Freepik.com

Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Cassia Damiani:

Se nos faltar o acesso a esse leque imenso de dança, jogos, ritmo, esporte, se nos faltar isso na infância e na adolescência, nós teremos dificuldade de sistematizar teoricamente o nosso pensamento, porque o nosso psiquismo necessita de várias relações e aproximações tanto com os seres humanos, porque é assim que nós nos tornamos humanos, quanto com o meio. E a prática, principalmente essa de aprendizagem na idade escolar, é que faz a mediação disso.

Meu nome é Cassia Damiani, sou professora de educação física, formada em licenciatura plena de educação física. Sou mestre em educação e doutora em ciência do movimento humano, com concentração em gestão de políticas públicas de esporte e lazer.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

Dados do Censo Escolar da Educação Básica, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em janeiro de 2024, apontam problemas em relação à estrutura para prática desportiva. Para Cassia Damiani, a falta de espaço ou de material é um desafio para o ensino de educação física na escola. Ela ressalta que o quadro merece atenção, já que essas aulas são importantes para a promoção não apenas de habilidades físico-motoras, mas também trazem benefícios cognitivos e socioemocionais.

Cassia Damiani:

As atividades, elas melhoram o controle das doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade, eleva a capacidade cognitiva de compreensão, de identificação, de julgamento, de tomada de decisão e, além disso, ainda amplia a capacidade de autonomia do sujeito para a tomada de decisão. De forma lúdica que contempla um valor de uso para o ser humano e o seu desenvolvimento pleno, integral.

Marcelo Abud:

Damiani aponta que há barreiras para uma boa aula de educação física, tanto em escolas públicas quanto em particulares. Aqui, ela analisa os principais problemas que envolvem as aulas da matéria na rede pública.

Cassia Damiani:

De fato, há uma contradição central entre a importância, a relevância das aulas de educação física para crianças e adolescentes e, vou dizer, até jovens, se a gente pensar em educação básica. Há uma incongruência realmente com os interesses, porque as escolas não detêm estrutura suficiente para abarcar todos os conhecimentos necessários entre as possibilidades da cultura corporal e dos esportes em si, das modalidades.

A oferta de quadras estruturadas, com a mensuração correta conforme as normas, com segurança, com uma textura de piso que seja adequada para as crianças, com cobertura – porque o nosso país tem o clima tropical – necessária. Então, nós temos aí uma defasagem muito grande.

Marcelo Abud:

De acordo com o censo escolar, a rede municipal é a principal responsável pela oferta do ensino fundamental no Brasil. Ela abrange pouco mais de 68 por cento de escolas nos anos iniciais e quase metade das escolas de anos finais do ensino fundamental.

Cassia Damiani:

Eu acho que é importante a gente focar um pouco no ensino fundamental, que é onde tem a maioria absoluta de estudantes. E aí de 135 mil escolas, 47% não possuem nenhuma instalação esportiva. Quando são consideradas as quadras esportivas, o número cai para 45,1%. Essa diferença é de terrenos ou terreirões, né, que, no censo, eles nominam de terreirão.

Marcelo Abud:

O Inep considera terreirões as áreas localizadas no espaço livre das dependências escolares, sem cobertura de concreto, piso ou edificações.

Se há um número muito grande de escolas que não apresentam condições adequadas para as aulas de educação física, são quase inexistentes as que contam com estruturas que vão além de uma quadra para a prática de esportes.

Cassia Damiani:

Agora tem também escolas com sala de multiuso, que é 7,4 por cento; piscina, 2,7%; tem escola, principalmente da região sul, sudeste, com piscina, com estúdio de dança, sala 1,8%. Vai rareando, né?

Marcelo Abud:

Quando se avalia a quantidade de escolas da rede pública que possuem local e materiais adequados para as aulas de educação física, apenas 40,6 por cento reúnem essas condições.

Cassia Damiani:

Então, às vezes ele tem um local de prática, mas não tem bola, bambolê, cone, corda, não tem condições. Tem a quadra só, né, não tem rede, não tem nada. Então, 27% das escolas brasileiras não tem nem material e nem espaço. E isso é grave, é grave, porque o professor de educação física ou o pedagogo sem espaço e sem material, ele não consegue organizar o conhecimento, o conteúdo no currículo, e é o currículo que faz elevar o pensamento do senso comum à consciência. Que faz a gente partir da desorganização para a teoria.

Então, a prática é a mãe da teoria, não é o contrário, não. Não é falando com os alunos, que os alunos vão amadurecer e aprender, é demonstrando, é fazendo com que ele vivencie a coisa prática. Por isso que a educação física é tão importante.

Marcelo Abud:

De acordo com a professora e pesquisadora, o próprio relatório do IBGE que analisa os dados do censo escolar destaca a importância de se valorizar as aulas de educação física.

Cassia Damiani:

Considera-se que a melhoria da infraestrutura nas escolas é uma das maneiras de fortalecer o papel do poder público e fomentar as práticas esportivas para crianças e adolescentes em idade escolar. Ou seja, é uma responsabilidade do Estado o acesso à cultura corporal. É dever do Estado cumprir com a determinação de educar as crianças e adolescentes, né, desde a tenra idade até o ensino médio.

A maioria dos professores, em geral, nesse quadro, no Brasil, contraditoriamente, eles fazem milagre… sem material. Mas a educação física, de forma diferenciada… como os laboratórios de ciência precisam das pipetas, nós precisamos das bolas, nós precisamos das raquetes, dos bambolês, né?

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

A educação física é, para muitas crianças e adolescentes, o único momento dedicado à prática esportiva. Por isso, Cassia Damiani aponta a necessidade de melhores condições, como locais com instalações adequadas e materiais apropriados para o estímulo à cultura corporal nas escolas.

Marcelo Abud para o podcast de educação do Instituto Claro.

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