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A nossa escrevivência não pode ser lida como história
de ninar para os da casa-grande, e sim
para incomodá-los em seus sonos injustos”.
(Conceição Evaristo)

Com seis livros publicados, entre romances, contos e poesia, Conceição Evaristo mantém o foco na condição social da população afro-brasileira e aborda, sem meias-palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Para ela, a visibilidade de autores negros no Brasil é ainda muito recente. “Eu e outros escritores afro-brasileiros começamos a ser conhecidos primeiro fora do Brasil. Em 1995, tem um grande seminário de literatura brasileira, no qual estavam presentes Marina Colasanti e o falecido João Ubaldo Ribeiro e quatro escritores negros brasileiros. Quando nós voltamos, a imprensa brasileira tratou da participação dos dois e não deu uma linha que nessa comitiva brasileira tinha escritores negros”.

Reconhecida internacionalmente, a autora virou muitas páginas para escrever sua história. Nascida em uma favela de Belo Horizonte, trabalhou desde cedo e concluiu os estudos regulares tardiamente, aos 25 anos de idade. Formou-se mestre em Literatura pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada, pela Universidade Federal Fluminense. Ela ressalta que tudo que escreve é marcado pela condição de mulher negra na sociedade brasileira: “Tanto a escolha temática do texto não-literário como aquilo que eu elejo para fazer literatura é marcado pela minha experiência, pela minha subjetividade de mulher negra na sociedade brasileira”. A autora, que estreou em 1990 com obras publicadas na série Cadernos Negros, do coletivo Quilombhoje, mostra-se feliz ao perceber que seus textos conseguem “ultrapassar a questão da pele, a questão social e a própria questão de gênero”.

Com base no que chama de “escrevivência” – ou a escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida da própria autora e do seu povo –, ela teve seu primeiro romance publicado em 2003. Intitulado “Ponciá Vicêncio”, o livro acaba de ganhar uma nova edição. A obra narra, em terceira pessoa, a trajetória de uma mulher negra, desde sua infância até a idade adulta.

No áudio, você acompanha o início da trajetória de Conceição Evaristo até chegar ao reconhecimento dos dias de hoje e algumas leituras que foram feitas pela própria escritora para a Ocupação Conceição Evaristo, realizada pelo Itaú Cultural em 2017.

Links:

– Leia o resumo da obra Ponciá Vicêncio no site da Unicentro;

– Acesse o material preparado para o site da Ocupação Conceição Evaristo, que inclui vídeos educativos.

Créditos:

As músicas utilizadas na edição do podcast, por ordem de entrada, são: Refavela (Gilberto Gil), Raça (Milton Nascimento) e O meu guri (Chico Buarque), com Elza Soares. Foto: Joyce Fonseca

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