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O Projeto de Vida foi inserido como componente curricular do “novo ensino médio” pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2018. O objetivo era aumentar o engajamento de alunas e alunos, ao incentivar adolescentes a estudarem com um planejamento voltado ao futuro pessoal e profissional.“As escolas têm que ter práticas pedagógicas que permitam a reflexão sobre quem eles são: sobre o próprio aprendizado, sobre a relação com o outro… porque a gente não constrói um projeto de vida sem pensar nas nossas relações interpessoais”, afirma a psicóloga e pedagoga Ana Carolina D’Agostini.

No áudio, a coautora do livro “Se Liga na Vida – Projeto de Vida” traz cinco sugestões de como aproveitar a inserção da temática para aumentar a motivação de estudantes do ensino médio:

– Estímulo ao protagonismo e autonomia no aprendizado;

– Compartilhamento das experiências pessoais e profissionais dos professores; – Demonstração de que o projeto de vida não se encerra no ensino médio;

– Promoção da participação de pais e responsáveis no processo;

– Abertura da escola para um eficiente processo de escuta.

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Transcrição do Áudio

Música “O Futuro que me Alcance” (introdução instrumental), de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Ana Carolina D’Agostini:
A gente tem que pensar no desenvolvimento dos nossos estudantes em dimensões que não falam somente da intelectual, mas também de outros componentes, como os afetivos, os físicos, os culturais e os socioemocionais. Se comprometer com todos esses princípios da educação integral é auxiliar também com que os estudantes se conectem com o que eles são. Com as suas singularidades e também se desenvolvam aí o máximo dentro dos seus objetivos e potencialidades, que são componentes essenciais aí do projeto de vida.
Eu sou Ana Carolina D’Agostini, psicóloga e pedagoga de formação. Eu sou coordenadora de rigor teórico e evidências científicas do Programa Semente, que tem aprendizado socioemocional; coordenadora de formações do Instituto Ame Sua Mente e sou coautora do livro “Se Liga na Vida”, de projetos de vida, publicado pela Editora Moderna.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
O Projeto de Vida está inserido no novo modelo do Ensino Médio pela Base Nacional Comum Curricular (a BNCC), desde 2018. O conceito atrelado a ele é o de aumentar o engajamento de alunas e alunos, ao incentivar esses adolescentes a manter a consistência nos estudos, em prol de um objetivo.

Ana Carolina D’Agostini:
A Base Nacional Comum Curricular firmou o princípio de educação integral para as escolas brasileiras. E o que isso significa na prática? As escolas elas têm, mais do que nunca, procurar a incentivar a autonomia e o protagonismo dos estudantes e ter práticas pedagógicas que permitam a reflexão sobre quem eles são: sobre o próprio aprendizado, sobre a relação com o outro (porque a gente não constrói um projeto de vida sem pensar nas nossas relações interpessoais), e também sobre o mundo; que escolhas que a gente quer fazer?; e como é que tudo isso vai impactar aí no nosso desenvolvimento ao longo dessa jornada.
Essa concepção de uma educação que olha pra tudo isso, né, de forma muito mais integrada e completa, ela já é, de cara, mais motivadora para os estudantes, porque torna todo o aprendizado, todas as relações que existem ali ainda mais significativas, porque são passíveis também de reflexão e de maior protagonismo.

Música: “Educação Sentimental II” (Leoni / Herbert Vianna / Paula Toller)
A vida que me ensinaram como uma vida normal
Tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal
Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso
Mas isso é menos do que tudo,
É menos do que eu preciso

Ana Carolina D’Agostini:
Nesse processo aí de construção do projeto de vida é esperado que a gente viva uma série de sentimentos e emoções, né, como estresse, a tristeza e a frustração, que se eles não forem reconhecidos, nomeados, regulados, eles podem dificultar o projeto de vida e também afetar a nossa saúde mental. E a boa notícia é que todas essas competências socioemocionais que eu citei elas podem ser aprendidas na escola, o que deixa ainda mais interessante a gente trabalhar o projeto de vida na escola.

Marcelo Abud:
Ana Carolina D’Agostini apresenta formas de engajar estudantes do ensino médio, a partir de possíveis usos do projeto de vida nesta etapa da escola.

Ana Carolina D’Agostini:
Eu acho que a mais interessante delas é estimular o protagonismo e autonomia na aprendizagem. E como é que a gente pode fazer isso na prática? Uma estratégia muito interessante é o uso de metodologias ativas, porque elas colocam o estudante justamente nesse papel de protagonismo, de se colocar aí no centro do processo de aprendizagem e de troca e de ter autonomia pra pensar nas próprias escolhas e no que eles querem construir.
Então quanto mais a escola puder utilizar dessas metodologias, mais o projeto de vida vai se tornar algo prático e que faz sentido aí para os estudantes.

Marcelo Abud:
Por ser um assunto que dialoga com a própria trajetória de cada um, D’Agostini considera importante que educadores parem e pensem em como eles seguiram seus próprios projetos de vida. Isto tende a estabelecer um maior diálogo e acolhimento em relação ao tema.

Ana Carolina D’Agostini:
Considerando que os professores eles têm a maior proximidade e vínculo ali com os estudantes é eles se enxergarem nesse papel de proximidade. Isso inclui também que eles compartilhem a própria história. Humanizar também as relações aí entre professores e estudantes, compartilhando como é que foi pra eles fazer essas escolhas, o que eles pensaram, quais foram as principais dificuldades – é naturalizar esse diálogo do projeto de vida.

Música: “Minha vida” (Lulu Santos)
Os garotos da escola
Só a fim de jogar bola
E eu queria ir tocar guitarra na TV

Ana Carolina D’Agostini:
Uma estratégia bastante interessante também que a gente pode diminuir a ansiedade aí dos estudantes do ensino médio, que muitas vezes veem como esse momento de escolha, né, no fim de um ciclo, como algo definitivo e que eles muitas vezes não vão ter como mudar de trajetória ao longo da vida (esse é um pensamento bastante comum que adolescentes têm).
Então eu acho que é reforçar que projeto de vida ele não se encerra no ensino médio. Assim como ele não começou no ensino médio, né, ele se estende ao longo da vida. Então pensar em projetos de vida é pensar nas nossas escolhas pessoais e profissionais; é a gente se conhecer constantemente; é pensar em como a gente se relaciona com o outro e o que a gente quer construir para o mundo.
Esse é um processo que ele se estende ao longo da vida. Isso dá uma leveza maior pra esse tema e também nos chama pra maior reflexão e maior responsabilidade.

Marcelo Abud:
O envolvimento da família é outro aspecto fundamental para o êxito do projeto de vida.

Ana Carolina D’Agostini:
Eu acho que é interessante também, né, na medida do possível, a gente promover a participação de pais e responsáveis nesse processo, seja por entrevistas que vão ser feitas, seja por perguntas ali de o que eles gostavam quando eram crianças, o que eles pensavam em fazer; qual é a história da família.

Marcelo Abud:
O cuidado com aspectos socioemocionais durante o projeto de vida está ligado a um eficiente processo de escuta na escola.

Ana Carolina D’Agostini:
E falar em processo de escuta é entender: quais são os interesses dos alunos; as angústias, os anseios; o que eles gostariam de aprender, de escutar. Então, quanto mais a escola estiver aberta para essa interação, para essa escuta, mais vai haver engajamento aí sobre esse tema.
E eu acho que uma outra estratégia também interessante pra aumentar o engajamento é identificar professores ali que tenham um perfil mais de tutoria, né, ou seja, que dialogam melhor com os alunos, que têm maior proximidade e afinidade. Porque quando a gente fala de projeto de vida, a gente fala de uma jornada e a gente fala também de aprendizagem socioemocional. E não tem um lugar mais propício pra tudo isso que a escola e que a relação entre os colegas, os professores e os alunos.

Marcelo Abud:
D’Agostini fala também sobre os desafios para a efetiva implantação do projeto de vida no ambiente escolar.

Ana Carolina D’Agostini:
Dentro do Brasil, a gente tem muitos brasis e isso, quando a gente olha pra escola pública, também é essa realidade. Cada instituição de ensino ela tem a liberdade pra definir como é que vai colocar o projeto de vida em prática. Então uma forma possível é criar uma disciplina específica, que pode ser ministrada por um professor que tem uma relação aí mais próxima com os alunos (e que não precisa ter uma formação específica ou graduação em psicologia, por exemplo). Mas não basta a gente saber se vai ser com uma disciplina específica ou vai ser maneira transversal, mas tem um desafio aí para as escolas que é como é que vai ser a formação adequada desses professores nesse novo componente curricular.
Por isso é muito importante investir no preparo desses profissionais e acolher as dúvidas e sugestões dos professores pra construção aí de como é que o projeto vai ser incorporado na escola.
Um outro possível desafio que as escolas podem enfrentar é essa mudança de mentalidade: que nem só o que vale nota importa no aprendizado. É importante integrar essa dimensão e a importância do projeto de vida aos demais projetos da escola. E colocar em prática os demais princípios que a educação integral sugere pra que isso se torne cada vez mais parte da rotina escolar.

Música instrumental de Reynaldo Bessa fica de fundo

Marcelo Abud:
O projeto de vida no ensino médio já é realidade em algumas escolas mesmo antes da inclusão na BNCC. Em outras, ainda representa uma novidade. De uma forma ou de outra, pesquisadores do assunto, como Ana Carolina D’Agostini, entendem que é uma oportunidade de dar vazão aos interesses pessoais e de criar novos sentidos para o futuro de alunas e alunos.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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