Asa Branca, de Luiz Gonzaga, completa 70 anos sem perder a atualidade
Pesquisador Assis Ângelo revela a origem folclórica de uma das canções mais regravadas do Brasil
AutorMarcelo Abud
Ouça também em:
Publicado em28 de fevereiro de 2017
“Cultura popular é a identidade de um povo, é a digital, é o DNA.”
(Assis Ângelo)
Em 3 de março de 1947, no estúdio da extinta RCA, no Rio de Janeiro, foi gravado o baião Asa Branca, composto por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. A música aborda a seca no Nordeste, que continua a castigar as populações e as expulsa de suas terras. O tema já estava presente em muitas canções, mas esta gravação é um marco. A partir daí Asa Branca ganhou mais de 500 interpretações no Brasil e no exterior.
Assis Ângelo e a primeira gravação de Asa Branca (Crédito: Marcelo Abud)
Sete décadas depois de seu primeiro registro em disco, Asa Branca ainda é atual e aborda temas que são estudados nas diversas áreas do currículo. Para o arte-educador e músico Marcelo Tupinambá Leandro, que herdou do bisavô, Marcelo Tupynambá, o gosto pela pesquisa, a composição não serve apenas para aulas de música, mas possibilita abordar questões políticas e sociais dos dias de hoje. Ele lembra o ditado “o problema do nordeste não é a seca, mas a cerca”, o que remete à desigualdade social e ao latifúndio ainda presentes. Outro aspecto ressaltado por Tupinambá é a dimensão folclórica e identitária da música.
Para conhecer a história de Asa Branca, ave que prenuncia tanto longos períodos de seca quanto a volta da chuva, recorremos ao jornalista, crítico musical e presidente do Instituo Memória Brasil, Assis Ângelo. Ele nos conta que a música tem origem em uma cantiga de domínio público, do final do século 19 e era tocada por Januário, pai de Gonzaga. Coube a Humberto Teixeira recriar a letra de Asa Branca. “A temática é a mesma de antes. A letra é diferente”, aponta Ângelo.
No áudio, os entrevistados lamentam o cenário que não mudou em sete décadas. “A Asa branca não está no sertão nordestino há, no mínimo, 5 anos. A seca que lá perdura é uma das maiores. Tudo permanece igual”, afirma Assis. “Eu tenho certeza que é um problema que poderia ser resolvido em bem pouco tempo”, conclui Tupinambá.
As músicas utilizadas nessa edição, em ordem de entrada, são: Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), Asa Branca (Domínio popular), na interpretação de Cego Oliveira, A volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas).