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Capas da primeira edição e da mais recente de Raízes do Brasil


Em 2016, completam-se 80 anos do lançamento do livro “Raízes do Brasil”. Reeditado inúmeras vezes, até hoje é uma referência da historiografia e da sociologia brasileira. A obra foi traduzida para italiano, espanhol, japonês, alemão e francês. Nesse podcast, abordamos a importância do livro, suas principais contribuições para a compreensão do Brasil e, ainda, os seus limites. 

Vale lembrar que uma obra é sempre fruto de seu tempo. “Raízes” veio a público no contexto da passagem de um país mais rural, agroexportador e baseado na monocultura, para um que começa a se urbanizar, industrializar e formar uma classe média. “Os anos 1930 são marcados como uma década em que se voltar para a história do Brasil é importante para entender quem somos naquele momento”, afirma a historiadora e antropóloga Simone Luci Pereira, mestre em História Social, doutora em Antropologia. 
 

Segundo ela, Sérgio Buarque estudou na Alemanha, antes dos anos 1930, e que foi influenciado pela sociologia alemã de então, que compreende a história como elemento importante para se pensar a sociedade.
 

No áudio, Simone aborda o conceito de “homem cordial”, capítulo central do livro e, muitas vezes, compreendido de forma equivocada.  Ela explica que “esse conceito de cordialidade faz com que as relações de simpatia, as relações pessoais atravessem a impessoalidade do poder, da ordem, do estado de direito e da cidadania”. Aponta como consequência a confusão que se faz entre público e privado, a busca por um tratamento “amigável”, que possibilita ao indivíduo ser tratado como acima das regras sociais a que todos deveriam se submeter. No entanto, faz questão de ressaltar: essa não é uma característica apenas do brasileiro.
 

A professora apontou, ainda, outras características das raízes do Brasil evidenciadas por Sérgio Buarque em sua obra. Uma delas é o personalismo, que atribui o valor à pessoa pelas relações que mantém: “por ser filho de alguém importante, eu seria importante também, sem o esforço de conquistarmos isso por nós mesmos”. Outra é a aventura, que se opõe ao trabalho como valor integrante da ética protestante e do espírito do capitalismo, “o aventureiro vai inconsequentemente explorando, sem pensar no dia de amanhã”.
 

A entrevistada reconhece os limites da obra, mas reitera que eles não diminuem a sua importância: “Raízes do Brasil não deve ser vista como simplesmente um trabalho que exalta as características liberais do mundo. O livro trouxe muita coisa de importante para a reflexão de quem somos e que podemos olhar hoje, reconhecer limites, mas pegar isso que nos serve ainda”. 
 

LINKS

– Assista a um vídeo em que Antonio Candido fala sobre Sérgio Buarque

– Veja Chico Buarque lendo um trecho de “O Irmão Alemão”, em que fala sobre a compulsão do pai pelos livros

Créditos: as músicas utilizadas nesta edição, em ordem de entrada, são: “Fado Tropical” (Chico Buarque e Ruy Guerra), com Chico Buarque, “A Cara do Brasil” (Vicente Barreto), com Ney Matogrosso, “Por Debaixo dos Pano” (Cecéu), com Marinês, e “Quem dá mais” (Noel Rosa).

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