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Como era viver há 50 anos na cidade em que você mora hoje? E a escola daquele tempo, era muito diferente? Um museu virtual pode ajudar quem busca respostas a perguntas como essas.

No podcast, a professora de história e artes, Gisella Vieira Braga, compartilha como foi a criação do “Manaus de Antigamente”, que reúne imagens, vídeos e depoimentos sobre a capital amazonense. A ideia nasceu a partir de um trabalho com alunos do 4º ano do ensino fundamental.

“Eu imaginei: ‘as crianças estão acessando bastante o Facebook, então, vou criar um para ver se alcanço esses adolescentes’. A minha surpresa é que o ‘Manaus de Antigamente’ foi além e alcançou adultos, idosos, pessoas que se identificaram com as fotos e os relatos”.

Dividido em cinco passos, o caminho para a criação de um acervo virtual tem, como ponto de partida, segundo a professora, um levantamento para saber qual o nível de envolvimento dos estudantes com os museus da cidade.

“Nós temos alunos que têm conhecimento de história por já visitarem museus, viajarem, conviverem com adultos que têm esse conhecimento. E nós temos um outro grupo que não tem conhecimento”, avalia.

A busca de fotos, relatos escritos, além da conversa com pais e avós, é o segundo passo indicado por Braga. A partir daí, os alunos seguem a vivência com a criação de um texto em que expõem as percepções sobre a cidade de antigamente e a em que moram hoje. Depois, realizam visitas a museus e, finalmente, a exposição do material coletado na internet.

“O museu virtual é, primeiramente, democrático. Quando você pensa em uma plataforma, rede social ou site, você vê o quanto isso é acessível. Independentemente da localização em que a pessoa está, desde que ela tenha acesso à internet, ela pode acessar esse ambiente.”

A professora de história e de artes promove visitas com os alunos e familiares aos sábados. Na foto, as “Ruínas de Paricatuba”. O local, construído no início do século 20, abrigou o primeiro hospital leprosário da Amazônia (crédito: acervo Gisella Braga)

 

O trabalho pode, ainda, gerar uma exposição fotográfica na escola, com imagens de ruas, praças, monumentos históricos e registros do cotidiano. “Eles mesmos acessam, imprimem, montam painéis, contam as histórias, pesquisam”, descreve a professora.

Links:
O “Manaus de antigamente” tem um blog, além de páginas em redes sociais, como o Facebook e Instagram, com atualizações constantes. 

Crédito da imagem principal: Foto enviada por Lenice Salerno/Manaus de Antigamente

Transcrição do áudio:

Introdução instrumental do “Hino de Manaus” (Nicolino Milano / Thaumaturgo Sotero Vaz) permanece de fundo

Gisella Braga:
O museu virtual é primeiramente democrático. Quando você pensa em uma plataforma em uma rede social, em um site, você pensa o quanto isso é acessível, independente da localização em que essa pessoa está. Desde que ela possa acessar a internet, ela pode acessar esse museu virtual.

Meu nome é Gisella Vieira Braga, sou professora, leciono a disciplina de história e de artes.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Um espaço com imagens de ruas, praças, monumentos históricos e registros do cotidiano. Tudo disponível a qualquer pessoa que tenha acesso à internet. Neste podcast, você vai acompanhar cinco passos para a criação de um museu virtual, a partir da experiência da professora e pedagoga, Gisella Braga, criadora do site e das redes sociais do “Manaus de Antigamente”.

Gisella Braga:
Quando nós estamos ministrando as nossas aulas para os nossos alunos de fundamental, nós temos dentro da nossa grade curricular que falar sobre o contexto histórico brasileiro. É importante que a gente possa perguntar ao aluno, primeiramente, o que ele entende, saber a formação das primeiras cidades, o início da colonização.

Marcelo Abud:
Esse é o primeiro passo: entender qual o envolvimento da turma com a formação da cidade em que mora e estuda.

Gisella Braga:
O aluno vai trazer pra gente a experiência dele, então. é importante o professor primeiro parar, ouvir e dialogar com o aluno para tentar entender em que mundo este aluno está vivendo atualmente, porque nós temos alunos que já têm conhecimento de história por já visitarem museus, por viajarem, por conviver com adultos que já têm esse conhecimento. E nós temos um outro grupo de alunos que não tem conhecimento, então, esse primeiro levantamento, de saber qual é o meu público e, após isso, a gente inicia realmente a coleta de material.

Marcelo Abud:
Segundo passo: a coleta de dados.

Gisella Braga:
Eles vão trazer fotos, relatos escritos, eles vão ter conversas com os pais, com os avós, com as pessoas mais idosas, e, também, eles vão expor a opinião deles.

Música: “Velho Realejo” (Custódio Mesquita / Sadi Cabral), com Nelson Gonçalves
“Naquele bairro afastado / Onde em criança vivias / A remoer melodias / De uma ternura sem par”

Gisella Braga:
História, não tem como: eu preciso muito da família, porque a família é que vai realmente dizer para o aluno a origem. Então, os relatos, eles são extremamente importantes, porque é aí que a gente vai construir realmente o estudo de história. Geralmente, eu peço pra eles pedirem fotos dos avós, quando os avós tinham, por exemplo, 15 anos – a idade deles. E a gente faz um comparativo como: que o avô se vestia, que lugares o avô frequentava, aonde o avô estudava, qual era a profissão. E fazer: como que o avô, aos 15 anos, vivia numa outra década e como eles vivem hoje, nesse novo século? E eles acabam encontrando diferenças, mas também acabam encontrando semelhanças, coisas que eles têm, que eles fazem, que os avós, os pais, também faziam.

Música: “Naquele tempo” (Benedito Lacerda / Pixinguinha), com Abílio Lessa
“Em noites de luar / Em plena solidão / Acordes de violão / Um seresteiro a cantar / Abrindo mansamente as janelas, as donzelas / Ficavam a escutar o trovador / Cantando o amor”

Marcelo Abud:
Terceiro passo: Gisella Braga sugere que os alunos façam uma redação sobre as mudanças percebidas durante a coleta de dados.

Gisella Braga:
Elaborar textos onde ele possa expressar a opinião dele sobre as mudanças que estão ocorrendo desde que ele nasceu e também as coisas que ele já ouviu dos pais, dos avós, isso é muito importante. Eles ficam chocados, porque eles são uma geração que já nasceram com o virtual, já nasceram com internet. Os avós, eles não tinham essas opções. Muitos não iam aos cinemas, ao parque de diversão, alguns iam e voltavam para escola caminhando; não tinham carro, por exemplo, 1950, 1960, o Brasil era uma ‘Brasil rural’ em todas as cidades. Então, eles ficam assim ‘ah, meu avô e o meu pai nunca tinham ido ao cinema’. E aí a gente vai verificar uma outra questão: existem cidades do interior que atualmente ainda não têm cinema!

Marcelo Abud:
Com os alunos mais interessados na história da cidade e da família deles, é hora de visitar os museus da região. Esse é o quarto passo para a criação de um museu virtual.

Gisella Braga:
A priori é eles poderem ir ao local, visitarem, observar, conhecer e falar. Eu tive uma experiência no ano passado de levar eles a vários museus e eu lembro que uma das que mais me chocou foi, quando a gente voltou na outra semana para a sala, e eu perguntei: ‘vocês gostaram?’. E aí uma aluna levantou e disse assim: ‘ah, professora, eu adorei porque eu nem sabia que tinham tantos museus assim aqui na nossa cidade’. Então, tem criança que ela não tem acesso, ela não ouve falar, ela não visita, está totalmente fora da expectativa dela de ir. O protagonismo é realmente este:  quando eles saem da rotina de escola-casa e eles vão, visitam um museu, estão numa aula diferenciada. Então, realmente esse é o momento, para mim, crucial.

Música: “Minha história” (Ivan Lins)
“Minha vida é a minha história / Minha vida é a minha história”

Marcelo Abud:
O quinto passo é a exposição do material. Gisella, por exemplo, criou o “Manaus de Antigamente”, uma referência sobre a história da cidade.

Gisella Braga:
O “Manaus de Antigamente”, ele nasceu porque eu comecei a fazer um trabalho no quarto ano. Eram crianças de 10 anos e eu imaginei assim: ‘ah, os adolescentes, eles estão acessando bastante Facebook’, então, eu vou criar um para ver se eu alcanço esses adolescentes. E a minha surpresa é que eu alcancei bem mais do que adolescentes: alcancei adultos, alcancei idosos, pessoas que se identificaram com as fotos, com os relatos. Uma foto, ela diz muito, mas quando ela vem acompanhada de um relato de algo que foi vivido, muda completamente o significado daquela foto. Então, é por isso que eu bato muito na tecla de relatar, de falar, de contar. Então, assim, a história não é só aquela legenda mínima de quatro linhas, ela vai além disso aí.

Música: “Hino de Manaus” (Nicolino Milano / Thaumaturgo Sotero Vaz)
“Dentre a pompa e real maravilha / Desses belos e grandes painéis”

Gisella Braga:
Dentro da sala de aula, a gente faz muita exposição com eles mesmos, os alunos, eles mesmos acessam, imprimem, montam esses painéis. Eles contam as histórias, eles pesquisam.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Gisella Braga acredita que ao permitir aos alunos que conheçam a evolução histórica de onde nasceram e cresceram, eles passam a entender muito do que acontece no tempo presente.

Gisella Braga:
Porque história começa com oralidade, é você repassar para um grupo algo que você viveu, algo que você ouviu e esse grupo vai passar adiante futuramente. História é isso!

Marcelo Abud:
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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