A educomunicação, o educar para a comunicação, utilizada no campo da saúde pode gerar bons frutos. Isso ficou claro durante um painel sobre educomunicação e saúde que aconteceu na última sexta-feira (26/10), em São Paulo. Na ocasião, quatro participantes apresentaram suas experiências e debateram o assunto. O evento fez parte do IV Encontro Brasileiro de Educomunicação, promovido pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).

Dentre os projetos, dois técnicos do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde estiveram em Gaborone, capital do país africano Botsuana, para ministrar uma formação em educomunicação para o desenvolvimento e mudança de comportamento com relação a HIV/aids.

Mais de 40 gestores da área da saúde, representantes de organizações sociais e do governo estavam presentes e participaram das oficinas, que fazem parate de um projeto de cooperação internacional entre Brasil e Botsuana (Veja fotos acima. Crédito: Maria Rehder e Hércules Barros).

“Fomos para lá fazer uma troca de experiência. Não para dizer como eles devem fazer. O grande achado nessa troca foi que concluímos juntos. Educomunicação se faz ‘com’ e não ‘para’”, afirmou um dos técnicos, Hércules Barros. “A ideia é pensar em estratégias individuais, transformá-las em coletivas e poder colocar na prática. Sensibilizar na educomunicação é fundamental”, completou.

Durante o trabalho de formação, o grupo percebeu que deveriam trabalhar com os públicos alvos da aids. Assim, foi decidido investir em uma campanha para os caminhoneiros, já que eles circulam muito pelos países africanos e quem disseminam a doença ao transmitirem às profissionais do sexo.

“Para descobrir como sensibilizar esse homem para prevenção, as profissionais do sexo seriam as melhores parceiras, são elas que residem onde esses homens se hospedam e têm aproximação com eles”, lembrou Barros. Assim, o grupo esteve presente em prostíbulos para saber como atuar. “Dessa forma, educomunicação consegue promover uma mudança gradual. Utilizando produtos construídos em conjunto conseguimos ter esses resultados.”

“Foi preciso vocês [brasileiros] virem ao meu país para eu visitar essas mulheres e onde elas moram, sentar com elas e, pela primeira vez, falar sobre a saúde delas e dos caminhoneiros”, relatou a diretora do Departamento de Prevenção e Cuidado ao HIV/Aids do Ministério da Saúde de Botsuana, Refeletswe Lebelonyane.


Mesa de debate Educomunicação e Saúde ocoreu na sexta-feira (26/10)

A doutoranda em educomunicação e enfermeira, Elda de Oliveira, ressaltou justamente isso. Segundo ela, que tem confrontado 20 trabalhos de educação sobre drogas veiculada aos jovens pela mídia, o grande problema é que não há aproximação com o público alvo das ações de comunicação.

“Os estudos e as campanhas são realizadas por especialistas onde o jovem não participa da construção dessa mensagem. Poucos estudos falam da participação do jovem. Dessa forma, se distanciam da educomunicação. Pois o que querem é ver como atingir o jovem. Não ouvi-lo nessa construção”, pontua.

Para ela, uma comunicação efetiva deveria trazer o jovem para elaborar as campanhas. “Eles tendem a falar sobre o que é próprio, podem ressaltar questões que estão influenciando a eles mesmos no consumo de drogas.”

Já a estudante de nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Gessica Sponchiado, relatou a experiência da disciplina Educação Nutricional, feita em parceria com a Escola de Comunicação e Artes (ECA), que produz programas de rádio e vídeo, a partir dos conceitos da educomunicação.

Veja no vídeo abaixo um dos programas:

 

A ideia é transmitir noções de alimentação e nutrição dirigidas para a população em geral. O público poderá perceber por meio dos produtos da educomunicação (rádio e vídeo) e de seu próprio conhecimento, a importância de uma alimentação saudável.

“A mídia às vezes traz coisas para o mal, como reportagens sobre emagrecer seis quilos em um mês e para o bem, como analisar formas para as crianças comerem direito. Diante desse cenário, podemos usar a educomunicação para fugir da abordagem educativa convencional, pois o professor sempre é a figura central”, contou Gessica.

“O docente sabe mais do conhecimento, mas o aluno sabe mais da ferramenta, essa troca de informação é essencial. O aluno precisa fazer parte dessa experiência, para ele mudar seu comportamento efetivamente e, a partir disso, passar esse comportamento para frente”, analisou.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do Centro Educacional Marista Irmão Acácio, em Londrina (PR), também têm incluído a educomunicação em suas atividades que tratam de saúde pública. Produtos audiovisuais sobre o tema foram elaborados pelos jovens (de 11 a 16 anos) que frequentam as oficinas no local.

O processo de planejamento das ações ocorreu entre educando e educadores, resultado em oito stop motions e um documentário. “O conceito que os educandos traziam sobre saúde eram coisas como ter hospitais e postos de saúde. Não viam coisas relacionadas ao lazer, por exemplo, trabalhamos a questão de sensibilização para algo maior”, disse a integrante do Marista, Juliana Mainardi.
 


Gessica Sponchiado conta experiência da Faculdade de
Saúde Pública da USP

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