Música, pintura e dança são formas que o homem encontrou para expressar seus sentimentos e ideias, algo tão potente que há séculos incontáveis obras ajudam a contar a história da humanidade.
Porém, qual a real importância das artes nas nossas vidas? Como elas passam a fazer parte do nosso universo? Qual o papel da escola nesse aspecto? Andreia Magliano, pedagoga da equipe de Educação e Cultura Infantil do Instituto Alana, responde a algumas dessas questões e afirma acreditar na importância do ensino das artes em todas as fases da vida.
Para conduzir a discussão, Andreia toma como base os conceitos de Rosa Iavelberg, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e autora de livros sobre educação artística, como Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores, publicado em 2003. A pesquisadora define três eixos principais ao trabalhar essas noções com os estudantes: a produção, a apreciação e a reflexão.
A produção é essencial para as crianças menores, pois é seu contato inicial com a criação, quando conhecem os diversos tipos de materiais e formatos e devem expressar-se livremente, de modo a estimular a criatividade. Já a apreciação, presente em todas a idades, é o meio pelo qual os alunos começam a desenvolver seu olhar artístico e a criar repertório. Por fim, a reflexão deve ser trabalhada a partir dos oito anos, uma vez que diz respeito à sistematização, ao estudo da História da Arte e dos diferentes movimentos. Entretanto, esta abordagem deve ser feita de uma maneira significativa, que gere conexão com os jovens e tenha relação com seu mundo.
Entretanto, por que esses conceitos e conhecimentos devem ser ensinados nas escolas? “Precisamos considerar a criança como um ser que sente e pensa” e que, portanto, deve aprender a se expressar, explica a pedagoga. A arte, a criação em si, é um dos modos de fazer isso, colocando o indivíduo em contato consigo próprio e abrindo um horizonte de linguagens que ele pode usar neste processo. Como consequência, a criança desenvolve mais profundamente suas habilidades de relacionamento interpessoal, ajudando-a a criar e manter vínculos.
Andreia relembra ainda a artista plástica polonesa Fayga Ostrower, que acreditava na importância da criação para a vida como um todo. Para Ostrower, a criatividade nasce do brincar e desenvolvê-la por meio da arte (já que outros campos também contribuem para isso) traz benefícios que vão além da produção artística em senso estrito, pois enriquece a vida profissional e pessoal do ser humano.
Ao mesmo tempo, é apenas conhecendo e produzindo arte que o indivíduo adquire seu “direito à cidadania cultural” e pode participar ativamente daquilo que é oferecido. Trabalhando essas noções desde cedo, é possível ir ao museu, assistir a peças, filmes, balés, ler livros ou escutar músicas com propriedade: saber do que aquilo se trata, compreender sua importância, seu contexto e, assim, apreciar a obra em sua plenitude. “Sem isso, ficamos presos às informações que encontramos na internet ou na TV, e não é algo que se possa aprender sozinho”, afirma a educadora, que destaca a necessidade de a experiência artística não se limitar à sala de aula, para que haja uma real inserção na vida cultural.
Para concluir, Andreia propõe uma mudança na forma como a arte é abordada nas escolas: “deve ser vista como uma linguagem e não como uma disciplina”. O ideal seria usar esses conhecimentos no ensino de todas as outras matérias, ao fazer um mapa na aula de geografia ou escrever um poema na aula de literatura. Estamos acostumados a pensar nosso corpo separadamente, formado por partes, ao passo que a arte o vê como um elemento único, como na dança, por exemplo. É necessário trabalhar o pensar, o agir, o sentir e o fazer como elementos de um só conjunto.