Educar as novas gerações de alunos hiperconectados é um desafio que a professora universitária Elizabeth Fantauzzi conhece bem. Além de prestar assessoria na área de Tecnologia e Educação, Elizabeth coordena o ambiente virtual de aprendizagem eprofessor, voltado para a formação de professores e cursos sobre o uso da tecnologia na prática docente. Confira a entrevista que ela concedeu ao Instituto Embratel Claro, sobre as TIC na Educação e o ensino para a nativos digitais.

Instituto Embratel Claro: Como o aluno nativo digital lida com o modelo tradicional de escola? Hoje em dia o uso de novas tecnologias em sala é adequado?

Elizabeth Fantauzzi: É preciso ter muito cuidado ao falar sobre a relação entre o nativo digital e a escola. Os alunos pertencentes a essa geração reconhecem a importância da escola e dos professores, porém, não acreditam mais no seu modelo atual. O modelo que se apresenta hoje, da educação infantil ao ensino médio, é o mesmo que conhecemos há mais de um século – grade curricular dividida em disciplinas fragmentadas, sem interdisciplinaridade entre as áreas, procedimentos pedagógicos ultrapassados subutilizando as tecnologias ou simplesmente ignorando-as, falta de espaço para inovação e criatividade e conhecimento desconectado do mundo lá fora.

Apesar de termos avançado em uma série de aspectos – inclusive no que se refere ao uso de tecnologia aplicada a novos procedimentos pedagógicos, ainda temos uma escola centrada nas ações do professor e não no aluno. Estamos habituados a colocar o professor como o principal ator no processo pedagógico quando, na verdade, o aluno deveria estar no centro, junto com o professor. Ainda existe um certo receio de deixar os alunos à vontade no uso das tecnologias digitais e equipamentos eletrônicos, como por exemplo algo que possa fugir ao controle da aula e/ou do professor. É preciso inverter a lógica da sala de aula tradicional para que possa ser sentida uma mudança efetiva.

IEC: O descompasso entre alunos imersos no meio digital e professores “de uma outra época” está diminuindo? Quais são os grandes desafios quando o assunto é a educação para nativos digitais?

EF: Sim, está diminuindo! Embora boa parte dos professores ainda insista em fechar os olhos a todas essas mudanças iniciadas com as TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), o descompasso tem diminuído, pois é muito fácil perceber que não se pode mais voltar atrás! Acredito que o maior desafio agora tem sido em comoimplementar as tecnologias digitais de forma adequada e relevante, para que a tecnologia não seja utilizada sem planejamento ou sem intenção pedagógica.

IEC: Qual é o papel do professor nesse cenário? Como ele pode se preparar?

EF: O professor é uma peça-chave em todo esse contexto! Apesar de as instituições serem responsáveis pela estrutura física e material, o professor deve ser o start das mudanças pedagógicas dentro da sala de aula junto a seus alunos, proporcionando novos espaços conectados de aprendizagem, experimentando diversas ferramentas digitais e novas metodologias, mantendo-se próximo dos alunos, ouvindo-os mais e incentivando-os em novos projetos. O professor não deve esperar que a Instituição lhe ofereça formação tecnológica adequada para se apropriar das TIC e modalidades de ensino diferenciadas, mas sim ter iniciativa, ser sujeito da sua prática, cultivar a pesquisa para si e para seus alunos, aproveitando tudo o que a grande rede pode lhe oferecer. Atualmente, a internet está repleta de tutoriais, comunidades de aprendizagem, cursos online, MOOCs e listas de discussão, que devem fazer parte da formação indireta do profissional de educação.

IEC: Como essa nova geração de alunos pode mudar a escola? Qual é a sua imagem da escola do futuro?

EF: Acredito que essa geração tem trazido questões fundamentais para a escola repensar seus processos e autoavaliar-se, não só no que se refere ao uso das TIC, mas também em relação à disciplina, autonomia e pensamento crítico. Essas questões acabam impactando a atuação dos professores, coordenadores, diretores e o espaço escolar, resultando em mudanças, ainda que não tão rápidas como gostaríamos. O perfil cognitivo de uma geração habituada a transitar no espaço digital apresenta-nos novas habilidades comunicacionais, novos comportamentos, novas formas de se relacionar com o conhecimento e uma horizontalidade nas relações interpessoais que favorecem ambientes mais acessíveis e democráticos. Por outro lado, entendo que é de responsabilidade da escola proporcionar o bom uso das TIC, de forma relevante e intencional, mantendo tradições e valores que ainda são fundamentais para a formação de qualquer cidadão que almeja uma sociedade mais justa e igualitária.

Nesta perspectiva, vejo a escola do futuro como um local extremamente conectado, por meio de redes colaborativas, onde professores e alunos possam exercitar sua autonomia, tanto no ensinar como no aprender, vivenciando processos inovadores e criativos em diversas linguagens, onde a tecnologia seja o elo entre todos esses processos relacionais e formativos.

Gostou dessa entrevista? Saiba mais sobre a relação da escola com os nativos digitais na nossa série de reportagens “TIC na Educação”.

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