O documentário “Escola Sem Censura” mapeia a rede de atores políticos e organizações da extrema direita brasileira que promovem o projeto de lei Escola sem Partido. Além disso, ele narra o processo de perseguição a professores e professoras do Rio Grande do Sul. O filme foi realizado pelos educadores Ricardo Severo e Rodrigo Duque Estrada e está disponível online no Youtube. A produção é independente, mas contou com o apoio da Pró-Reitoria de assuntos culturais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
“A ideia surgiu quando nós trabalhávamos em um projeto sobre as ocupações estudantis de 2016, e a censura na escola era uma das preocupações dos alunos. Eles se mostravam apreensivos com os rumos do país e queriam debater política, diversidade cultural, sexual, racismo entre outros”, conta Estrada.
“A partir disso, fomos aprofundar como os professores tratavam essas temáticas nas escolas, fora das ocupações, na rotina normal dos estudantes. O que a gente percebeu era que as diretorias e muitos docentes estavam se auto censurando. Não queriam debater temas básicos, como direitos humanos, pois já recebiam pressão de pais e de agentes externos. Isso demonstrou que o problema do escola sem partido estava além do projeto de lei. Era um processo mais amplo”, revela.
Para compor o documentário, os diretores ouviram docentes secundaristas que haviam sofrido perseguição e autoridades políticas das cidades de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Além disso, monitoraram hashtags e postagens relacionadas ao projeto.
“O objetivo foi explorar esse universo ultraconservador do escola sem partido e a rede de apoiadores e articuladores que o estavam promovendo, por meio de celebridades, institutos e também partidos políticos”, denuncia.
Combate à pluralidade
Segundo Estrada, a principal contribuição do documentário é revelar a natureza política e ideológica do projeto de lei e do movimento por trás deste. “Ele trabalha com um slogan populista, porque ninguém quer um partido dentro da escola. Mas o que se defende, na realidade, é o combate a uma perspectiva de pluralidade de pontos de vista que possam gerar uma reflexão do estudante. Coíbe que esse aluno possa ter uma formação além da especialização técnica, que lhe permita se situar na sociedade onde está “, analisa.
“Segundo o artigo 205 da Constituição, a escola deve educar para a cidadania. Somos ainda um país violento, com altos índices de assassinatos de mulheres, de LGBTIs, de desigualdades e preconceito racial. Esses temas precisam ser debatidos em sala de aula para que esse futuro cidadão possa identificar injustiças quando presenciá-las e ajudar a combatê-las”, justifica.
Para completar, os diretores acreditam que o projeto tenta mascarar os reais problemas da educação brasileira por meio de pautas moralistas e sem fundamento, como a chamada “doutrinação marxista”. “Seus autores não estão preocupados com o piso salarial dos professores ou com a infraestrutura das escolas. Vale ainda lembrar que tanto os preponentes como os defensores não são pedagogos ou profissionais da educação”, lembra.
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Crédito da imagem: print do documentário “Escola Sem Censura”