A obra de Darcy Ribeiro é rica, fruto da trajetória de um homem que pensou o Brasil e participou das mudanças que sugeriu. Ela tem sua trajetória marcada por duas grandes lutas: a da causa indígena e a do ensino público para todas as crianças do Brasil.
Darcy idealizou a Universidade de Brasília (UnB), os Cieps (escolas de tempo integral) e viveu os dias difíceis do exílio pós Golpe de 1964. Veja abaixo uma seleção de sua vasta obra.
UnB – Invenção e descaminho
Avenir Editora, 1978
Em 1961, Darcy Ribeiro se junta ao educador Anísio Teixeira para planejarem a implementação da Universidade de Brasília (UnB), primeira universidade federal da capital do Brasil. Para lecionar, a dupla chamou artistas, cientistas e professores de outras instituições renomadas. O processo é contado com detalhes nesse livro.
Universidade Necessária
Paz e Terra, 1969
Nessa obra, Darcy Ribeiro faz uma análise crítica dos problemas enfrentados pelo ensino superior na América Latina. Discorre sobre como os povos latino-americanos podem usar a educação como propulsora do progresso, e também como essa poderosa “arma” pode servir como ferramenta de emancipação cultural, econômica e tecnológica.
Maíra
Editora Record, 1976
O livro conta a história do índio Avá, que vive um conflito entre sua religião e suas raízes. Ao ser convencido a seguir o sacerdócio pelo padre que o adota, vai à Roma. Na volta, passa a questionar sua fé ao sentir que traiu suas origens na tentativa de se "integrar" à sociedade cristã.
Migo
Editora Guanabara, 1988
Diferentemente de seus outros romances, que têm como pano de fundo as questões antropológicas e sociais dos povos negros e indígenas, “Migo” é uma espécie de autobiografia fictícia, que narra a vida que poderia ter sido vivida pelo autor, se tivesse permanecido em Minas Gerais, estado onde nasceu. Escrito em primeira pessoa, o personagem Ageu Rigueira faz um balanço da sua vida como escritor, revisita as escolhas que fez ao longo de sua trajetória, os amores que amou e poderia ter amado e seus amigos mais queridos. Como o próprio autor descreve a obra, “é um romance confessional, em que me mostro e me escondo, sem fanatismos autobiográficos”.
Utopia Selvagem
Editora Nova Fronteira, 1982
Espécie de fábula adulta sobre a perda da inocência, conta a história de Pitum (Gasparino Carvalhal), tenente do Exército e negro gaúcho que é capturado por amazonas durante a Guerra da Guiana. No convívio com a tribo de guerreiras, Pitum se torna o único homem autorizado a se reproduzir com elas, até que é descartado pelas amazonas e encontra outra tribo, que o proíbe de se relacionar com mulheres.
O Mulo
Editora Nova Fronteira, 1981
Em seu leito de morte, um velho coronel (o Mulo do título), sem herdeiros nem familiares, resolve deixar tudo que tem a um padre, que não conhece, e a quem resolve se confessar. A história é narrada a partir das cartas do latifundiário, que alterna preconceitos raciais e sociais com reflexões sobre dinheiro, poder e ambição.
O Povo Brasileiro
Editora Global, 2015
Definido pelo próprio Ribeiro como seu maior desafio, é também a última obra do autor antes de morrer de câncer, em 1997. Basicamente uma obra de antropologia histórica, divide o Brasil em cinco “Brasis” (sertanejo, caboclo, crioulo, caipira e sulino) e examina como cada matriz contribui para a formação étnico-cultural do país. Para o autor, é graças à sua criatividade para lidar com os desafios históricos que o povo brasileiro desenvolveu condições de avançar enquanto civilização, com suas diversidades e diferenças.
Noções de Coisas
FTD, 1995
Ilustrado por Ziraldo, “Noções de Coisas” é o único livro de Ribeiro com foco no público adolescente. A obra reúne crônicas do autor sobre diversos assuntos, que vão desde temas universais como cultura, civilização, o sistema solar e a humanidade, a temas mais simples, como minhocas e unhas. Em 1996, a obra recebeu o Prêmio Malba Tahan na categoria de Melhor Livro Informativo.
Sobre o óbvio – Ensaios Insólitos
Editora Guanabara Koogan, 1986
Coletânea de textos curtos do autor tem seu ponto alto no ensaio que dá nome ao livro, em que Darcy desconstrói “obviedades” como as de que os negros são inferiores aos brancos e que a população brasileira é de segunda classe. A resposta do pensador a tais preconceitos usa de muita ironia, no melhor estilo de “Uma Proposta Modesta”, de Jonathan Swift, e segue atual até os dias de hoje.
O processo civilizatório
Companhia das Letras, 1968
Aqui o autor traça um panorama da evolução da humanidade no mundo durante um período de dez mil anos. A partir dos escritos de Lewis Morgan e Marx e Engels, cita sete saltos tecnológicos – revoluções agrícola e urbana, do regadio, metalúrgica, pastoril, mercantil e industrial – e os doze processos civilizatórios e dezoito formações socioculturais desencadeados por eles.
Diários Índios: Os Urubu-Kaapor
Companhia das Letras, 1996
O destaque na obra de Darcy Ribeiro no que diz respeito à Etnologia se dá em “Diários Índios: Os Urubu-Kaapor” (1996). O livro é uma reprodução dos diários de campo que escreveu para a mulher, Berta Ribeiro, entre 1949 e 1951, quando trabalhou como etnólogo no Serviço de Proteção aos Índios, além de sua ajuda na organização dos três volumes da Suma Etnológica Brasileira (1986).