A inclusão social de jovens é um desafio que o sistema educacional de diversos países tenta superar. Otimizar a formação para o trabalho é um dos objetivos do novo Plano Nacional de Educação, que pretende favorecer a geração de renda e a participação dos jovens profissionais na sociedade. Nesse contexto, fatores como difusão da tecnologia, revisão do papel dos educadores e mudanças nas perspectivas do mercado ganham significativa visibilidade.
Além disso, está claro que o mundo passa por um momento no qual é fundamental aliar uma educação voltada para a prática laboral a aspectos humanísticos, que destaquem o papel do jovem como agente de transformação social. Pensando nisso, o Changemakers conversou com Luciana Allan, diretora do
Instituto Crescer, que desenvolve e participa de projetos que promovem a cidadania através da disseminação de tecnologias sociais, sobretudo aquelas ligadas à educação de jovens e crianças. Luciana atua nas áreas de informática educacional e gestão de programas sociais voltados à inclusão.
Changemakers: O crescimento tecnológico é uma realidade, no meio social e no mercado de trabalho. A educação, portanto, deve estar inserida em um contexto coerente com estas realidades?
Luciana Allan: Se os principais objetivos da educação são preparar o jovem para perseguir o seu sonho, dar continuidade aos seus estudos, ingressar no mercado de trabalho e exercer a sua cidadania, a educação precisa estar conectada com os desafios do mundo moderno. Neste contexto, a tecnologia deve motivar os jovens a estudar e também oferecer conhecimentos complementares. Estudar de acordo com a realidade, levando em consideração o
perfil das novas gerações, e o mercado de trabalho é ter um aprendizado mais interativo, colaborativo, que faça uso de diversos recursos multimídias e extrapole os muros da escola.
Changemakers: O PNE tem como meta aumentar significativamente o número de matrícula em cursos técnicos e voltados à formação profissional. Como se espera que o mercado receba estes profissionais e qual o impacto que isso pode ter na geração de renda?
Luciana: O mercado espera ansiosamente por pessoas mais qualificadas para atender os grandes desafios que o Brasil tem mapeado. O país terá, nos próximos anos, alguns grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Há ainda grandes projetos em áreas como petróleo & gás e mineração que precisam rapidamente ser implementados e conflitam com a nossa escassez de mão de obra qualificada. Para completar as vagas, empresas buscam, então, profissionais no exterior. Matéria publicada no O Estado de S. Paulo mostra, por exemplo, um aumento de 140% de contratação de mão de obra estrangeira. Isso ocorre porque, de acordo com a reportagem, 69% das 1.616 empresas consultadas afirmaram ter dificuldades para preencher as vagas com trabalhadores qualificados. Neste sentido, uma maior qualificação está atrelada a uma maior geração de renda e mais oportunidades para os jovens brasileiros.
Changemakers: O Changemakers vê a universalização da educação de qualidade como um caminho para o desenvolvimento social pleno. Sem dúvida, um trabalho com condições dignas faz parte disso. Como é possível unir uma formação baseada em valores a uma formação pensada para o crescimento profissional?
Luciana: Cada vez mais, precisamos pensar em uma educação baseada em projetos. Desta forma, é possível desenvolver diversas competências, como as pessoais (desenvolvimento da autoconfiança, por exemplo); as relacionais (aprimora a convivência em grupo, o respeito a diversidade, o compromisso com o outro etc), cognitivas (oportunidades de aprendizagem que incentivem a resolução de problemas, a leitura crítica de dos meios, vivencia para busca de informações etc ), produtivas (foco na criatividade, construção de processos & produtos etc).Neste contexto, tiramos o foco do conteúdo e trabalhamos com foco no desenvolvimento de competências e habilidades. Aí, unimos a formação baseada em valores com o crescimento profissional e pessoal.