A aprendizagem espaçada – também chamada de revisão espaçada ou prática distribuída – é uma técnica de estudo em que o estudante retoma o mesmo conteúdo em diferentes momentos, com intervalos entre as revisões.
“Esse espaçamento estimula repetidamente o cérebro, fortalecendo as conexões neurais e tornando a lembrança mais duradoura”, explica a pedagoga e bióloga pós-graduada em neuropicopedagogia Tamires de Lima Souza.
Ela aponta como benefícios para o processo de ensino-aprendizagem a formação de memórias de longo prazo e a redução do esquecimento natural, descrito pela curva de Ebbinghaus.
“A técnica também gera maior engajamento, já que o aluno percebe avanços, além de favorecer a autorregulação da aprendizagem e a autonomia desse estudante”, acrescenta.
Docente da pós-graduação em Educação da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Felipe Viegas Rodrigues afirma que a aprendizagem espaçada segue a lógica de como o cérebro retém informações.
“Existem quatro períodos principais de memória. O primeiro, de curto prazo, dura até 60 segundos, podendo se estender dependendo do foco e da atenção. O segundo dura entre 60 segundos e 12 horas e está associado à atividade do sistema de memória do lobo temporal medial, região que promove a formação de traços de memória, que são como esboços de uma memória de longo prazo, mas ainda voláteis”, ensina.
“O terceiro período vai de 12 horas a sete dias, quando a memória ainda é frágil e dependente do hipocampo. Após esse tempo, ocorre a consolidação no córtex cerebral, tornando a memória mais estável e sem um limite temporal claramente estabelecido”, completa.
Como promover a aprendizagem espaçada
Souza explica que não existe um “número mágico” para os intervalos de repetição, mas há diretrizes.
“A primeira revisão pode ocorrer logo após a aula, no mesmo dia ou no dia seguinte. A segunda, após uma semana, e a terceira, depois de 15 dias. As seguintes podem ser mensais ou antes de avaliações maiores”, orienta.
“O ideal é começar com intervalos curtos e aumentá-los progressivamente”, complementa Rodrigues.
Para ele, revisar as anotações de sala é a primeira etapa, pois destacam o que foi priorizado pelo professor. Depois, livros ou vídeos ajudam a aprofundar os conteúdos e associar informações.
“O processo de revisão também pode acontecer entre pares, por meio de diálogos sobre os conceitos estudados. Divergências podem ser corrigidas com os textos de apoio”, acrescenta.
Souza lembra que variar os formatos de revisão é essencial: “Isso ativa múltiplos canais cognitivos – visual, auditivo e cinestésico –, evita a monotonia e amplia a chance de retenção.”
Entre as estratégias, ela sugere: resumos simples e exercícios rápidos na primeira revisão; mapas mentais, debates e perguntas orais na segunda; e, nas seguintes, jogos, autoexplicação (explicar em voz alta), flashcards e experimentos.
“A aprendizagem espaçada é mais eficaz quando combinada com aprendizagem ativa, como resolver, explicar e aplicar, e não apenas ler”, reforça Souza.
Rodrigues também destaca a escrita como ferramenta fundamental.
“O ato de escrever potencializa a formação de memórias porque exige refletir, sintetizar e relacionar o conteúdo a outros tópicos. Isso fortalece os traços de memória, que passam a se apoiar não apenas em novas redes neurais, mas também em redes já existentes”, conclui.
Erros comuns
De acordo com Souza, os equívocos mais frequentes são: realizar revisões longas e cansativas, deixar intervalos excessivos que favorecem o esquecimento, focar apenas em decorar em vez de compreender e repetir sempre o mesmo formato de estudo.
“A técnica exige disciplina. É um erro começar poucos dias antes das provas, quando já não há tempo hábil para revisar uma grande quantidade de conteúdos”, alerta Rodrigues.
O professor pode aplicar a metodologia retomando conceitos de aulas anteriores no início das seguintes, propondo atividades de fixação alguns dias depois da introdução de um tema e orientando os alunos a revisarem suas anotações em intervalos planejados.
“O papel do professor é guiar os intervalos e variar estratégias, mas também ensinar o aluno a ser protagonista desse processo”, enfatiza Souza.
Rodrigues reforça que a aprendizagem espaçada dispensa sessões longas de estudo.
“Uma rotina de revisões contínuas faz com que o tempo dedicado à revisão seja proporcional e menor em relação ao já gasto com as aulas”, finaliza Souza.
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Crédito da imagem: FG Trade – Getty Images