Sou professora de uma instituição de utilidade pública há 9 anos. Meus alunos são adolescentes de classe econômica baixa, que desejam passar nos vestibulares de faculdades públicas e assim realizar o sonho de, finalmente, ter acesso a uma educação de qualidade sem ter de pagar por ela. No entanto, uma pergunta se impõe neste contexto: Como ensinar produção de textos para alunos cujas aulas de redações nas escolas resumiam-se a escrever um “tema livre”? Depois de quebrar a cabeça por muito tempo, encontrei algumas táticas que parecem surtir efeito – afinal, os índices de aprovação mostram que os alunos do meu cursinho estão passando no vestibular. E, o que é mais importante para mim, escrevendo bons textos. Questionar os modelos prontos é uma das minhas estratégias. Um exemplo que utilizo é o pacto do brigadeiro. Por estarem acostumados a elaborar somente dissertações nas escolas, percebi que meus alunos estavam presos a este gênero textual.

Ainda que a dissertação seja a mais cobrada nos vestibulares, não é a única. Portanto, para formar vestibulandos (e cidadãos) mais conscientes dos diferentes tipos de textos existentes, resolvi me comprometer gastronomicamente com o seu aprendizado. E aí surgiu um pacto (não de sangue, e sim de leite condensado e granulado) entre nós: Pacto do Brigadeiro: 1. Eu juro solenemente que sei que existem outros gêneros textuais no mundo além da dissertação; 2. Eu prometo que não farei uma dissertação quando me solicitarem uma carta, um verbete, um editorial etc.; 3. Lembrarei que a dissertação não é um coringa e só farei dissertação quando me exigirem este gênero textual; 4. Eu me comprometo a sair da “fôrma” e procurar escrever sem me ater a modelos prontos de pensamento; 5. Eu entenderei que fórmulas para escrever bem no vestibular são uma furada; 6. Eu sei que não se aprende a escrever bem com fôrmas e fórmulas; apenas com muita prática. 7. Portanto, para passar no vestibular, eu vou fazer todos os exercícios e redações que a Carina me solicitar a partir de agora – ou vou ficar sem chocolate. Muitos alunos lembram o meu pacto (e os meus doces) até hoje. Ao propor este pacto, eu procurei mostrar que também estava comprometida com o aprendizado deles, e me dispus a dar aulas até mesmo na praça da cidade quando a escola estava fechada. O resultado do empenho de ambas as partes foi delicioso.

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