Trabalho há dezoito anos na educação e sempre quis fazer o que faço. Me sinto privilegiada em sair de casa sabendo que vou fazer algo que me dar prazer. Dentre muitas experiências gratificantes, vou relatar o projeto que estou realizando agora. Esse trabalho nasceu do incômodo dos ruídos dentro da escola. É natural ouvir gritos, ruídos das vozes das crianças brincando e conversando, no entanto, nos momentos em que precisavam parar para ouvir, estava impossível, eles não conseguiam ouvir uns aos outros. Pensando em transformar esse potencial oral também em escuta ativa, realizo com as crianças, atividades de canto. Como sei muitas músicas de memória, comecei reunindo-os no pátio para apresentá-las e ver se a ideia tinha potencial para ir em frente.
Tanto no início das aulas, quanto no término do recreio, cantamos, escutamos, dançamos, paramos…Combinei as normas da atividade com todos e no dia seguinte, colocamos em prática. Primeiro relatei o que estava incomodando, o barulho. Depois, com as crianças, organizei os objetivos e as metas. Isto feito, na primeira semana, escolhemos duas músicas: Uma que explora sons e gestos repetitivos para facilitar a memorização e outra que trabalha sequência de ações, sequência numérica e rimas. Ao final do primeiro mês, todos já tem domínio das duas canções e 70% está cumprido as regras da atividade. No segundo mês, abrimos espaço para a escuta ativa dos próprios colegas: Contando adivinhações, cantando músicas, contando piadas, dizendo apenas bom dia. E o projeto está avançando a cada semana! As crianças perguntam se vai continuar, eu digo que sim, depende de cada um querer, pois o projeto é de todos.
Estou sempre trazendo músicas de qualidade, como as do grupo palavra cantada, Pato Fu para crianças, cantigas da cultura popular e estamos nos preparando para produzir um PASTORIL para as crianças vivenciarem a riqueza dessa manifestação multicultural. Através da música, é possível tocar no coração das pessoa. A música estimula uma parte do cérebro humano que acalma, produz sentimentos altamente benéficos. Não sou especialista, mas sinto que o que faço, faz diferença na aprendizagem dos alunos, que sentem-se motivados a voltar à escola no dia seguinte, sorriem no espaço escolar. A educação é muito mais abrangente do que apenas o repasse de conhecimentos construídos pela humanidade, é um fenômeno humano, especial, que transforma, faz brotar a sensibilidade, o enfrentamento à vida no mundo capitalista.