A história de Nicole é a minha história com ela. Nicole começou a frequentar escola com 2 anos e a adaptação foi difícil. Frequentou escola sem comunicar-se oralmente com ninguém. A recusa por comunicar-se, por meio da fala, quando está na escola permanece até hoje e Nicole só fala com algumas amigas mais próximas. Não fala com nenhum professor e arca com as consequências, como ficar sem nota nas avaliações orais e assumir a média que for atribuída.

No início de 2006, comecei a lecionar para Nicole e a recusa em falar, de alguma maneira, revelava um sofrimento por não participar de situações que certamente a atraíam. Fiz inúmeras tentativas para que participasse das atividades e aos poucos consegui fazer com que participasse de momentos em que a fala não se fazia necessário. Depois de quase dois meses de trabalho surgiu uma ideia para tentar quebrar o silêncio de Nicole. Em uma de nossas aulas disse a ela que suas opiniões eram muito importantes e que eu gostaria muito de conhecê-las, independente de como faria isso. Neste momento, a autoria de Nicole foi valorizada. Propus que tivéssemos um caderno para nos comunicarmos por escrito e combinei que quando o caderno chegasse ao fim, teria de falar comigo, caso tivesse interesse em manter nossa comunicação. Nicole aceitou prontamente! Por meio das muitas anotações foi possível conhecer algumas preferências de Nicole e gradativamente fui conquistando sua confiança, incentivando sua participação e valorizando suas ideias.

Quando o caderno chegou ao fim, Nicole cumpriu o trato e começou a falar comigo. Nos comunicamos até hoje! Depois de algum tempo consegui convencê-la de conversar com outros professores com quem tinha contato dizendo que eram meus amigos e que podia confiar neles. Quando saí da escola, Nicole voltou à estaca zero e escolheu calar-se novamente. Nunca gostou de comentar sobre sua escolha de não falar no ambiente escolar e disse que não sabe explicar o motivo que a leva a calar-se, na escola. Comentou que não vê necessidade em falar, pois consegue “resolver tudo” de outro jeito. Percebi que a escola tinha interesse pela verbalização como parte integrante da avaliação do processo de aprendizagem. A meu ver a avaliação deve ser um processo de dentro para fora.Na minha intervenção procurei valorizar a possibilidade de me comunicar com Nicole como modo de estabelecermos um vínculo de confiança no processo de aprendizagem e não tomá-lo simplesmente como uma forma de avaliação pedagógica.

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