No ano de 2013 efetivei-me na prefeitura de Caraguatatuba como professora de língua portuguesa e fui congratulada com a turma da Educação para jovens e adultos. No primeiro dia de aula, resolvi fazer um diagnóstico da turma já que havia uma mescla muito grande de idade, desde alunos de 16 até alunos de 60 anos. Para que tal diagnóstico ocorresse, pedi para que os alunos entregassem uma carta relatando suas experiências de vida, por meia da carta poderia perceber o nível de escrita dos alunos, todavia, o que mais me surpreendeu durante a leitura das cartas, foi a maneira como os alunos partilharam suas experiências utilizando um lirismo literário sem necessariamente ter conhecimento de tal teoria.

Nas cartas pude ler experiências de ex-presidiários, histórias de doenças, gravidez precoce, vícios, prostituição, enfim, as cartas me emocionaram. Conclui que tais situações, como disse Drummond, foram pedras que esses alunos encontraram no meio do caminho e a partir daí iniciamos um trabalho com lirismo literário. Comecei a levar poesias durante as aulas, de diversos autores, para que eles me dissessem aquilo que conseguiram entender.

O resultado foi fantástico pois alguns alunos percebiam a maneira como as poesias se relacionavam falando do mesmo tema, ou seja, sem nem saber o que era dialogismo ou intertextualidade os alunos reconheciam-nas, afinal, somos seres dialógicos por natureza. Na nossa cidade ocorreria a FLIC (Feira literária de Caraguatatuba) e a autora escolhida para ser homenageada fora Ruth Rocha. Encontramos um livro dela intitulado “No caminho de Alvinho tinha uma pedra” e resolvemos fazer um trabalho intertextual com as poesias “No meio do caminho” de Carlos Drummond de Andrade e “Pedras no caminho” de Fernando Pessoa.

Os alunos desenvolveram cartas falando de suas pedras no caminho e entregaram para os alunos do 9º ano como uma forma de utilizar suas histórias e experiências de vida para ajudar e aconselhar os alunos mais jovens, que, na minha unidade escolar, estavam apresentando sérios problemas disciplinares. Os alunos do 9º ano leram as cartas e se emocionaram muito, eles responderam e por meio deste trabalho montamos um cartaz e um vídeo para exposição na FLIC. Foi uma experiência muito gratificante pela troca que houve entre os alunos da EJA e os alunos do regular, mas, acima de tudo, por ter despertado em meus alunos o gosto pela poesia.

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