Recentemente fiz uma viagem a Honiara, capital das Ilhas Salomão, ilhas no centro-oeste da Oceania, oceano Pacífico. Por conta da fama nos cinemas, Honiara, tornou-se ponto turístico. Da capital, cheguei a Buala, civilização com certo pé no primitivismo. Descobri que o povo das Ilhas Salomão, tem de certa forma, pelas árvores, o que os indianos têm pelas vacas. Um espécime de santidade. Com a diferença que eles não idolatram as árvores como os indianos fazem com as vacas na Índia. Acontece que o sustento das cidades e mesmo da capital Honiara, vem principalmente da plantação de palmito. O mais intrigante é que para abrirem espaço no meio da floresta, para a plantação de novos palmitais, é necessário que se derrubem velhas árvores, no entanto, árvores sadias. Cortá-las, seria uma maldade, a menos que elas morressem sozinhas, portanto, arrancá-las, seria necessário para que se evitem acidentes.

O que os nativos das Ilhas Salomão fazem, é se reunirem durante trinta e três dias seguidos, pela manhã, no meio dia e pelo entardecer, em torno da árvore que se objetiva retirá-la, e três vezes ao dia, reunidos, gritam. Sim! Gritam! Gritam xingamentos, desmerecimentos, agressões verbais. Seguidos os trinta e três dias, a árvore seca e morre. Morre “sozinha” e então é só arrancá-la. Segundo os nativos, os gritos de desmerecimento matam o espírito da árvore, o que eles chamam de Leshy – animal da mitologia Eslava, que protege animais e moradores das florestas.

Vou levar essa história por toda minha vida, não apenas em minha profissão e com meus filhos, ela serve para todas as áreas de minha vida, principalmente no relacionamento com outras pessoas. Assim como as árvores nas Ilhas Salomão, as palavras têm o poder de destruir as pessoas. Importar-se com alguém é essencial, tem o poder de curar feridas – um bálsamo para a dor quando a gente se sente querido. Um abraço, um beijo, dizer “eu te amo”. Tem medo? Estou aqui. Se cair ou falhar, eu estou ao seu lado. Dar segurança, carinho. Importar-se é isso, não é? Mas nas Ilhas Salomão, quando os nativos querem parte da floresta para a agricultura, eles não cortam as árvores. Eles simplesmente se juntam ao redor delas, gritam xingamentos e dizem coisas ruins. Em alguns dias a árvore seca e morre. Não precisam de machados. Ela morre sozinha. “Com paus e pedras podemos partir ossos; mas com palavras matamos almas”. Eu aprendi, inclusive a tapar meus ouvidos quando alguém quer me tirar do caminho.

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