Meu trabalho com surdos começou, indiretamente, em 2004, em um colégio estadual de Salvador-Bahia. Eu nunca tinha tido alunos surdos. Quando entrei na sala de aula e os vi, não sabia como lidar com eles. Eram cinco alunos, e no meu primeiro ano de contato, confesso que fui indiferente. Eu, na época, ensinava para 7ª série. Não tinha noção do que era LIBRAS, Comunidade e Cultura Surda, só via alunos surdos que, naquele momento, não tinham condição de entender o que eu explicava e que, por isso, eu tinha que ignorá-los, pois eu achava que eles estavam ali para constar, em nome de uma tal inclusão; iriam passar de ano, de uma forma ou de outra. Nossos caminhos estavam cruzando-se. Os surdos e eu construiríamos uma linda amizade.

Hoje, eu sei que todo contato com o desconhecido nos causa medo e reações diversas. Minha primeira reação foi a indiferença, achava-os incapazes de aprender algo. Percebo, que é nesse momento, que entra o lado do educador. É como se fossem duas pessoas dentro de nós e que todos temos. Todas as pessoas têm receio do novo, do desconhecido, mas o que nos faz diferentes de todas, é quando reagimos a esse medo. Em 2005, uma das minhas turmas era 8ª série e tinha alunos surdos. Mais uma vez, nossos caminhos estavam cruzando-se. Se no ano anterior, eu era indiferente aos surdos, vê-los, novamente, em uma de minhas turmas, mexeu comigo. Um dos surdos se aproximou de mim (ele se chamava Anselmo e com ele tive meu contato com a LIBRAS, sempre nos intervalos das aulas, ele me dava aulas de língua de sinais, iniciamos com os verbos, depois algumas palavras) e, a cada aula, eu me aproximava do grupo.

Comecei a me interessar pelos surdos, sua comunidade, sua língua. Nesse início de descobertas, que não foram fáceis para mim, lembrei-me da história de Sócrates sobre a caverna. Muitos agem do mesmo modo em relação as pessoas surdas. Em 2006, veio meu maior desafio, fui convidada a trabalhar na Sala de Apoio aos Surdos do colégio onde trabalhava. Eu já tinha uma noção sobre LIBRAS e já estava apaixonada pelo mundo dos surdos e queria ajudá-los. Naquele tempo, eu tinha duas alternativas; podia continuar sendo professora de Português, ou podia deixar esta posição, dedicar-me a Educação Especial, particularmente aos surdos, enfrentar lutas, levar problemas e procurar soluções em casa, ou seja, vestir a camisa de um grupo que precisava de mim. Optei pela segunda, e lembro aqui uma frase de Lao Tsé “Ele não sabia que era impossível, foi lá e fez.”

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