Conteúdos

Graciliano Ramos

Nelson Pereira dos Santos
Cinema e Literatura;
Seca;
Desigualdade Social;
 

Objetivos

Conheça a versão cinematográfica da obra de Graciliano Ramos;

Compare e analise as diferenças entre as duas obras (literatura e cinema);
Reflita sobre a  desigualdade social no Brasil, especialmente na região nordeste;
Analise os personagens do romance, no ponto de vista dos Direitos Humanos;
Discuta o fenômeno da seca do ponto de vista histórico e sociológico;
 

1ª Etapa: Língua Portuguesa – Dos capítulos III ao VIII

 A segunda aula sobre as duas obras, pode entrelaçar outros 6 capítulos do livro: “Cadeia”, “Sinhá Vitória”, “O menino mais novo”, “O menino mais velho”, “Inverno” e “Festa”. Após estabelecer um tempo viável de leitura dos capítulos, o professor pode promover a exibição do trecho do filme que vai de 20 minutos a aproximadamente 1 hora de filme (até a cena em que Fabiano é solto, no DVD até o final da cena 12). Algumas possíveis abordagens:

 

Quais as lacunas internas de Fabiano (falta de recursos de linguagem) que o transformam em uma pessoa tão explorada? Sinhá Vitória domina minimamente a linguagem letrada (sabe ler e fazer contas); ela é menos explorada que Fabiano?  Como as obras (literária e fílmica) mostram a humilhação a que Fabiano se sujeita por ser uma pessoa sem recursos materiais e culturais. Segundo o relato de Fabiano, Seu Tomás era culto, mas nem por isso conseguiu manter suas terras, também teve que largar tudo. 

 

Aos 36’30’’, aproximadamente, na cena em que Fabiano reclama do patrão sobre o pagamento, ele diz uma frase: “Sou nego, não!”. Qual o significado dessa frase? Fabiano seria racista? A obra se passa em 1941/1942, mais de depois da abolição da escravatura, o trabalho escravo teria acabado? O que mudou nas relações de trabalho especialmente no Nordeste? Que formas adquiriu?

 

Fabiano é preso, torturado e solto sem explicações. Essa situação ainda existe hoje? O que dizem as leis? Como a mídia tem tratado a questão dos direitos humanos? Como os  pobres se sentem frente aos abusos do poder das autoridades?

 

Como as obras de Graciliano Ramos e Nelson Pereira dos Santos nos possibilitam repensar as condições dos migrantes e dos despossuídos? Qual a relação entre letramento e cidadania? A arte torna possível ver a realidade e desenvolver a alteridade? 

 

2ª Etapa: Língua Portuguesa – “Baleia”, “Contas”, “Soldado Amarelo”, “Mundo coberto de penas” e “Fuga”

A terceira aula pode abordar os capítulos A exibição do filme pode ir do momento da saída da prisão (60’ aproximadamente, ou capítulo 13 do DVD), ao final do filme, o que dura, ao todo, 40 minutos. Alguns temas que podem ser abordados no debate:

 

O surgimento do cangaço, como alternativa de trabalho para os homens;

 

O significado da palavra “inferno” que o menino busca. O sentido religioso, a ambientação do filme (potencializada pela fotografia “estourada”, isto é, propositadamente clara, dando a ideia do calor e da seca); as condições miseráveis de vida, não apenas da família de Fabiano e Sinhá Vitória, mas de enorme contingente populacional; a mulher diante do fogo e chorando sua vida miserável;

 

A humanização da cadela Baleia e o drama de sua morte; Como é descrita no livro? Quais as opções do diretor do filme para essa cena? Seria interessante discutir com os alunos o curta “Como se morre no cinema”, inserido nos extras do DVD. 

 

O título das obras “Vidas Secas”, remete à aridez do solo como das almas: Fabiano e Sinhá Vitória gostam dos filhos, mas agem de forma estúpida, não conhecem outro jeito. . Os meninos não têm nome. A cachorra tem, eles não. Eles não vivem, sobrevivem.

 

Dois movimentos artísticos envolvem essas obras: o modernismo de segunda geração, em que Graciliano Ramos é um dos principais representantes e o Cinema Novo, ligado ao cineasta Nelson Pereira dos Santos. Ambos integram contextos das denúncias das as desigualdades sociais, nos anos 1940/50 e nos anos 1950/60;

 

Haveria um final feliz para essa família? Qual seria?

 

3ª Etapa: Outras abordagens possíveis para Vidas Secas

História: a situação do Nordeste nos anos 1940, a repercussão da crise mundial de 1929 e a recessão; o coronelismo e o cangaço; os processos migratórios;

 

Geografia: o Nordeste e o problema crônico da seca; possíveis soluções; a atualidade da seca; a migração dos nordestinos;

 

Arte: o Cinema Novo e sua revolução na produção cinematográfica brasileira; a sonoridade do filme (sem trilha sonora, com exceção da música das festas populares), som do berrante do boiadeiro;

 

4ª Etapa: Início de Conversa

O longa metragem Vidas Secas está disponível em DVD e tem 1 hora e 40 minutos de duração. A obra literária de mesmo nome, escrita por Graciliano Ramos em 1938, foi adaptada para o cinema pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos, em 1962 e lançada em 1963. O filme tem o mérito de ser também uma obra prima do cinema brasileiro, particularmente um representante do Cinema Novo, movimento que rendeu muitos prêmios internacionais ao nosso cinema. 

 

O ideal é que o filme não substitua a leitura do livro, cabe ao professor decidir se exibe o filme antes ou depois da leitura da obra, ou analisar as duas obras comparativamente, o que pode ser bem estimulante para os alunos 

 

A obra literária Vida Secas traz um texto com poucos diálogos, que mostra o ponto de vista de cada personagem. Originalmente cada capítulo foi publicado separadamente num jornal da época. A subjetividade do texto auxiliou a inspiração do cineasta na construção do roteiro, tentando traduzir ideias em imagem e som. Um dos alicerces do drama de Fabiano é justamente a falta de comunicação, a dificuldade de se expressar verbalmente, o que gera um sentimento de impotência tanto para ele, como para sua esposa Sinhá Vitória. 

 

Um exercício interessante é a comparação entre as duas obras, analisando quais os recursos audiovisuais o cineasta utilizou para expressar o texto. 

 

5ª Etapa: Língua Portuguesa – Capítulo I e II

A leitura do romance pode ser feita concomitantemente com a exibição do  filme, por trechos. A ideia é que, após o primeiro contato com as duas obras, os alunos deslanchem na leitura do livro. Sugere-se que o trabalho comece pela leitura, em casa, dos dois primeiros capítulos de Vidas Secas: “Mudança” e “Fabiano”.  Em sala de aula, após a troca de ideia sobre os dois capítulos, pode-se exibir os primeiros 20 minutos. Alguns elementos que o professor pode chamar a atenção dos alunos:

 

Cena inicial e morte do papagaio: durante três minutos da abertura, há apenas uma câmera parada, mostrando a mesma paisagem e, durante a exibição dos créditos do filme, é possível identificar aos poucos uma família andando pelo cenário desértico. Isso é incomum nos filmes de hoje. A cena monótona mostra a forma aliada ao conteúdo: tudo é deserto, não há saída. A câmara parada, um recurso cinematográfico, desafia o espectador a prever ou inventar o que vai acontecer. 

 

A monotonia é interrompida por uma cena impactante: Sinhá Vitória mata o papagaio para alimentar sua família. Na cena seguinte, aparece Fabiano montando a fogueira. Finalmente Sinhá Vitória diz: “Também não servia pra nada, nem sabia falar”. A frase, carregada de significados, pode ser o mote para o início do debate: – Por que é preciso “servir” para alguma coisa? – Qual é a relação afetiva da família com os dois animais: a cachorra e o papagaio? – O que os alunos fariam no lugar de Sinhá Vitória. 

 

Na sequência as frases “Lá, garanto que tem pouso” (aos 7’38”, de Sinhá Vitória), “Vamos, levante!”  (aos  8’, de Fabiano)  “Besteira continuar! Não vamos chegar nunca!”

(aos 9’33”, de Sinhá Vitória) são ditas como narração, sem som direto (não se vê a atriz mexer a boca). Por que esse recurso? Pode sugerir que seja apenas seu pensamento? (Veja a tabela/ imagem/ figura no material de apoio anexo nesse plano de aula)

 

Vale discutir com os alunos sobre o tipo de cinema e de literatura que se está mostrando com pouco texto, mas muita densidade. O fato de não haver quase texto e pouca ação significa que nada acontece? Quantas informações e referências esses primeiros 20 minutos mostram?  Qual a diferença desse filme com os que costumam assistir? 

 

Alguma esperança aparece quando eles acham uma casa abandonada, a cachorra Baleia caça uma preá e começa a chuva (16’) 

 

Aos 18’30” de filme, as primeiras risadas e um texto polifônico sobre o Sr. Tomás. Os dois protagonistas falam ao mesmo tempo, como se pensassem e não interagissem, mesmo falando da mesma pessoa. Por fim, Sinhá Vitória fala de seu sonho que permeará todo o romance: “um dia vamo tê uma cama de couro, igualzinha a do Seo Tomás”. A cachorra Baleia boceja, como se conversasse com eles. 

 

No capítulo do livro, Fabiano, há a luta interna do personagem sobre ser bicho ou ser gente. Como o filme apresenta a condição humana dos personagens? Qual o papel dos animais? Como se dá a relação dos personagens com a natureza? O que significa matar um bicho para comer? O que poderia diferenciar o ser humano dos outros seres vivos na condição de retirante?

 

 

Materiais Relacionados

Sobre o escritor Graciliano Ramos, há um site bastante completo.

 
Sobre a vida e a obra do cineasta Nelson Pereira dos Santos, consulte o site 
 
Sobre a relação Cinema e Literatura, há um interessante artigo da Profª Drª Linda Catarina Gualda, que pode ser lido no link.
 
A dificuldade de se comunicar e de organizar seu pensamento é uma das características do personagem Fabiano. Um interessante texto sobre a linguagem e suas marcas ideológicas.
 
 
O filme está disponível.
 
 
FICHA TÉCNICA: Gênero: Drama Direção e Roteiro: Nelson Pereira dos Santos País de Produção e ano: Brasil/1963 Elenco: Átila Iório (Fabiano), Maria Ribeiro (Sinhá Vitória), Jofre Soares (Fazendeiro), Orlando Macedo (Soldado Amarelo), Genivaldo Lima, Gilvan Lima e outros. Música: Leonardo Alencar Produção: Luis Carlos Barreto, Herbert Richers, Nelson Pereira dos Santos e Danilo Trelles Fotografia: Luis Carlos Barreto e José Rosa Desenho de produção: João Duarte Edição: Nello Melli e Rafael Justo Valverde Duração: 103 min
 

Arquivos anexados

  1. Vidas Secas

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