Conteúdos

– Conceito do regionalismo e sua tradição na literatura brasileira
– Observação dos aspectos da linguagem literária de Guimarães Rosa
– Leitura dos contos de “Sagarana”

Objetivos

– Conhecer a literatura regionalista
– Familiarizar os alunos com João Guimarães Rosa
– Compreender a importância de “Sagarana” na literatura brasileira

Previsão para aplicação:
5 aulas (50 min./aula)

1ª Etapa: Apresentação do autor, sua biografia literária e o regionalismo

Nesta primeira aula, o(a) professor(a) deverá apresentar o nome de João Guimarães Rosa aos estudantes e discorrer brevemente sobre sua vida e obra. Caso a escola tenha datashow, mostre algumas fotos do autor e de suas principais obras.

Nascido em 27 de junho de 1908 no interior de Minas Gerais, João Guimarães Rosa foi escritor, médico, diplomata e se consagrou como um dos autores mais prestigiados na literatura brasileira. Escreveu contos, novelas e romances, inspirado pelo sertão brasileiro em suas narrativas. Marcado pelo regionalismo da terceira fase modernista, sua linguagem surge como inovação, trazendo muitos neologismos e oralidade em sua escrita. Sua trajetória literária renovou o romance brasileiro e conquistou leitores ao redor do mundo.  O autor exerceu por poucos anos a Medicina, desistiu e dedicou-se integralmente às letras.

Para saber mais, acesse a biografia de Guimarães Rosa. Acesso em: 02 de setembro de 2019.

O(A) professor(a), neste momento, deverá mostrar aos estudantes as principais obras do autor. Para isso, poderá utilizar o Datashow para exibir alguns slides das capas dos livros publicados ou fotos coladas na lousa:

Fonte da imagem. Acesso em: 03 de setembro de 2019.

“Sagarana” – publicado em 1946 – retrata a vida nas fazendas, dos costumes do povo, dos vaqueiros e todo universo interiorano do sertão mineiro. Com uma linguagem popular, narra nove contos sobre vaqueiros, jagunços e animais que se comunicam e refletem sobre a vida. Para saber mais sobre o livro sugerimos o podcast “‘Sagarana’, livro exigido pela Fuvest, mostra realidade do sertão”, com o professor Luiz Roncari. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

Fonte da imagem. Acesso em: 01 de setembro de 2019.

“Corpo de Baile” – publicado em 1956 – é a segunda obra do autor e reúne sete novelas que transitam entre si. Foi dividido em outras novelas nas edições seguintes e retrata também a vida do sertanejo. Para saber mais sobre a obra, sugerimos a leitura da entrevista com Regina Pereira. Acesso em: 04 de setembro de 2019.

Fonte da imagem. Acesso em: 01 de setembro de 2019.

Publicado em 1956, logo após “Corpo de Baile”, “Grande sertão: Veredas” tornou-se uma das obras mais importantes e conhecidas na literatura brasileira por sua característica autônoma. O livro retrata de forma simples, porém erudita, as interpretações e compreensão da vida. A narrativa gira em torno do jagunço Riobaldo e seu companheiro de luta Diadorim.

Para saber mais, acesse o resumo da obra “Grande sertão: Veredas”, do site Guia do Estudante. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

Fonte da imagem. Acesso em: 02 de setembro de 2019.

“Primeiras Estórias” – publicado em 1962 – reúne 21 contos que tratam sobre diferentes enredos. Em cada um dos contos deste livro o narrador configura sua experiência de forma diferente, atravessando estágios emocionais distintos, conforme o ponto do percurso em que se encontra.

Conteúdo “Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa”, do site Passei na Web. Acesso em: 02 de setembro de 2019.

Regionalismo e Geração de 45

A geração de 45 como é conhecida como a terceira fase do modernismo. Possui uma prosa de denso vasculhar psicológico em que se mergulha em busca de profundezas do ser, uma sondagem de envergadura nunca antes vista em nossa literatura, representada na obra de Clarice Lispector e de Lygia Fagundes Telles e outra de profunda reinvenção da linguagem, ambientada no espaço do Sertão, central na produção de Guimarães Rosa.

Para abordar o regionalismo, o(a) professor(a) irá exibir a playlist de vídeos “Regionalismo”, em seguida, iniciará uma discussão com os estudantes perguntando quais são as características do regionalismo.

*Peça aos estudantes que leiam os três primeiros contos do livro: “Burrinho pedrês”, “A volta do marido pródigo” e “Sarapalha”.

2ª Etapa: Apresentação de "Sagarana" e os três primeiros contos - "Burrinho pedrês", "A volta do marido pródigo" e "Sarapalha"

Os estudantes deverão anotar os  dados de “Sagarana” que o(a) professor(a) irá comentar, para isso, é indicada a exibição do vídeo “[Livros da Fuvest] – Sagarana (Guimarães Rosa)”, com o professor Luiz Roncari. Em seguida, o(a) professor(a) irá comentar os três primeiros contos: “Burrinho pedrês”, “A volta do marido pródigo” e “Sarapalha”.

Orientações aos estudantes:

– Escutar com atenção as principais ideias dos contos;
– Registrar duas ou mais ideias no caderno;
– A cada leitura finalizada, os estudantes serão estimulados a ler ou comentar seus registros, um por vez, enquanto os outros ouvem atentamente.

“O burrinho pedrês”

O primeiro conto do livro conta a história do burrinho Sete-de-Ouros, que já está velho e esquecido numa fazenda. Lá, o fazendeiro Major Saulo ordena aos seus vaqueiros que levem uma grande quantidade de bois para vender em uma cidade distante. Os melhores vaqueiros vão montados em cavalos jovens e fortes, porém, o vaqueiro menos importante acaba indo montado no burrinho, pois todos os outros homens se sentiam humilhados em usar como montaria um bichinho tão acabado. Um tempo depois, quando voltavam de viagem, os cavaleiros foram surpreendidos por um rio que havia transbordado por causa de uma grande enchente, e acabam se afogando junto com suas montarias.

Os únicos sobreviventes foram o vaqueiro que montava o burrinho e outro homem, pois agarraram-se no rabo do burro, que por haver passado por situações como essa antes (já que era velho e possuía muita experiência), poupou suas forças e se deixou levar pela correnteza, vencendo o alagamento. Em “Sagarana” renasce o anônimo “contador de estórias”, o homem coletivo que se enraíza nos rapsodos gregos e nas canções de festas medievais. Desde o início do conto (Era um burrinho pedrês…) esboça-se claramente a atitude ingênua e espontânea da “palavra lúdica”, que não aprisiona o falar nos limites rígidos do individualismo, mas se identifica com a palavra anônima e coletiva.

Seja pela fórmula linguística caracterizadora da narrativa elementar, da fábula, da lenda (Era um burrinho…), tempo e modo verbais que, de imediato, tiram da narrativa o caráter de coisa datada para projetarem na esfera intemporal do universo de ficção; seja pela mescla de precisão e imprecisão documental no registro do espaço (vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro); seja pela forma humana que é dada à personagem central, o “burrinho-gente”, e que situa a narrativa na fronteira entre o real e o mágico; seja pela funcionalidade das cantigas inseridas no fluxo narrativo, tudo isso e muito mais nos revela, no universo da palavra rosiana, a presença do “homo ludens” (homem lúdico), descompromissado com as estruturas convencionais do pensamento lógico.

“A volta do marido pródigo”

O segundo conto de “Sagarana” nos mostra a história de Lalino Salãthiel, que vive no interior de Minas, mas sonha com aventuras amorosas no Rio de Janeiro. Ele acaba juntando um dinheiro e viajando, deixando a esposa Maria Rita sozinha.

Depois de um tempo, seu dinheiro e sua energia acabam, e ele decide voltar para sua Cidade, onde encontra Maria Rita envolvida com o espanhol Ramiro.

Lalino, em meio a essa situação, acaba se envolvendo nas disputas políticas locais e, com a vitória do candidato que apoiou, consegue a expulsão dos estrangeiros. Com isso, é perdoado pela esposa.

A narrativa aproxima-se das novelas picarescas e é um retrato bem-humorado das oscilações interesseiras das convicções políticas do interior. Novamente temos um burrinho, animal que, como os bois e cavalos, é presença obrigatória nos contos de Sagarana, que a crítica define como um verdadeiro “tratado de bovinologia”. Esses animais são humanizados e alegorizam a própria condição humana.

“Sarapalha’

O terceiro conto traz a história dos primos Ribeiro e Argemiro, que vivem isolados com seu cachorro Jiló em Sarapalha, no interior de Minas Gerais. Os dois sofrem com a malária, doença que faz com que eles tenham febre e tremedeiras.  Enquanto está doente, Ribeiro sofre por ter sido abandonado pela esposa Maria Luísa, que fugiu com outro homem. Em meio a isso, os primos vão conversando para se distraírem dos sintomas dolorosos da malária, e numa dessas conversas, Argemiro confessa ter sido apaixonado por Maria Luísa, mas garante a ele que nunca havia faltado ao respeito com a moça e com ele.

Ribeiro, decepcionado com Argemiro, considera que ele tenha traído sua confiança e acaba expulsando o primo de sua propriedade.

A seguinte epígrafe, como em todos os contos de Sagarana, condensa o significado do texto em questão: “Coitado de quem namora!”. A linguagem do conto acompanha o clima de desgraça e doença, os momentos de tremedeira e desvario dos dois maleitosos, compondo um quadro profundo e sensível da psicologia dos vencidos pela desolação, dos efeitos morais e sociais da maleita.

Em suas andanças como médico, pelo sertão de Minas, Guimarães Rosa aprofundou seu contato com o homem primitivo, quase pré-histórico das Gerais, enquanto ia estudando idiomas: francês, inglês, italiano, espanhol, russo, húngaro, grego, latim. Da fusão da oralidade, da fala com a pesquisa do idioma, nasce a linguagem de Rosa – linguagem do sertão e do mundo.

Resumos disponíveis na página “‘Sagarana’ – Guimarães Rosa”, do site Uol Educação. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

3ª Etapa: Continuação dos próximos três contos - "Duelo", "Minha Gente" e "São Marcos"

Nessa etapa, o(a) professor(a) poderá continuar com a explicação de cada conto e sua análise. Após cada leitura, os estudantes serão estimulados ao debate sobre o que acham a respeito dos contos.

Orientações aos estudantes:

– Escutar com atenção as principais ideias dos contos;
– Registrar duas ou mais ideias no caderno;
– A cada leitura finalizada, os estudantes serão estimulados a ler ou comentar seus registros, um por vez, enquanto os outros ouvem atentamente.

“Duelo”

Voltando de uma pescaria malsucedida, Turíbio Todo flagra sua esposa, Dona Silvana, com o ex-militar Cassiano Gomes. Em meio a isso, decide reprimir sua raiva e planejar uma vingança. Porém, quando vai se vingar, acaba matando o irmão de Cassiano e foge logo em seguida, sendo perseguido por todo o interior de Minas, até que consegue se refugiar em São Paulo.

Cassiano, por conta de seu problema no coração, acaba interrompendo a perseguição ao assassino do irmão e decide se hospedar num lugarejo chamado Mosquito. Lá, ele faz amizade com Timpim Vinte e Um, homem simples a quem acaba dando dinheiro (pois o homem precisava comprar remédio para sua família).

Cassiano piora do coração, e, quando está quase morrendo, pede para Timpim que vingue a morte do seu irmão.

Em meio a isso, Turíbio fica sabendo que Cassiano morreu, e decide voltar para Minas Gerais. No caminho para a casa de sua esposa, encontra Timpim, que o mata, cumprindo a promessa que havia feito a Cassiano.

O conto pode ser lido como uma alegoria da fatalidade, de inexorabilidade do destino humano. Enquanto os homens se perdem na busca de seus objetivos, de um fim, algo superior dispõe o contrário, o imprevisto.

“Minha gente”

Neste conto, o narrador é um inspetor escolar que, de férias, visita a fazenda de seu Tio Emílio no interior de Minas. Lá, reencontra a prima Maria Irma, namorada de infância, a qual tenta conquistar novamente. A moça consegue fazer com que o primo se sinta atraído por sua amiga, Armanda, noiva de Ramiro, rapaz com quem ela queria casar.

O narrador, que gostava muito de xadrez, se vê vítima de uma exímia estrategista nas questões de amor, pois a moça consegue fazer com que Armanda se interesse pelo narrador, deixando Ramiro livre para ela.

No final, temos um duplo casamento, Armanda se casa com o narrador e Ramiro se casa com Maria Irma, sinal de que todas as estratégias da moça deram certo.

Nesse conto, o narrador-personagem, que não se identifica nominalmente, impregna sua narrativa de forte dose de lirismo. Observe também os processos de (re)invenção de palavras: por aglutinação (milmalditas) e por justaposição (até-as-pedras-se-encontram).

Repare também nas siglas C3BR (cavalo três bispos de rei), P4D (peão quatro de dama), (P)4BD (peão quatro bispo de dama) e P3CD (peão três cavalos da dama). Elas designam, de modo cifrado, os movimentos das peças ou sua posição no tabuleiro de xadrez.

“São Marcos”

Izé, o narrador, faz pouco caso das crendices populares, não perdendo a oportunidade de passar diante da casa do João Mangolô, negro tido como feiticeiro, para zombar de sua cultura e do que diziam que ele havia feito.

Durante um passeio, acaba ficando cego. Seguindo uma lenda que conhecia, tenta rezar a oração de São Marcos, que tinha fama de ser poderosa, mas continua cego.

Acaba utilizando os outros sentidos (o olfato, a audição e o tato) para se orientar, e consegue chegar à casa de João Mangolô.

Lá, ele vai para cima do feiticeiro, e acaba recuperando sua visão quando o negro retira a venda dos olhos de um boneco.

No final, Izé se despede de Mangolô e parte, agora um pouco mais crédulo em relação às crendices populares que tanto zombava.

Há, no conto, três fábulas: a do feiticeiro e das feitiçarias, a do passeio e da natureza e a dos poemas. O principal ponto de convergência se manifesta na função criativa da palavra. Nas três fábulas, a palavra é valorizada, não pela função referencial, de indicar seres existentes fora dela, mas enquanto forma de criação de novas realidades e de conhecimento, que se efetua principalmente graças ao plano da expressão. Em todas as fábulas, processa-se, assim, uma volta às origens: através da reintegração total dos sentidos, da aproximação com a natureza, da crença na força da palavra.

Conta-se, portanto, a história da revelação de um destino que se revela por um conhecimento estético superior ao universo, manifesto na imersão sensual/sensorial mágica da natureza. A cegueira de Izé é o pretexto para que o autor faça aflorar outros sentidos, outras potencialidades do ser, que são, a seu modo, a “hora e vez” do narrador, a sua “travessia” no mundo do mistério e do encantamento.

Resumos disponíveis na página “Sagarana”, do site Quero Bolsa. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

4ª Etapa: Leitura dos últimos três contos - "Corpo fechado", "Conversa de bois" e "A hora e a vez de Augusto Matraga"

“Corpo fechado”

Em Laginha vive Manuel Fulô, que tem duas paixões: sua noiva Das Dores e uma mulinha de estimação, a Beija-Fulô, cobiçada por Antonico das Pedras, que tem fama de ser um feiticeiro.

Targino, um valentão local, acaba vendo a noiva de Manuel e fala para o homem que quer dormir com ela antes de seu casamento. Para impedir que isso acontecesse, Manuel decide enfrentar o brutamonte, mas é fraco comparado ao outro.

O narrador, médico local e amigo de Manuel, não consegue ajudá-lo de nenhum jeito, então o rapaz acaba pedindo a Antonico que feche seu corpo com um feitiço.

Durante o duelo com Targino, Manuel escapa por milagre dos tiros que lhe são dirigidos e fere mortalmente o rival com uma faquinha, vencendo e tornando-se o novo valentão do lugar.

“Conversa de bois”

O conto narra uma conversa entre os bois de um carro de bois durante a viagem que fazem levando o corpo do pai de Tiãozinho para ser enterrado. Nessa viagem, acabam comentando a situação de Tiãozinho, menino que guia o carro que estão puxando.

Pela conversa dos bois, ficamos sabendo que o rapaz está amargurado por diversos motivos: seu pai havia morrido por uma doença e ele era maltratado por Agenor Soronho (seu patrão), que tinha um caso com a mãe do rapaz mesmo quando seu pai era vivo (aliás, o pai sabia da traição, mas como estava doente nunca pôde fazer nada a respeito).

Também descobrimos que a mãe nunca o protegeu de Agenor porque ele mantinha a casa em que eles viviam.

Nessa situação, percebemos que os bois sentem muita raiva do homem, e, em meio a isso, decidem bolar um plano para matar o patrão de Tiãozinho.

Quando Agenor cochila, os bois sacodem o carro e derrubam-no, passando com as rodas sobre ele. Sem desconfiar de nada, Tiãozinho fica desesperado por ver seu chefe morto, enquanto os bois lançam berros contentes. Retomando, sob outro prisma, o conto inicial “O Burrinho Pedrês”, “Conversa de Bois” é uma alegoria sobre a justiça dos animais e a crueldade dos homens.

“A hora e a vez de Augusto Matraga”

No último conto de “Sagarana”, acompanhamos a história de Augusto Esteves, um fazendeiro que gasta dinheiro com jogos e prostitutas, maltrata a esposa Dionóra, despreza a filha e enfrenta seus opositores com capangas muito violentos.

Em uma noite, sua esposa acaba fugindo com outro homem e seus capangas o abandonam porque seus salários estavam atrasados. Augusto vai tirar satisfações e é espancado por eles, atirando-se de um barranco.

Acaba sendo dado como morto pelos outros, mas, na realidade, é encontrado por um casal de negros, que cuidam de seus ferimentos.

Enquanto está se recuperando, Augusto reflete sobre sua vida e decide se livrar dos pecados cometidos para buscar redenção. Quando melhora, viaja para uma casa que possui no Tombador, ajudando o casal de negros e trabalhando arduamente todos os dias.

Depois de um tempo, ele conhece o hospedado cangaceiro Joãozinho Bem-Bem, com quem faz amizade, e acaba sendo convidado a participar do bando do cangaceiro.

Augusto recusa o convite, apesar de gostar muito da ideia de viver aquela vida cheia de violência, mas com o passar do tempo, acaba sentindo um enorme desejo de partir do Tombador.

Segue sem rumo, até reencontrar o bando de cangaceiros no lugarejo do Rala-Coco. Quando vê a ameaça de Joãozinho Bem-Bem de fazer mal à família de um velho, Augusto sente que chegou sua hora de se redimir de seus pecados. Enfrenta o bando e mata Joãozinho, morrendo em seguida pelo ferimento de bala que o outro havia feito nele.

Observe a importância do número três durante toda a narrativa: a personagem principal tem     três nomes – Augusto Matraga, Augusto Esteves e Nhô Augusto; os lugares em que transcorrem as fases de sua vida também são três – Murici, onde vive inicialmente; o Tombador, onde faz penitência; o Rala-Coco, lugarejo próximo a Murici, onde encontra sua hora e vez. Além disso, ele também vive em trios: inicialmente, na praça, ele está com duas prostitutas; em casa, ele vive com a mulher e a filha; depois de ter sido surrado e marcado a ferro, vive com um casal de pretos; e, no final, aparece um último trio: ele, Joãozinho Bem-Bem e o velho a quem protege.

Resumos disponíveis na página “Sagarana”, do site Quero Bolsa. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

5ª Etapa: Atividades

Nessa etapa, em dupla ou individual, os estudantes serão orientados a responderem as questões abaixo após o(a) professor(a) abrir o debate para dizer o que pensam sobre os contos a partir de suas anotações:

1- (Enem – 2011) “Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não… — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar… […] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. […] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. […] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.”

ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador:

a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

Resposta: Alternativa “d”. No trecho citado do livro “Grande Sertão: Veredas”, Guimarães Rosa expõe a realidade da desigualdade do Nordeste, ocasionada principalmente pela concentração de terras e pela dependência do sertanejo em relação a seu patrão. Apesar de ser um homem livre, Zé-Zim depende da proteção do patrão.

Disponível na página “Exercícios sobre Guimarães Rosa”, do site Exercícios Brasil Escola. Acesso em: 06 de setembro de 2019.

2. PUC/Camp.-SP. Sobre “A hora e vez de Augusto Matraga”, é incorreto afirmar:

a) Depois de apanhar até quase morrer, Nhô Augusto passa a viver uma vida de penitências e duros trabalhos, na tentativa de, pelo esforço do corpo, purificar a alma, comportamento típico de mártires e santos.
b) Nhô Augusto volta a sentir a sedução da violência quando se depara com o bando de Seu Joãozinho Bem-Bem, mas resiste, ainda que a duras penas, para não comprometer seu plano de salvação.
c) No duelo final com Seu Joãozinho Bem-Bem, percebe-se como, em determi­nados momentos, as intenções e desejos mais egoístas podem se transformar em instrumentos de redenção do egoísmo e doação de si mesmo: Nhô Au­gusto faz o bem (ao salvar a família do velho da vingança de Seu Joãozinho Bem-Bem) – o que garantiria a salvação de sua alma – por meio da violência destruidora que sempre o fascinou.
d) Os jagunços no conto de Guimarães Rosa são irracionais, arbitrários e praticam a violência única e exclusivamente para satisfazer seus impulsos sanguinários.
e) A transformação de Nhô Augusto depois da surra pode ser interpretada como uma morte para a vida de maldades e um renascimento para a vida devota e contrita. Neste sentido, pode ser compreendida simbolicamente como parte de um rito de passagem, como o batismo cristão.

Resposta: Alternativa “d”.  Não.  O modo de ser jagunço responde às exigências do grande sertão, “onde a pressão da lei não se faz sentir, e onde a ordem privada desempenha funções que em princípio caberiam ao poder público”.

3. UEL-PR. Assinale a alternativa correta sobre o conto “O burrinho pedrês”:

a) O burrinho era corajoso e ousado.
b) O burrinho era esperto e prudente.
c) O burrinho era teimoso e valente.
d) O burrinho era decidido e ousado.
e) O burrinho era experiente e tranquilo.

Resposta: Alternativa “e”.  O burrinho sete de ouros é um animal idoso e muito experiente. Por sua tranquilidade na hora da enchente, conseguiu sobreviver por deixar que a correnteza o levasse até a margem, salvando sua vida.

4. UEL-PR. Assinale a alternativa correta.

“A hora e vez de Augusto Matraga” é:

a) um romance de José Lins do Rego, de fundo autobiográfico, no qual é narrada a decadência de um engenho de açúcar no século XIX.
b) um conto de Graciliano Ramos em que se narram as aventuras de um buro­crata em busca de afirmação social.
c) um romance de Guimarães Rosa, narrado em primeira pessoa, no qual o narrador-personagem relata a sua vida aventurosa de cangaceiro.
d) um conto de Guimarães Rosa, narrado em terceira pessoa, que relata a queda e a redenção de um fazendeiro. As componentes básicas do mundo sertanejo são a violência e o misticismo. É a união desses dois elementos que permite a redenção de Matraga.

Resposta: Alternativa “d”. Vale sublinhar a importância do padre no conto, ou melhor, o forte papel da religião no cotidiano do sertão. Repare, por exemplo, que na cena em que Nhô Augusto leva uma surra, os agressores fazem questão de fincarem uma cruz onde acham que o corpo perdeu a vida.

A religião é o fator essencial que motiva a mudança de vida de Nhô Augusto, se a reviravolta acontece depois da experiência de quase morte e das intervenções feitas pelo padre, convém lembrar que já havia uma sementinha de religiosidade plantada no rapaz: “…Quem criou Nhô Augusto foi a avó…Queria o menino pra padre…Rezar, rezar, o tempo todo, santimônia e ladainha…”.

No trecho acima já vemos como a religiosidade fez parte da infância do menino, tendo sido um pilar importante na criação dada pela avó. Tal componente, que parecia ter se perdido, foi com a experiência da perda (da condição financeira, dos capangas, da mulher, da filha) e da iminência da morte, ressuscitada. Nhô Augusto volta a crer em Deus e a orientar a sua vida no sentido do bem.

Disponível na página “Exercícios”, do site Contos Sagarana. Acesso em: 6 de setembro de 2019.

Materiais Relacionados

1) Recomenda-se que o(a) professor(a) tenha o conhecimento básico do livro “Sagarana”, de João Guimarães Rosa. Recomenda-se utilizar a 71ª edição – Editora Nova Fronteira. Acesso em: 02 de agosto de 2019.

2) Portal bibliográfico de João Guimarães Rosa. Acesso em: 02 de agosto de 2019.

3) Um breve documentário relatando momentos importantes do escritor: vídeo “Guimarães Rosa”. Acesso em: 4 de agosto de 2019.

4) Entrevista da pesquisadora Sandra Guardini Vasconcelos, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas sobre o acervo de Guimarães Rosa: vídeo “110 anos de Guimarães Rosa”. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

5) Recomenda-se a leitura do texto “Do beco ao Belo”, de Ligia Chiappini, sobre o Regionalismo na literatura. Acesso em: 03 de setembro de 2019.

6) Artigo “A tradição do regionalismo na literatura brasileira: do pitoresco à realização inventiva”, do pesquisador Humberto Hermenegildo de Araújo. Acesso em: 05 de setembro de 2019.

7) Entrevista do Professor Luiz Roncari da Universidade de São Paulo, sobre Sagarana e a linguagem literária do autor: vídeo “[Livros da Fuvest] – Sagarana (Guimarães Rosa)”. Acesso em: 01 de setembro de 2019.

Arquivos anexados

  1. Plano de aula – “Sagarana”, de João Guimarães Rosa

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