Conteúdos

– O Islã: práticas e tradições
– Muçulmanos e sua presença no Brasil
– Tolerância religiosa

Objetivos

– Apresentar o Islã, a segunda maior religião do mundo
– Discutir temas como o radicalismo religioso
– Abordar a presença do Islã no Brasil

1ª Etapa: Início de conversa

O objetivo desse plano de aula é abordar o Islã, suas tradições principais, a presença de muçulmanos no Brasil e no mundo e contribuir para trazer ao debate a questão da tolerância religiosa, buscando repensar o lugar comum dos radicalismos. Abaixo segue um breve resumo.

A origem do Islã se dá por volta do ano 610: segundo a tradição, é quando Muhammad (ou Maomé), um comerciante de caravanas, tem uma visão do anjo Gabriel durante um momento de meditação. O anjo lhe ordena que recite o que lhe foi revelado: a primeira de muitas outras mensagens que seriam mais tarde compiladas no Alcorão. Assim, Muhammad começa a pregar as palavras do anjo, primeiro entre seu círculo familiar e de amigos, depois, publicamente em Meca, na Arábia. A cidade era muito importante, economicamente, e um ambiente plural em que havia muitas religiões, como o judaísmo e o cristianismo, e a adoração a vários deuses. Muhammad segue ensinando a fé em um único deus, Allah, que se revelou aos homens através de profetas como Abraão, Moisés e Jesus.
O último dos enviados para propagar a mensagem divina seria Muhammad, que orientava o povo a crer na supremacia de Allah, falava do Juízo Final como o dia em que todos seriam julgados por suas boas e más ações, criticava o politeísmo e o apego a bens materiais. Perseguido, direcionou-se para Medina com seus seguidores. Essa migração ocorre em 622 e é chamada hégira. O calendário islâmico é criado a partir daí.
Em Medina, as pregações se conformam como uma religião, o Islã (Islam) e seus praticantes são chamados muçulmanos. Muhammad se reafirma como profeta. Através de conciliações tribais e conversões, governa a cidade. Revelações divinas foram suas bases para solucionar questões jurídicas, sociais e morais dos habitantes. Suas orientações inspiraram o que hoje conhecemos como Sharia, o sistema islâmico de leis. Direitos sobre a herança para mulheres foram revistos, infanticídios e casamentos sem consentimento dos envolvidos foram proibidos (PINTO, 2010, p.43).
Com a propagação do Islã na Península Arábica, Meca perde prestígio e parte do controle de rotas comerciais. Há sucessivas guerras entre os dois polos, mas os muçulmanos vencem no ano 630. Em Meca estava a Caaba, que servia como um panteão politeísta e atraía peregrinações. Agora, governando também essa cidade, o Profeta destrói as imagens das divindades na Caaba, mas mantém o local como um santuário, “a casa de Deus”, e a peregrinação até lá – que é considerada um dos pilares dessa religião, “o Hajj”.
Dois anos depois desse episódio ocorre sua morte. Como Muhammad não tinha claramente nomeado um sucessor, houve inúmeras disputas pela liderança da comunidade de fiéis. Por conta dessas tensões se deu uma “divisão” entre os muçulmanos: havia aqueles que consideravam os membros da família do Profeta como seus sucessores naturais e outros que acreditavam que qualquer muçulmano poderia ser um líder, especialmente os amigos mais próximos do Profeta.

Xiitas, sunitas e os Quatro Califas sábios

Essa divisão é a origem do que atualmente são os dois maiores ramos do Islã: xiitas e sunitas. Os primeiros creem que a linhagem do profeta é especial, num sentido de devoção, e aceitam interpretações esotéricas feitas por imams (líderes religiosos). Os segundos entendem que o conhecimento e a liderança podem ser características de qualquer homem virtuoso, portanto, seguem especialistas religiosos como os shayks e a sunna, uma compilação de exemplos e histórias da vida de Muhammad (CHAGAS, 2006, p.2). O mundo islâmico é preponderantemente sunita, sendo os xiitas, atualmente, maioria no Irã.
Abu Bakr, sogro do Profeta, dá início ao que seriam os Quatro Califados, de acordo com a decisão de um conselho. Sua atuação diplomática (632-634) ajudou a consolidar o Islã na Península Arábica. Em seguida, Omar (634-644) assumiu como líder e expandiu o “mundo islâmico” através das conquistas de locais que hoje conhecemos como Síria, Jerusalém, Egito e Irã. Depois, Othman (644-656) inicia rotas ultramarinas. Costumava favorecer aliados e assim gerou os descontentamentos que culminaram em seu assassinato. Em 656, Ali, genro de Muhammad, é eleito califa. Mesmo sendo um “representante” da linhagem do Profeta, enfrentou uma grande resistência por parte de Aisha, a última esposa de Muhammad, e seus apoiadores. Entre batalhas e negociações políticas, Ali é morto em 661.
Mais tarde, a capital árabe-islâmica é transferida para Damasco e os muçulmanos estreitam contatos com heranças greco-romanas, persas e bizantinas, promovendo inúmeros desdobramentos religiosos e culturais que chegam até os dias atuais.

Os cinco pilares da fé

A prática do Islã se funda na recomendação de cinco pilares: realizar a shahada, ou seja, a conversão pública ou profissão de fé; rezar cinco vezes ao dia, de acordo com horários específicos e norteando-se pela direção de Meca (as Mesquitas costumam ter uma “marca” bastante visível desse direcionamento em suas paredes para que todos se voltem corretamente ao orar); contribuir com o zakat, uma ajuda financeira para a comunidade e para auxiliar os mais necessitados; seguir o jejum até o pôr do sol no mês do Ramadan (considerado o mais importante e um momento de aproximação com o sagrado e união com o grupo religioso) e fazer a peregrinação até a Meca, se a pessoa possuir condições de saúde para tal.

Radicalismos

A base do aprendizado do muçulmano é o Alcorão. Como qualquer livro religioso, pode ser interpretado de diversas maneiras. Há indivíduos que são literais na observação de preceitos que foram compilados no século VII, outros entendem trechos como correspondentes às tradições culturais que já vivenciam em sociedade, as quais podem parecer bárbaras para o Ocidente. Eventos como o 11 de Setembro e as ações violentas do ISIS ou Daesh, contribuem para que o imaginário popular entenda essa religião como extremista. Contudo, manipulações do texto corânico por motivos políticos, econômicos e sociais, como se dá com diversos documentos e discursos pelo mundo, não são novidade. Por isso é relevante conhecer mais do tema e buscar opiniões próprias e críticas.
É bom lembrar que a palavra Islam (submissão a Deus) tem sua origem diretamente ligada a “salam”, paz. Muitos dos preceitos do Alcorão são conselhos de fraternidade e auxílio, além de guiarem a conduta do muçulmano na evitação de vícios e busca por aprimoramento pessoal.

Muçulmanos no Brasil

Não há muitos registros oficiais realizados pelas Federações e Mesquitas sobre o número de muçulmanos no Brasil, e o último Censo ocorreu em 2010. Assim, conforme especialistas, é plausível estimar que exista atualmente no país um quantitativo de 100 mil a 200 mil muçulmanos.
Às sextas-feiras, os muçulmanos costumam se reunir para rezarem juntos em Mesquitas. Há várias delas pelo Brasil e muitas estão abertas ao público em geral para visitação turística, trabalhos escolares, reportagens jornalísticas e pesquisa. Existem também mussalas, ou pequenas salas de oração, sunitas e xiitas. Muitas estão em São Paulo, além de estados como Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Há muçulmanos que vieram de países europeus, africanos, asiáticos e do Oriente Médio; filhos de muçulmanos já nascidos no país há algumas gerações e também brasileiros convertidos. O Islã se faz presente no Brasil há muito tempo, desde a época da colonização, passando por ondas de imigração oriundas do pós-guerras e chegando à delicada questão dos refugiados. Entendendo que questões místicas e religiosas podem ser moldadas de acordo com interesses geopolíticos, é bom destacar que os muçulmanos também são alvo de preconceitos: geralmente, o que se costuma ouvir é que eles, sim, seriam os intolerantes. Por tais motivos vale a pena buscar conhecimento sobre o Islã, que já compõe o cotidiano dos brasileiros, considerando a tolerância religiosa e o respeito.

Fontes: CHAGAS, Gisele Fonseca. Conhecimento, identidade e poder na comunidade muçulmana sunita do Rio de Janeiro. 2006. 162f. Dissertação (Mestrado em Antropologia). Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2006.

PINTO, Paulo Gabriel Hilu da Rocha. Islã: religião e civilização. Uma abordagem antropológica. São Paulo: Editora Santuário, 2010.

2ª Etapa: Sensibilização do tema

Nessa etapa, o(a) professor(a) poderá convidar um muçulmano ou muçulmana para conversar com a turma, abordando sua perspectiva sobre o Islã. Reunir os alunos para uma visita a uma Mesquita, a fim de tirar dúvidas e dialogar, também é uma opção. Na impossibilidade de realizar este encontro e/ou visita, sugerimos uma pesquisa na internet mediada pelo professor, para conhecer fotografias das Mesquitas brasileiras, algumas personalidades muçulmanas, práticas e tradições.

3ª Etapa: Conhecendo o Islã

Peça aos alunos que se aprofundem no tema pesquisando e, com base nas informações que tiveram acesso nas etapas anteriores, compartilhem suas descobertas com a turma:

– Surgimento do Islã;
– Diferenças entre ser árabe e ser muçulmano;
– Heranças científicas advindas da expansão do mundo árabe-islâmico (astronomia, medicina, arquitetura, etc.);
– Figuras religiosas também encontradas nas narrativas de outros livros considerados sagrados, como a Torá e a Bíblia (Jesus, Moisés, Virgem Maria);
– Uso do véu pelas mulheres;
– Grupos extremistas.

Esclareça que a ideia não é incitar polêmicas e sim tornar mais abrangente o saber a respeito dessa religião.

4ª Etapa: Produção textual

Nessa etapa os alunos devem elaborar um texto de aproximadamente 25 linhas sobre o tema tolerância religiosa e liberdade de expressão, tendo em vista a situação dos refugiados no Brasil.

Materiais Relacionados

1) O site Brasil Escola dá uma breve e boa ideia do que é o Islã como religião. FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. Islamismo. Site Brasil Escola. Acesso em: 12 jul. 2018.

2) Preparando a turma para reconhecer as possibilidades de coexistência e tolerância entre as três maiores religiões do mundo, “os povos do Livro”: muçulmanos e o Alcorão; judeus e a Torá; e cristãos e a Bíblia. SZKLARZ, Eduardo. O Islã é uma religião tolerante. Superinteressante. 5 abr. 2012. Acesso em: 13 jul. 2018.

3) Aprofundando o tema em relação aos discursos midiáticos: estudo a respeito do Islã e a mídia, publicado logo após o episódio do 11 de setembro de 2001. MONTENEGRO, Silvia M. Discursos e contradiscursos: o olhar da mídia sobre o Islã no Brasil. Mana, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 63-91, abril de 2002. Acesso em: 12 jul. 2018.

4) Análise do ponto de vista do jornalismo internacional sobre as representações do Islã nas mídias brasileiras de maior destaque. GOMES, Ingrid. A cobertura jornalística do Islamismo – narrativas marginalizadas e moralizantes. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun, São Paulo, v. 37, n. 1, p. 71-89, jun. 2014. Acesso em: 13 jul. 2018.

5) Resenha crítica sobre o livro “Islã: Religião e Civilização”, de Paulo Pinto. Em linhas gerais, os temas mais relevantes da obra são pontuados, abrindo um canal para outras leituras e reflexões. FERREIRA, F.C.B. Resenha: Islã: Religião e Civilização: uma abordagem antropológica, de Paulo Pinto. Revista de antropologia, São Paulo, v.15, n.14-15, 2011. Acesso em: 12 jul. 2018.

6) Para saber mais sobre a presença dos muçulmanos no Brasil, assista ao vídeo do especialista Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Didático, sucinto e historicamente contextualizado. ARRESALA. Breve História dos Muçulmanos no Brasil. Prof. Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. 2012. Acesso em: 12 jul. 2018.

7) Muitas Sociedades Beneficentes Muçulmanas Brasileiras têm páginas informativas e fanpages em redes sociais, é possível tirar dúvidas sobre temas recorrentes ou polêmicos. É uma forma simples e acessível de travar contato com o discurso religioso no qual a instituição se baseia. Na página da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro – Mesquita da Luz – há muitos textos que abordam direitos das mulheres no Islã, notas de repúdio a atos terroristas e livros para download, grátis. Fonte: SBMRJ. Site. Acesso em: 13 jul. 2017.

8) Uma Mesquita que chama atenção pela beleza e por permitir visitas turísticas é a de Curitiba. Nela, rezam sunitas e xiitas, uma particularidade que é “a cara do Brasil”. Fonte: Mesquita de Curitiba (Mesquita Imam Ali ibn Abi Talib). Fanpage Mesquita de Curitiba Imam Ali Ibn Abi Tálib A.S. Acesso em: 13 jul. 2017.

Arquivos anexados

  1. Plano de aula – O Islã – olhares sobre religião, história e cultura

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