Conteúdos
– Panorama geral da filosofia helenista
– Painel geral do pensamento de Epicuro
– Interpretações possíveis da ética proposta pela filosofia epicurista.
Objetivos
– Apresentar o contexto filosófico no qual floresceram as escolas helenistas e o epicurismo em particular
– Expor os principais aspectos da filosofia de Epicuro
– Pensar e questionar a hipótese de uma vida completamente desapegada de bens materiais nos dias atuais.
1ª Etapa: Início de conversa - Apresentação do contexto filosófico de Epicuro
Como sondagem inicial, o(a) professor(a) poderá se utilizar de uma breve linha do tempo para expor a cronologia do pensamento filosófico na Grécia Antiga, será necessária a alusão de alguns fatores históricos, tais como o processo de dissolução das pólis, a unificação do território e da cultura helênica e ascensão de Alexandre Magno. A Grécia passava por uma reconfiguração geográfica e o pensamento filosófico desse período ficou conhecido como Escolas Helenísticas e tinha como um dos principais objetivos a formulação de uma ética, um sistema racional de comportamento e ação que conduziria o homem a uma vida plena. A partir daí, o(a) docente poderá iniciar algumas provocações e questionar acerca das definições iniciais de conceitos como felicidade, prazer, satisfação, riqueza, entre outros. Ainda nessa primeira aula, o(a) professor(a) deverá apresentar o nome de Epicuro de Samos e discorrer brevemente sobre sua vida e obra. Ao final, como proposta de pensamento, caberá a pergunta: “Seria possível o ser humano alcançar um estado de tranquilidade e equilíbrio tão avançado a ponto de não sentir nenhum tipo de perturbação em sua alma e nenhum tipo de dor em seu corpo? Existiria um caminho para alcançar esse estado?”
2ª Etapa: Ética, felicidade e prazer - O que é realmente necessário à existência humana?
Esse é um tema em que é possível conduzir a aula em diálogo constante com os alunos, ao introduzir a natureza geral da filosofia epicurista e o seu projeto ético, o(a) professor(a) poderá discutir com as salas acerca do quanto de bens materiais seria essencialmente necessário possuir para viver, e ainda, até que ponto a quantidade de desconforto, dores e perturbações que lidamos diariamente não estaria ligada diretamente com essa busca por prazeres materiais e acúmulo de coisas desnecessárias. Será fundamental salientar que, dentro da tradição, Epicuro ficou conhecido como um pensador de cunho espiritualista, de forma que um de seus principais objetivos seria a formulação de um sistema ético que fornecesse ao indivíduo um tipo de prazer que fosse constante, perene, e não efêmero e breve como os prazeres ligados à matéria. O objetivo último do pensamento epicurista seria cunhar um itinerário que, por meio da administração dos desejos e prazeres, conduzisse o homem à felicidade verdadeira. Assim, segundo Epicuro, o verdadeiro prazer seria alcançado por meio da Aponia, ou seja, a ausência total de dores no corpo; e da Ataraxia, isto é, a ausência total de perturbações na alma. Uma vez expostos estes dois conceitos centrais do pensamento epicurista, caberá ao(à) docente orientar o debate acerca da possibilidade desses “estados” serem alcançados. Afinal, se o verdadeiro prazer pode ser conquistado por Aponia e Ataraxia, como podemos organizar nossa vida de modo a eliminar as dores corpóreas e pertubações espirituais? A proposta de atividade poderá auxiliar nesse processo.
3ª Etapa: Atividade de interpretação e criação
Antes de iniciar a atividade, o(a) docente deverá expor em linhas gerais a proposta de Epicuro acerca dos prazeres e expor a divisão clássica de seu pensamento entre prazeres naturais e necessários, prazeres naturais e não necessários e prazeres não naturais e não necessários. Com isso, a proposta é dividir a sala em três grandes grupos e designar a cada um deles um desses tipos de prazer. Cada grupo deverá refletir e elencar o máximo possível de exemplos e, após um breve período de discussão interna, um representante deverá expor aos demais cada um dos exemplos. Depois de expostos, o(a) docente deverá conduzir o debate já expondo que a proposta de Epicuro consistia justamente na eliminação dos prazeres não necessários e na manutenção apenas daquilo que é considerado essencial para a vida, pois, segundo o filósofo, as dores e sofrimentos aos quais os seres humanos se submetem são oriundos da busca por prazeres que não nos são necessários. Assim, a Aponia e a Ataraxia, condições para o alcance do verdadeiro e duradouro prazer, só seriam possíveis por meio da ordenação adequada daquilo que é realmente natural e necessário.
4ª Etapa: Análise e resolução de questões de vestibular
Uma vez executada a atividade de criação, o(a) professor(a) poderá analisar com os alunos a questão de vestibular que trata deste tema:
(Enem 2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim:
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.
– Na primeira alternativa, lemos que a finalidade da vida humana seria alcançar o prazer moderado e a felicidade e, de fato, a filosofia de Epicuro tem como objetivo elaborar uma ética que forneça felicidade por meio da moderação dos prazeres, portanto a alternativa A está correta;
– A segunda alternativa não poderia estar correta no contexto da questão, pois não há qualquer relação direta entre a ética dos prazeres proposta por Epicuro e a vida em sociedade voltada para o cumprimento das leis. Portanto a afirmação está incorreta;
– Embora Epicuro tenha tecido vastas considerações sobre a dor e a morte, no recorte escolhido para o trabalho e no contexto da questão, não há referências à resignação e aceitação do sofrimento, assim, a terceira alternativa também está incorreta;
– A quarta alternativa não tem qualquer relação com o pensamento de Epicuro, embora não se possa falar em ateísmo, o filósofo de Samos constrói um sistema em que as divindades não aparecem como instâncias determinantes, ao contrário, é o ser humano o responsável por suas ações. Portanto, a alternativa está incorreta;
– A quinta alternativa apresenta uma afirmação absurda, pois na condição de filósofo, Epicuro afirma com veemência que nunca é tarde para começar o trabalho filosófico para se alcançar o saber. Assim, a indiferença e impossibilidade não são atributos do pensamento epicurista, logo, a afirmação está incorreta.
5ª Etapa: Análise dos resultados e conclusão conceitual do tema
Na última fase, o(a) professor(a) deverá coletar as considerações e dúvidas dos alunos em relação ao trabalho desenvolvido até então. Uma vez que os conceitos estiverem razoavelmente alinhavados, o fechamento do tema poderá ser operado por meio da análise da palavra “hedonismo”, afinal, o que significa dizer que “fulano é hedonista?” Ora, no senso comum, uma pessoa hedonista é aquela que vive para o prazer, que direciona todos os seus esforços na busca por um prazer imediato, entretanto, no sentido filosófico-epicurista, o hedonista é aquele que busca o prazer, mas o prazer real, mediato, o prazer da alma e não do corpo, assim, podemos afirmar que Epicuro é um filósofo hedonista, porém, será necessário destacar que o prazer proposto pelo filósofo não é o prazer material e sim espiritual. Nos últimos movimentos do tema, vale suscitar a possibilidade de colocar em prática a ética epicurista nos dias atuais e, a partir dessa hipótese, discutir com os alunos de que forma isso se daria e se haveria uma possibilidade real ou se trataria apenas de uma teoria impossível de se colocar em prática.
Materiais Relacionados
1 – Recomenda-se que o(a) professor(a) trabalhe com a publicação: EPICURO. Carta Sobre a Felicidade. Unesp. n/d. São Paulo.
2 – Há também uma interessante e didática abordagem de Epicuro no livro: BOTTON, Alain de. As Consolações da Filosofia. Rocco. 2001. São Paulo.
3 – No vídeo “Epicuro – O Jardim e o Tetrapharmakon” há um material de apoio sobre o autor abordado e sua teoria. Acesso em 14 de out. 2018.
4 – Dois filmes podem ser utilizados como material ilustrativo: “Na Natureza Selvagem” (2007), de Sean Pean, e o excelente “Capitão Fantástico” (2016), de Matt Ross.
5 – A questão de vestibular trabalhada foi extraída do blog Filosofia para todos. Acesso em 14 de out. 2018.