Conteúdos

Produção de texto; 

Linguagem Teatral;
Expressão Corporal;
Dramaturgia.
 

Objetivos

Propiciar a aproximação do aluno com o texto dramatúrgico

Estimular a prática da criação coletiva como princípio do fazer teatral
Desenvolver o conceito de dramaturgia e suas possibilidades de exploração
Ao final, espera-se que o aluno se aproprie do conceito de dramaturgia e das possibilidades de criação de dramaturgias coletivamente, criando maior autonomia na produção de textos e na apropriação de textos teatrais.
 
Links para os conteúdos sugeridos neste plano estão disponíveis na aba Saiba Mais.
 

1ª Etapa: Preparação.

Espaço para atividades teatrais: Todo trabalho corporal com os alunos em sala de aula coloca o grupo em uma situação desconhecida. Este tipo de trabalho, por ser incomum na maioria das escolas, gera uma grande expectativa nos alunos e isso não pode se transformar em dispersão ou confusão. Portanto, comece o encontro apresentando aos alunos o espaço, ou mesmo organizando com eles o local onde serão desenvolvidas as atividades: pode ser a própria sala de aula com as cadeiras e mesas afastadas. Envolver os alunos na organização do espaço é, para a prática teatral, uma atitude que torna o grupo mais unido e concentrado, na medida em que demonstra objetivamente a responsabilidade de todos para a boa realização do trabalho.

 

Disponibilidade corporal: Se for possível, peça aos alunos para usarem, neste tipo de encontro, roupas que não atrapalhem a movimentação; também dentro das possibilidades de cada turma, peça para que todos (inclusive você) tirem os sapatos antes de começar a aula. Caso não seja possível, não se preocupe: todos os jogos podem acontecer normalmente, essas posturas são apenas estratégias para tornar o espaço do jogo teatral mais leve e diferenciá-lo dos outros momentos de aula.

 

Materiais necessários às atividades: Organize os materiais necessários a cada proposta.

 

A roda: Durante os encontros é desejável que as carteiras, mesas e cadeiras estejam afastadas para que seja formadas uma roda com os alunos. A princípio todos darão as mãos e sentarão no chão, mas, aos poucos, estimule o grupo a formar uma roda sem dar as mãos, apenas percebendo onde cada um deve se colocar para que apareça um círculo perfeito. Com o passar do tempo você também pode orientar a turma para formar a roda em silêncio. Coloque essas questões como desafios para o grupo (pois realmente serão) e coloque-se também como desafiado (“Agora NÓS vamos tentar formar uma roda em silêncio, sem dar as mãos”), evitando dizer onde cada um deve ficar. Um bom exercício é, após a turma ter formado a roda, perguntar: “Esta é a melhor roda que podemos formar?”, “Você consegue enxergar todos os colegas?”; o grupo pode então se reposicionar (ainda em silêncio) e melhorar o círculo. Esse processo pode ser lento e muitas vezes pode tomar todo o início do encontro, mas não se apresse: quando a turma conseguir formar a roda perfeita todos ficarão muito satisfeitos e você perceberá que o grupo estará muito mais forte. Use o formato da roda também para conversas de apreciação e momentos em que for necessária a atenção de todos à conversa.

 

2ª Etapa: Aquecimento: Regendo o próprio nome.

Começa-se sorteando o primeiro aluno que será o maestro. Este aluno deverá separar o restante do grupo em subgrupos que serão responsáveis por “cantar”, cada um, uma sílaba do nome do maestro (exemplo: se o nome do maestro é Fernando ele pode designar um grupo para “cantar” Fer, outro para Nan e um terceiro para Do). Colocando-se diante da “orquestra”, o maestro deve usar gestos para que os subgrupos digam suas sílabas das mais diversas maneiras, criando uma música com seu nome. Estimule o maestro a tentar sonoridades diferentes com seu próprio nome, criando gestos que o grupo todo entenda. 

Você pode intervir no jogo para aumentar a concentração e potencializar o trabalho:

 

 

Não fale, use apenas os gestos para se comunicar!

 

Não “explique” o que você quer com seus gestos: mostre com seu gesto o que você quer que o coro faça.

 

Faça gestos claros. Faça os colegas entenderem o que você quer.

 

Experimente maneiras diferentes de usar os sons.

 

Experimente variar os ritmos, as intensidades, o volume, o tom. Que gestos podem propor isso ao coro?

 

Use pausas, seja preciso e deixe claro quando cada ala do coro deve cantar e quando deve se calar.

 

Em grupos mais maduros é possível deixar aberto espaço para que o maestro defina subgrupos para letras específicas, sibilações e acentuações (para uma maestrina de nome Bruna, por exemplo, além dos cantores de Bru e Na, também poderia haver um subgrupo que apenas repetisse a viração Brrrrrrrr). Este é um jogo que pode ser feito também depois de outros jogos com nome, inclusive em grupos que não se conhecem, sendo ótimo para que todos se apresentem e se reconheçam.

 

3ª Etapa: “Blablação”.

“Blablação” ou “Gramelô” é a substituição de palavras reconhecíveis por sons de diferentes formatos que simulam um idioma inexistente; consiste na criação de uma linguagem em que seja  imprescindível o uso de todo o corpo para se fazer entender, já que as palavras em “blablação” nunca têm significado, em si: o sentido das palavras e das frases só poderá ser entendido pelo conjunto de entonação, ritmo da fala, ações do corpo, linguagem corporal, volume e intensidade dos sons. Antes de usar este jogo com sua turma, você também pode treinar a “blablação”. Experimente falar em uma língua que você não conhece (pode ser alemão, inglês, francês, russo, japonês) e invente as palavras necessárias para compor seu discurso.

 

Para introduzir este jogo, peça para que os alunos formem duplas e conversem entre si em “blablação”, todas as duplas ao mesmo tempo. Perceba que muitos usarão palavras com sons próximos de palavras em português, tentarão a todo custo se fazer entender usando recursos da língua que conhecem. Troque as duplas duas ou mais vezes, fazendo com que os mais resistentes a abandonar o português se misturem com os que já estejam mais fluentes em “blablação”.

 

Em seguida, forme uma plateia de um dos lados da sala e sorteie uma dupla para ir à frente.Coloque duas cadeiras no espaço de jogo e faça com que os jogadores sentem-se casualmente, como se estivessem na sala de casa ou na escola, em uma situação cotidiana. O primeiro jogador deve, então, contar ao segundo uma coisa que lhe tenha acontecido, sempre usando o idioma da “blablação”. Em seguida, o segundo jogador deve, também em “blablação”, contar algo ao primeiro. Não permita que os jogadores façam mímicas de seus relatos. Incentive-os a encontrar as palavras em “blablação” para contar suas histórias. Sorteie uma nova dupla (é importante que as duplas sejam sorteadas no momento do jogo, para que os alunos não combinem entre si o que vão contar) e reinicie o jogo.

 

Ao fim de cada conversa, pergunte o que cada um dos jogadores contou para o outro e o que o outro entendeu. Pergunte também à plateia o que foi comunicado pela dupla.

 

Há muitas formas de utilizar a “blablação” em jogos teatrais. Você pode pedir que um aluno vá à frente do grupo e venda um produto aos colegas em “blablação”, pode pedir que uma cena que o grupo já fez seja refeita em “blablação” ou mesmo utilizar este recurso em outros jogos onde o grupo esteja resolvendo todos as situações com a fala, sem utilizar o corpo e as ações na cena.

4ª Etapa: Mesmas palavras, muitos discursos.

Para esta atividade, o professor deve separar para cada aluno, escrito em um pedaço de papel, uma frase curta. Todas as frases podem ser retiradas de um mesmo texto, de preferência um texto que os alunos já conheçam, que estejam trabalhando em aula ou que tenham lido recentemente. Não é necessário que este texto seja teatral, pode ser uma poesia, uma crônica, um conto, etc. Escolha um texto que tenha palavras que os alunos conheçam, ou então faça preliminarmente uma leitura esclarecendo para todos os significados das palavras.

 

Distribua os pedaços de papel para os alunos e peça que andem ocupando todo o espaço da sala. Na atividade, atente para três detalhes que vão ajudar muito a aumentar a concentração e tornar o jogo mais dinâmico: 

 

1- Peça que evitem andar em círculos, variando o máximo as direções do deslocamento.

 

2- Peça que ocupem o espaço da sala de maneira homogênea, para que não ocupem todos o mesmo lado ou que se amontoem no centro. Devem ocupar TODO o espaço.

 

3- A atividade é feita em silêncio. É uma tarefa difícil, mas com o tempo o grupo se acostuma e isso torna toda a atividade muito mais desafiadora para eles.

 

Quando o grupo estiver concentrado e em silêncio, o condutor deve pedir para que leiam o texto que receberam. Primeiro, eles leem em silêncio (dê o tempo para que leiam duas ou três vezes), depois peça para que leiam em voz baixa, para si mesmo. Na sequência devem experimentar ler seu texto em voz alta, concentrando-se apenas na sua fala, sem se dispersar com a fala dos demais. 

 

Aos poucos, estimule os alunos a lerem seus textos experimentando diferentes maneiras de dizê-lo. Algumas intervenções suas podem ajudar nesta tarefa:

 

Diga seu texto em diferentes velocidades: rápido, devagar, muito rápido, muito devagar.

 

Diga uma palavra de cada vez.

 

Não se esqueça de variar as entonações: diga seu texto alegremente, depois tristemente, decepcionado, eufórico, pacientemente, professoral, interrogativo, irritado, furioso, amoroso. Experimente entonações e estados de espírito para dizer seu texto.

 

Perceba como o texto pode mudar de sentidos dependendo das suas pausas e das suas entonações.

 

Deixe que uma maneira de dizer o texto influencie a próxima. Deixe que cada palavra influencie a maneira de dizer a próxima.

 

Deixe que as palavras te surpreendam.

 

Se achar uma maneira interessante, repita-a quantas vezes for necessário.

 

Deixe que os alunos se divirtam experimentando as diferentes formas de dizer as palavras. Quando achar que todos experimentaram o suficiente e descobriram maneiras realmente diferentes e/ou inusitadas muitos alunos já terão decorado o texto e não precisará mais do pedaço de papel. 

 

Forme com os alunos uma plateia de um dos lados da sala. Um a um, cada aluno deve ir até o centro e fazer um discurso para convencer a plateia a votar nele para presidente. A única regra é que o orador poderá usar apenas as palavras contidas em seu pedaço de papel.

 

No início, pode ser difícil para o grupo se desvincular do sentido mais evidente da frase. Estimule cada aluno a usar as palavras da maneira que achar necessário: ele pode manter o sentido das palavras e alterar sua posição na frase, desmontando o texto original; pode usar as palavras com duplos sentidos, referindo-se a coisas que não estão nomeadas por suas palavras; pode até mesmo usar o texto sem dar nenhuma importância ao sentido das palavras, usando-as como a “blablação” da etapa anterior e dando todo o foco para as entonações, ritmo e variações de intensidade da fala.

 

5ª Etapa: Apreciação.

A apreciação coletiva é a forma como avaliamos um jogo ou um dia de atividades de maneira que todos possam colocar suas questões, críticas e sugestões. A melhor forma de fazê-la é colocar para o grupo perguntas que você realmente não conheça a resposta, mas que possam lhe fazer entender como cada um se aproximou e se apropriou de cada momento do encontro.

 

Cada grupo encontra uma maneira de fazer com que todos tenham voz e que os comentários e críticas não sejam pessoais ou agressivos, mas cabe a você, professor, conduzir a conversa de forma que todos possam compartilhar suas impressões e colaborar com o desenvolvimento do grupo. É interessante que a apreciação possa ser feita em roda, com todos e no mesmo dia das atividades, para que a experiência vivida coletivamente esteja fresca na memória de todos. Algumas perguntas podem ajudar no processo: 

 

Como você utilizou seu corpo no momento da “blablação”?

 

Você pôde entender o que os colegas disseram em “blablação” mesmo sem entender o significado exato das palavras? Isso acontece em outras situações, como quando ouvimos alguém falar uma língua estrangeira?

 

Como seu corpo se comportou para que os colegas entendessem o que você dizia em “blablação”?

 

As palavras mantiveram seu sentido em todas as situações?

 

O que aconteceu no corpo dos jogadores para que as palavras variassem seu sentido?

 

Existiu diferença entre o que você desejava comunicar e o que você realmente comunicou? Porquê? Como seu corpo e suas ações ajudaram ou atrapalharam sua comunicação?

 

O texto final corresponde à improvisação que o gerou? O que o jogador-dramaturgo incluiu no texto ajudou ou atrapalhou a cena? Porquê?

 

Materiais Relacionados

Para estimular o trabalho com a “blablação” busque vídeos e arquivos de áudio que mostrem pessoas falando línguas estrangeiras sem legenda. Desafie os alunos a traduzir o que o vídeo ou áudio diz apenas pela entonação e ações das pessoas que dizem.

 
Alguns exemplos para começar:
 
 
 
 
Referências bibliográficas:
 
DESGRANGES, Flávio. “A Pedagogia do Espectador”, São Paulo: Hucitec, 2003
 
KOUDELA, Ingrid. “Jogos Teatrais”, São Paulo: Perspectiva, 1984
 
SPOLIN, Viola. “Improvisação para o teatro”, São Paulo: Perspectiva, 1978
    “Jogos Teatrais – o fichário de Viola Spolin”, São Paulo: Perspectiva, 2001
 

Arquivos anexados

  1. Dramaturgias coletivas

Tags relacionadas

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.