“Como um ser humano que comete atrocidades consegue dormir em paz?”. Segundo a professora de literatura Marta Medeiros, foi a partir deste incômodo, cultivado a partir da leitura de “Os pescadores” (1923), de Raul Brandão, que Djaimilia Pereira de Almeida escreveu “A visão das plantas” (2019). O livro faz parte da lista de leituras obrigatórias da Fuvest 2026 a 2029.
Nascida em Angola, em 1982, Pereira é a escritora mais jovem da lista. Com uma narrativa poética, a autora conta a história de Celestino, um violento traficante de escravos que volta para casa em Portugal para viver seus últimos anos. No retorno, encontra uma casa abandonada e vazia, a não ser pelas plantas que ele passa a cultivar.
Sem demonstrar culpa alguma por todas as maldades que praticou ao longo da vida, incluindo assassinatos, ele convive com a indiferença das plantas. “Elas não se preocupam se quem as rega é alguém que fez muito bem para a humanidade ou seu algoz”, analisa a professora.