Durante o curso de pedagogia, Ana Mayra Samuel da Silva estagiou na escola municipal de ensino fundamental (EMEF) “S”, em Presidente Bernardes (SP). A instituição atende 380 estudantes, do 1º ao 5º ano, com deficiência física, visual, intelectual, incluindo de aprendizagem, transtorno do déficit de atenção e do espectro autista. “Eu presenciei ações excludentes praticadas por gestores e professores, como a transferência de estudantes da educação especial para instituições especializadas devido ao despreparo dos profissionais da escola”, relembra.
Em 2016, Silva iniciou o mestrado em educação na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Coincidentemente, nesse mesmo período, as diretoras da EMEF convidaram um grupo de pesquisa da Unesp para ajudá-las a rever suas práticas inclusivas. Foi assim que a ex-estagiária voltou a colaborar com a sua antiga escola, agora na condição de pesquisadora. Para isso, ela escolheu como objeto de estudo de seu mestrado acompanhar o papel da gestão da EMEF no processo de inclusão.
“A equipe gestora escolar, composta por diretora, vice-diretora e coordenadora pedagógica, é capaz de estabelecer mudanças na estrutura organizacional da escola e no ambiente educativo, uma vez que podem desenvolver ações que promovam a inclusão e atuar na conscientização de seus professores e funcionários”, justifica.
Equipe plural
A parceria entre a universidade e a escola pública resultou em uma formação colaborativa da gestão. O próximo passo foi envolver a Divisão Municipal de Educação no processo. “Foi solicitada uma formação para professores e funcionários das escolas públicas municipais, houve o requerimento de uma sala de recursos multifuncionais (SRM) e pedimos o desenvolvimento de ações intersetoriais”, destaca.
A SRM é um ambiente dotado de equipamentos pedagógicos e tecnológicos, mobiliários e materiais didáticos para a oferta do atendimento educacional especializado (AEE). O grupo reuniu a documentação necessária para que a escola solicitasse ao Ministério da Educação (MEC) a sala especial. “Porém, devido às mudanças governamentais do país, a EMEF não foi contemplada”, lamenta Silva.
Após pensar em alternativas, a gestão conseguiu que a SRM recebesse recursos financeiros do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Acessibilidade, em 2017. Com a implementação da tão aguardada sala, a equipe traçou parcerias com outros setores, como profissionais do Centro Municipal de Saúde e também com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neuropediatra, assistente social, promotor de justiça e professor especialista em educação especial participaram dessas ações.
As atividades na SRM são desenvolvidas no contraturno e atendem estudantes selecionados. “Nela, o professor planeja o atendimento de acordo com as necessidades do aluno. O objetivo é que aula promova o desenvolvimento de habilidades e potencialidades do estudante de forma autônoma”, explica a professora.
“Um exemplo é o caso de um estudante com deficiência intelectual, no 2º ano do ensino fundamental, em processo de alfabetização. O professor especialista pode desenvolver na SRM atividades lúdicas com alfabeto móvel, jogos e recursos pedagógicos e objetos educacionais, para auxiliar o aluno a construir os conceitos necessários para esse processo de formação”, ilustra.
Para completar, todas as ações iniciadas pela gestão passaram a ser utilizadas para atender estudantes de outras instituições de ensino. “A SRM contemplou dez estudantes e, a intersetorialidade, 15 estudantes”, esclarece. “Embora tenha sido desenvolvido no âmbito da EMEF, o projeto foi efetivo para transformar o cenário educacional municipal”, comemora.
Segundo Silva, graças ao trabalho de formação da equipe gestora e das ações intersetoriais, aquela antiga escola excludente não é mais encontrada.
“Cabe ressaltar a importância da instrução da equipe para que seus integrantes transformem seu olhar para as diferenças que estão presentes no contexto escolar”, reforça. “A função da escola é formar integralmente o ser humano e atender às diferenças que o caracterizam, assim, as instituições de ensino precisam se organizar de maneira que consigam garantir igualdade de condições de acesso e permanência com qualidade para todos”, finaliza.
Atualizada em 16/3/18 às 12h30.