A Copa do Mundo de 2018 foi vista pelo professor de educação física do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (Campus Parnamirim), Alison Pereira Batista, como uma oportunidade para ensinar o futebol de forma diferenciada. Para isso, ele desenvolveu o projeto “Copa do mundo, futebol e revistas digitais: uma nova forma de aprendizagem”. A proposta era simples: durante onze semanas, promover diferentes atividades relacionadas ao esporte que culminariam com a produção de uma revista digital feita pelos próprios alunos.

“O ensino do futebol, geralmente, está relacionado a ensinar o estudante a jogar e, no máximo, trazer a história do esporte. Pensei nas revistas digitais por aliar a questão da tecnologia, que eles gostam, com o gênero revista, que eles possuem pouco contato”, justifica. “O consumo dessa linguagem midiática pelos jovens vem se perdendo. Os alunos acabam utilizando a internet mais para acessar e se comunicar via redes sociais”, complementa.

Construindo argumentos

A primeira parte do projeto contou com a experimentação do esporte. Além disso, os jogos foram utilizados como pretexto para discutir três temas: violência, desigualdade de gênero e fair play (em inglês, “modo leal de agir”, conceito ético em que os participantes não prejudicam propositalmente o adversário). “Todas essas definições não foram trabalhadas em sala de aula, mas na prática”, aponta o educador.

A segunda parte do projeto contou com a organização de um júri simulado em que os alunos deveriam defender e criticar o fato de perder um jogo propositalmente para conseguir vantagem em algum momento do campeonato, como cair em uma determinada chave ou jogar com um adversário considerado mais fraco. Isso exigiu que os alunos lessem e pesquisassem para compor seus argumentos.

Por fim, as turmas foram divididas em grupos e começaram a produzir as revistas. “Eles poderiam escolher um tema que gostariam de tratar. Alguns abordaram os memes, outros o futebol relacionado à ciência. Um grupo de meninas optou por criar a revista ‘Por trás da bola’, que trazia matérias sobre o que acontece com jogadores que se aposentam ou se lesionam”, conta o professor. “Para ajudá-los, abri horários na escola para orientação dos projetos e tirava as dúvidas via redes sociais e e-mail”, aponta.

Alunos possuíam pouco contato com revistas antes de iniciarem as pesquisas (crédito: divulgação)

 

Além de produzirem textos, os próprios alunos se dividiram para diagramar as revistas. “Alguns fizeram em formato Word, PowerPoint e PDF. Outros transformaram o conteúdo em revistas digitais e disponibilizaram na internet, com ferramentas de troca de páginas. Tudo isso partiu deles”, comemora.

Mais do que a bola

Enxergar novos temas correlacionados ao futebol foi um dos ganhos apontados pelo aluno do 2º ano do ensino médio, Daniel Luan Lourenço, de 15 anos. “Eu percebi, pesquisando sobre o assunto, que nem tudo se resume ao que acontece no campo. Tem muita coisa por trás disso. O trabalho fez isso ficar mais claro. As coisas que acontecem antes e depois do jogo, como o uso de drogas e influências ideológicas, passam batido e poucas pessoas vão atrás dessa informação, pois estão vidradas no clássico do seu time favorito”, relata.

Apresentar novos temas correlacionados ao futebol foi um dos ganhos do projeto (crédito: divulgação)

 

Opinião semelhante possui o aluno do 2° ano do curso de informática, Gilvan Araújo. “Percebemos que alguns assuntos importantes deveriam estar sendo tratados por essas revistas e não são. Decidimos falar, principalmente, de inclusão em nossa revista, e o tema ‘plus size no futebol’ caiu como uma luva”, acrescenta.

Para professores que desejam se inspirar na prática, Batista defende as revistas como uma ferramenta que estimula os alunos a lerem e a se expressarem. “Eles estão acostumados com textos curtos nas redes sociais. É uma forma de terem contato com outras formas de expressar conhecimento”, opina.

Saiba mais:
Série de podcasts explica sobre bandeiras e hinos das nações da Copa do Mundo

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Como ensinar ginástica na educação física escolar?

Professoras indicam 8 possibilidades para desenvolver com alunos do ensino fundamental

11 formas de acolher o aluno com síndrome de Tourette

Ambiente inclusivo evita que estudantes sofram com bullying e dificuldades de aprendizagem

16 jogos de mão para apresentar às crianças na escola

Educadora indica brincadeiras para trabalhar rimas e musicalidade com os alunos

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.