Um aluno é tímido, outro lê muito, um outro ainda gosta de vídeos. A tarefa de atender alunos diferentes torna-se um desafio diário para o professor. “Com o passar dos anos, não conseguimos progredir em como oferecer educação. Damos uma instrução aos estudantes que não se aplicam a todos. Eu era professor de matemática, e a única coisa que me diziam era para eu fazer o meu melhor”, disse o diretor da ONG New Classrooms, Joel Rose, durante o evento “Transformar”, debate sobre a evolução da educação realizado, nesta quinta-feira (4/4), em São Paulo (SP), entre especialistas estadunidenses.

Veja também:
– Grupo de brasileiros busca iniciativas inovadoras de educação pelo mundo

De acordo com Rose, que trabalha auxiliando escolas a implantar a Teach to One (Ensine para Um, em tradução livre) — uma nova proposta de aprendizagem de matemática, a saída foi passar de salas de aula cheias para o que chamou de “multi modal”, a formação de pequenos grupos de trabalho que permitiriam a personalização do aprendizado.

A sugestão do diretor é baseada na montagem de um mapa de habilidades dos alunos feita após uma avaliação, no início do ano. Com isso, foi possível planejar uma forma de propor um ensino para cada determinado aluno. “Nosso algoritmo pega resultados do aluno junto com seu perfil e cria uma programação de aprendizagem. Se ele for bem, vamos adiante. Se não, mudaremos a técnica”, explica.

Já a integrante da High Tech High, grupo de 11 escolas em San Diego, Califórnia, Melissa Agudelo, não acredita que os alunos deveriam ser divididos por habilidades, pois há uma tendência natural de segregação de acordo com classes sociais e diferenças étnicas. O grupo High Tech trabalha com integração de currículo baseados em projetos para cada aluno. “Nossa vida não é assim, tudo integrado? Temos um professor da área de humanas que trabalha história e inglês, por exemplo. Seguimos o currículo estadual, mas cada aluno terá que fazer um projeto próprio.”


José Ferreira, Melissa Agudelo e Brian Waniewski, representantes
de diferentes atuações no ensino

A ideia é que em salas pequenas, de no máximo 26 alunos, os estudantes pensem em projetos que estejam baseados em suas paixões pessoais. “Eles terão uma experiência mais significativa e nem precisarão se preocupar com o objetivo daquilo, porque estará claro para eles. A sala de aula tem que estar conectada com o mundo real”, ressalta. Despois de formados no ensino médio, 86% dos alunos das 11 escolas permanecem estudando no ensino superior.

O diretor da Knewton, empresa de ensino adaptativo, José Ferreira, lembrou que, no início da revolução industrial, também as escolas começaram a ser tratadas como fábricas e os alunos como linha de produção. O ensino ficou mais barato por aluno, mas o conteúdo passou a ser o mesmo para todos, apesar de os estudantes não serem iguais. “Eu nunca me adaptei a esse modelo de escola. Há estudos que revelam: após 22 minutos de exposição de um conteúdo, os alunos começam a dispersar”, afirmou. “A educação online será um grande salto, podemos diminuir gastos com infraestrutura e trazer o ensino com qualidade”, prevê. Para ele, em duas décadas, o ensino pela web estará massificado.

Atualmente, mais de um milhão de alunos experimentam uma plataforma de ensino adaptativo da empresa de Ferreira. “Você coloca uma pergunta e a plataforma traz quem são os ‘cadastrados’ ali que podem respondê-la. São em torno de 5% aqueles que são potencialmente semelhantes a você, [que têm condições de discutir o assunto]. Usamos a sabedoria das multidões e compilamos”, explica. Na Universidade do Alabama, no estado de mesmo nome, o número de alunos que passam de ano aumentou em 87%.

Motivação
O integrante do Institute of Play, estúdio de design para criar novos modelos de ensino, Brian Waniewski, enfatizou que as avaliações atuais de aprendizagem apenas tiram uma foto do conhecimento que está na cabeça do aluno. Segundo ele, é preciso ir além. “É importante motivar o aluno. As crianças se envolvem naturalmente com jogos, e isso pode estar no ensino, porque a natureza de um game é ser um espaço interessante, com meta clara”, analisa.


Jogos na Quest 2 Learn são pensados por um professor,
um designer de jogos e um coordenador pedagógico

Os jogos usados na Quest 2 Learn, escola pública de Nova York que o Institute of Play ajudou a criar, são pensados por um professor, um designer de jogos e um coordenador pedagógico. A maioria dos games (70%) não é virtual, mas construídos com materiais básicos, como papelão. “No final do semestre, temos um teste colaborativo e as crianças nem sentem que é uma avaliação. Olhamos as competências emocionais, se conseguem trabalhar em grupo, inovar. Queremos que os alunos aprendam a pensar.”

A diretora da Summit Public School, da Califórnia, Diane Tavenner, afirma que os professores não podem ser culpados pelo ensino atual, já que o sistema de educação como um todo é falho. Para ela, é possível criar melhor ensino público com mesma verba. “O aluno tem que estar no centro e ele deve pensar o que quer aprender. Temos que ensiná-los a direcionarem seus aprendizados. Trabalhar com um objetivo e autonomia deles”, aponta.

Baseados em quatro pilares – personalização, conexão com o mundo, interesse comum em aprender e o professor como designer do aprendizado –, durante dois meses, na Summit Public, os estudantes realizam a chamada expedição: experiências na comunidade, como escrever uma peça, criar um jornal ou uma horta, de acordo com a preferência de cada aluno.


“O aluno tem que estar no centro e ele deve pensar o que quer
aprender”, disse diretora da Summit Public School. Ao lado,
 Joel Rose

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