Despertar o olhar dos alunos para o seu entorno. Esse era o desafio da professora de português Rosa Maria Martins Pereira, que leciona no município de Rio Grande (RS). A ilha é composta majoritariamente por pescadores e a comunidade que vinha sofrendo sistematicamente com escassez de camarão, enchentes e desemprego. A educadora, então, decidiu propor para sua turma da oitava série da E.M.E.F. Cristóvão Pereira de Abreu que fizessem uma crônica sobre algo do cotidiano da cidade. Para a sua surpresa, os estudantes não conseguiam visualizar assuntos do seu dia a dia que ‘valessem a pena narrar’. 
 
“Os alunos não enxergavam novidades no lugar onde vivem. Não valorizam os saberes e sujeitos de sua própria comunidade. Diziam que nada acontecia na ilha: nem o gado na estrada se mexia para deixar os veículos passarem”, relembra. 
 
Olhar para fora 
A professora, então, decidiu retirar os alunos da sala de aula para que fizessem visitas de campo. “Observarmos a geografia, a cultura, as belezas naturais, a singeleza dos pescadores remendando suas redes, a boniteza das mulheres descascando siri. A alegria das crianças e a preocupação de sujeitos com as condições climáticas – já que há pouco tempo a localidade tinha passado por enchentes. Eu os incentivava a colocarem sempre no papel suas impressões a cerca do que era observado”, assinala. 
 
Além disso, os jovens foram convidados a conhecere a obra do poeta Manoel de Barros. “Esse autor tem uma simplicidade para descrever lugares, pessoas e fatos. Conta coisas cotidianas de uma forma simples. Usa uma linguagem poética que aproxima o leitor de seus poemas, criando uma cumplicidade”, justifica.  
 
“Tentei mostrar que o ato de escrever não precisa ser dolorido ou sofrido, que pode sim ser prazeroso. Devemos contar histórias que mostrem nossa realidade, nossos desejos e nossos receios, porém, acima de tudo, que revelem o nosso olhar sobre a nossa gente e nosso lugar”, complementa. 
 
Hora da virada
Gradativamente, os estudantes passaram a apresentar textos cada vez mais observadores e sensíveis. Os temas que surgiam eram diversos: o sentimento de frustração com a pesca – e o futuro com ou sem ela -, a vontade de ver safras fartas de pescado, brigas entre vizinhos, traição de namorado, lendas da ilha, e etc.
 
“O gênero crônica despertou nos estudantes um olhar mais observador e curioso, visto que precisavam estranhar aquilo que lhes era cotidiano. Descobriram-se sujeitos-autores”, resume a educadora. O sucesso do projeto incentivou Rosa a relatar o percurso de aprendizagem de seus alunos na “Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro”, na qual foi premiada 
 
“Acredito que o mais importante é estimular a escrita, mostrando aos estudantes a importância do dizer e de contar as  histórias que deseja. Salientar que não há necessidade de empregar linguagem rebuscada. Ver a boniteza que há no ato de escrever, empregando vocabulário simples, figuras de linguagem e valorizando a singularidade de cada sujeito-autor”, finaliza. 

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