Apesar de ser um espaço inicialmente aberto a todos, a diretoria da escola, geralmente, fica excluída das vivências dos estudantes. Foi pensando em aproximar dos alunos esse espaço – reconhecido simbolicamente como o centro das decisões tomadas para o bom andamento dos processos em ambiente escolar – que a EMEI Nelson Mandela, em São Paulo, desenvolveu o programa “Diretor por um dia”. Nele, os estudantes são convidados a “assumirem” o cargo de diretor durante um turno.
“Cada turma elege seu diretor por um dia. A criança empossada fica livre durante o período escolar para observar, conversar e registrar o que acredita ser preciso mudar ou melhorar. Como os nomeados são identificados por uma medalha, todos os adultos da escola são convidados a levar os problemas para essas crianças. Ao final do dia, acontece uma reunião com a direção da escola para as deliberações”, relata a diretora Cibele Araújo Racy Maria.
A ideia surgiu quando Cibele leu um artigo da pesquisadora do Ontario Institute for Studies in Education, Gisela Wajskop, e solicitou a sua ajuda para implantá-lo na EMEI.
“As atribuições do cargo são: auxiliar o diretor de escola na tomada de decisão sobre assuntos de rotina; assumir o papel de interlocutor entre os problemas do grupo que representa e a gestão escolar; propor sugestões que visem a melhoria da qualidade da educação e ter iniciativa para a resolução de conflitos”, complementa.
Protagonismo infantil
Mas estariam as crianças da educação infantil maduras para propor e promover melhorias no ambiente escolar? A resposta, segundo verificou-se com o projeto, é sim. “Reconhecer as crianças como atores sociais é reconhecê-las como pessoas com direitos. Indivíduos com critérios, capacidades e valores próprios, participantes de seu próprio processo de crescimento e desenvolvimento pessoal e social”, opina Cibele.
Para a educadora, o projeto não implica, somente, na disposição dos adultos em deixar os alunos livres para expressar suas opiniões, pensamentos, sentimentos e necessidades. Os pontos de vista deles também são levados em conta e influenciam efetivamente nas decisões administrativas e pedagógicas.
“Protagonismo significa, também, assumir responsabilidades, contribuir e construir conjuntamente”, destaca a diretora. “Assim, é essencial proporcionar situações em que nossas crianças sejam levadas a refletir, resolver conflitos, superar desafios e se aventurar em novas descobertas, protagonizando a construção de sua própria história”, defende.
Relações de poder
Assim como as crianças, os adultos também foram beneficiados pela experiência da inversão de papeis. “Ao assumirem o cargo e suas responsabilidades, as crianças reproduzem as relações de poder que conhecem. Isto tem provocado uma verdadeira revolução educacional. Ter a oportunidade de nos reconhecer nas atitudes de nossas crianças nos obriga, diariamente, a rever conceitos e práticas”, confessa a educadora.
Com o passar do tempo, o projeto foi ampliado e funcionários e membros da comunidade também passaram a ser convidados – mensalmente – para exercer o cargo de diretor. Um funcionário, por exemplo, sugeriu alterar o horário da merenda em 15 minutos – o que facilitou o trabalho da cozinha. Contudo, ainda há desafios.
“A rotatividade de professores por meio dos concursos de remoção é um grande desafio para as escolas públicas, pois interferem na continuidade de seus trabalhos”, aponta.
Cibele destaca ainda a necessidade do diretor reservar, em seu plano de trabalho, um tempo destinado às reuniões com as crianças. “É preciso incluir como prioridade administrativa a participação do diretor em ações essencialmente pedagógicas”, reforça.
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