Uma mudança radical no formato e na infraestrutura da escola pública no Brasil é fundamental se queremos falar em melhorias e universalização da educação no país. Essa é a opinião de Yvonne Bezerra, pedagoga e empreendedora social da Ashoka. Para ela, se a escola deseja atender aos princípios de igualdade, diversidade e democracia – previstos na décima diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE), é necessário misturar as classes sociais no universo escolar.
Além disso, um modo de transformar a realidade e o nível da educação brasileira é criar escolas públicas com infraestrutura adequada para a utilização de novas tecnologias, que aliem o conhecimento técnico a um aprendizado humanístico. Essa perspectiva possibilita que os professores variem as atividades e estimulem o aprendizado dos alunos, já que uma escola bem equipada permite a aplicação de um método de ensino mais dinâmico e compatível com a mentalidade das novas gerações.
Cabe destacar também que é fundamental que haja um intercâmbio de experiências entre os alunos com históricos de vida diferentes, pois isso dará oportunidade para que as crianças conheçam a realidade do outro e, assim, desenvolvam uma maior consciência social. “Alunos da classe média e média alta muitas vezes detém um pré-conhecimento adquirido em cinemas, teatros, conversas com adultos… É importante que possam dialogar com aqueles de classe baixa. Da mesma forma, alunos que vivenciam conflitos no ambiente doméstico, uma realidade frequente de alunos da classe baixa, têm muito a acrescentar aos colegas que não vivem esse tipo de problemática. Essa troca de informações pode gerar novos e positivos padrões de comportamento” exemplifica Yvonne.
Outra necessidade apontada pela pedagoga para transformar o sistema escolar em um ambiente mais eficiente e humano é de que todos os questionamentos levantados pelos alunos sejam discutidos em grupo, para incentivar o diálogo, o respeito e a democracia no ambiente escolar. Criada por Yvonne, a pedagogia Uerê-Mello, como é chamada, incorpora os princípios de foco no intercâmbio e na construção de pré-conhecimento colaborativo para a promoção da aprendizagem. A metodologia se tornou política pública em 2009 e já é utilizada por 80 escolas municipais da capital carioca e em outras 36 de Recife. “Apesar de estar dentro de um ambiente violento, que é a favela, no projeto Uerê não há bullying, pois trabalhamos todos os dias com o princípio da não-violência”, enfatiza. Igualdade e diversidade nem sempre são conceitos de fácil aplicação. Um caminho para que as crianças e jovens atinjam um alto grau de desenvolvimento como cidadãos é estimular uma visão transversal do processo de educação e formação, que englobe fatores como ética, saúde, meio ambiente e cultura. Isso facilitará a criação de laços com os grupos sociais em que estão inseridos e, como consequência, a disseminação dos valores que são passados nas salas de aula.
Texto: Ana Rosa Colhado
Foto: Cacá Meireles