“A busca pela sobrevivência em meio ao chamado ‘progresso’ continua para os indígenas hoje. Temos que conhecê-los, respeitá-los e também aprender com eles”, afirmou a diretora do programa “Aldeias Sonoras”, Ângela Pappiani, em debate realizado pelo NET Comunidade Cambuci, nesta quinta-feira (13/9), em São Paulo (SP).
Após a exibição do filme “Xingu”, que conta a história dos irmãos Villas Bôas sobre a criação do Parque Nacional do Xingu – a primeira reserva indígena de grandes proporções no Brasil –, ocorreu uma discussão em torno da obra. O filme foi selecionado para o Festival de Berlim 2012.
Exibição do filme "Xingu" em São Paulo
“O índio no Brasil sempre foi visto como ser inferior e primitivo, mas conhecendo de perto, vi como são educados, inteligentes, desenvolvidos e como conseguem viver em harmonia com seus pares e com a natureza”, disse o diretor de “Xingu”, Cao Hamburger, em nota. “Devemos salvar os indígenas brasileiros do preconceito.”
Ângela Pappiani ressaltou que a realidade conhecida sobre os indígenas do Xingu é uma imagem de cartão postal colorido e bonito. “Mas a vida deles é muito sofrida na constante busca pela manutenção de sua identidade”, ressaltou ela, em relação a uma cena do filme em que metade de uma aldeia morre por conta de uma gripe, trazida pelo homem branco.
Para Diane Maia, da equipe de produção executiva do filme "Xingu", duas questões principais podem ser apreendidas do filme e trazidas para o momento atual como um aprendizado. Primeiro, é preciso realizar o chamado “progresso” de forma inteligente, respeitando as diferentes partes envolvidas. Também, há necessidade da união das culturas. “Quando as pessoas se conhecem, se respeitam. A educação nesse aspecto torna-se crucial”, afirmou.
“A beleza, pureza e sensibilidade deles é algo difícil de explicar, só vendo de perto mesmo para saber”, acredita Ângela. “Cada povo tem uma característica muito forte e são bem receptivos”, completou Diane sobre a experiência de produzir o filme durante oito anos.
Ângela, Diane e Cristina Morales (mediadora)
durante o debate
Na escola
De acordo com Ângela, não se aprende o essencial sobre os indígenas na escola formal, porque “o Brasil não resolveu consigo mesmo suas origens”. Para ela, termos comumente utilizados como “programa de índio” para designar uma atividade chata significa que a cultura indígena é algo ruim.
Vigorando desde 2008, a lei 11.645 obriga o ensino da cultura indígena nas escolas. No entanto, os desafios para levar o conteúdo para a sala de aula ainda são muitos, lembrou Ângela. Formação para os professores, material adequado, quantidade grande de diversidade de povos e romper com a imagem marginalizada dos indígenas quando aparecem na mídia. “Temos que ter uma virada para nos orgulharmos deles como elemento positivo de nossa cultura”, afirmou.
Criado em 1961, hoje, vivem mais de 16 povos no Parque Nacional do Xingu, em uma área de tamanho equivalente ao da Bélgica. Sobre a crítica de que os indígenas têm muita terra, Ângela rebateu: “Existe indivíduo no Brasil que tem uma quantidade de terra maior do que a do Parque do Xingu”.
A plateia também participou do debate
Confira abaixo o trailer do filme "Xingu":
Trailer oficial do filme "Xingu"