Há 10 anos o mundo se despedia do escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014). O autor escreveu romances, contos, reportagens e ensaios que exploram temas como a história, política e amor. Seu romance “Cem Anos de Solidão” é considerado por especialistas um marco da literatura latino-americana e lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982.

“[Márquez] inspirou-se na realidade cotidiana, nas histórias contadas pelas pessoas simples, mas também na literatura universal e nos grandes acontecimentos do século XX. Além disso, ‘Cem anos de solidão’ foi fenômeno literário e comercial que possibilitou a internacionalização da obra de diversos escritores da América Latina”, explica a pós-doutora em estudos literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Michelle Márcia Cobra Torre.

Segundo a pesquisadora, muitos são os benefícios de apresentar o autor para os alunos da educação básica. “Primeiro, por se tratar de um escritor latino-americano que ganhou o Nobel de Literatura. E também porque ele abordava a história do nosso continente, mas trazendo o que havia sido silenciado pelas fontes oficiais”, completa.

Como a obra de Gabriel García Márquez pode ser classificada em termos de estilo?

Michelle Márcia Cobra Torre: Ela foi marcada pelo realismo mágico, que é a junção de elementos míticos ou fantásticos ao lado de elementos da narrativa realista. Um exemplo é a ascensão de uma das personagens do livro “Cem anos de solidão” ao céu enquanto auxiliava as mulheres da família a estender os lençóis da casa.

Quais os principais temas que ele abordava?

Torre: As obras do escritor colombiano abordam temas como a história latino-americana, as ditaduras militares vivenciadas no continente, a vida em pequenos povoados interioranos, a exploração de companhias estrangeiras em terras latino-americanas, mas também a memória, o esquecimento, o amor, a velhice e a solidão.

Quais os benefícios de apresentar o autor para alunos da educação básica?

Torre: É importante apresentar aos alunos um escritor latino-americano que ganhou o Nobel de Literatura. Além disso, ressalto que García Márquez abordava a história do nosso continente, mas de forma a trazer o que havia sido silenciado pelas fontes oficiais. Por exemplo, em “Cem anos de solidão” é abordado o episódio de massacre dos trabalhadores empregados pela companhia de frutas norte-americana que atuava na Colômbia. Os empregados foram mortos pela própria polícia colombiana porque lutavam por melhores condições de trabalho. Durante muito tempo, o episódio foi silenciado pela história oficial. Com o sucesso da obra de García Márquez, escrita muitos anos depois do massacre, os novos historiadores passaram a estudar o episódio.

Em termos de literatura, com quais conteúdos a obra dele pode dialogar?

Torre: A obra de García Márquez pode ser trabalhada em sala de aula para abordar o realismo mágico, mas também as relações entre memória e esquecimento, tanto na literatura quanto na história, ou seja, a literatura pode jogar luz em temas históricos esquecidos, ou trazer uma nova versão de acontecimentos, instigando os historiadores a novas pesquisas.

Em história, com quais conteúdos a obra dele pode dialogar?

Torre: A obra “O general em seu labirinto” trata [do líder político e revolucionário venezuelano] Simón Bolívar, que lutou para a independência de vários países latino-americanos da Espanha, então é um bom livro para os estudos sobre as independências do século XIX. Já a obra “O outono do patriarca” aborda diversos ditadores e ditaduras vividas pelo continente. Tanto a obra “A revoada” quanto “Cem anos de solidão” abordam a exploração de companhias estrangeiras na América Latina. Tais empresas transformam completamente a forma de vida de pequenas cidades interioranas para, depois de decorrida a exploração, as cidades e as pessoas se tornarem devastadas e abandonadas.

Com quais temas sociais a obra dele pode ser relacionada?

Torre: A obra “O outono do patriarca” pode ser usada para estudar as definições de pátria e de nação. A obra “Crônica de uma morte anunciada” pode ser usada para pensar as relações entre crime, punição e silêncio de uma comunidade que já sabia que o assassinato ocorreria, assim como o próprio assassinado. A obra “O general em seu labirinto” pode ser usada para se pensar o conceito de utopia e da construção de figuras heroicas. Já “Ninguém escreve ao coronel” pode ser usado para discutir as relações do indivíduo com o Estado e também para abordar a velhice.

Em qual etapa de ensino Márquez pode ser apresentado para os alunos?

Torre: Penso que devido à complexidade dos temas abordados, tais obras poderiam ser apresentadas para os estudantes do ensino médio.

Como a sua obra poderia ser apresentada na educação básica?

Torre: Os estudantes poderiam iniciar o contato com a obra de García Márquez por meio de seus contos, para depois se aventurarem nos romances. Nos contos os alunos já poderão perceber os temas e a forma de escrita. Além de serem mais curtos, são uma preparação para os romances, que são mais complexos.

Quais atividades podem ser trabalhadas por meio da obra do autor colombiano?

Torre: O professor pode selecionar contos de García Márquez para trabalhar temas específicos em sala de aula. Por exemplo, pode trazer o conto “Isabel vendo chover em Macondo” e pedir para os alunos interpretarem os elementos da natureza que aparecem nele e como eles se relacionam aos sentimentos dos personagens.

Quais as orientações para os professores que desejam utilizar o autor em aula?

Torre: Penso que as leituras coletivas, em pequenos grupos, de forma orientada pelo professor, podem ser interessantes, pois pode possibilitar uma melhor compreensão pelos alunos.

Crédito da imagem: skynesher – Getty Images

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