Conteúdos
Hip hop e rap
Objetivos
• Conhecer as características do hip hop e do rap;
• Conhecer o que é utopia
• Reconhecer a utopia presente no movimento hip hop.
1ª Etapa: Aproximação com o gênero
Inicie a aula informando aos alunos que o rap é integrante da cultura Hip hop, dentro dessa cultura, sua sigla é tratada como “ritmo, atitude e protesto”. O hip hop surgiu nos Estados Unidos, na década de 70, nos subúrbios de Nova York e de Chicago.
Segundo Marcos Alexandre Bazeia Fochi, “O hip hop é muito mais que música e dança, muito mais que pular e requebrar – significado literal da tradução em inglês do termo. Ele busca conscientizar, educar, humanizar, promover, instruir e divertir os moradores da periferia, além de reivindicar direitos e o respeito a esse povo”.
Converse com os alunos sobre o fato de a cultura hip hop se difundir e fortalecer no Brasil, por meio do rap, que se destacou como gênero musical popular depois do lançamento independente do CD dos Racionais MC’s, Sobrevivente no Inferno, em 1997. O disco, produzido pelo selo desse grupo, Cosa Nostra, vendeu mais de 1 milhão de cópias”.
Informe os alunos que há três elementos importantes para a propagação da cultura hip hop: o break, o grafite e o rap que somados denominam o quarto: o conhecimento, que não permitiu a banalização dessa cultura que se transformou num movimento social, que tem como característica a oposição à ordem vigente, o protesto contra alguma lei, norma, costume ou cultura que redunde ou possa gerar uma situação indesejável.
Peça para que os alunos citem algumas músicas que conhecem desse gênero musical e levante os temas a que essas letras fazem protesto.
2ª Etapa: Aproximando-se dos MCs
Inicie a aula perguntado aos alunos se sabem o sentido do termo MC, espera-se que saibam que MC é um acrônimo para mestre de cerimónias ou microphone controller, que surgiu como animador de festas, enquanto o DJ misturava a música, ele divertia o público, mas depois se tornou a figural central das festas de Hip hop.
Informe os alunos que existem MCs que escrevem as próprias letras e também os que fazem as letras na hora, por meio de batalhes, o que se parece muito com o repente ( Improviso recitado ou cantado).
Dessas batalhas, há um novo MC que vem se destacando por suas letras que apresentam protesto contra a alienação, principalmente, da cultura de massa. Trata-se de Rodrigo Vieira, nascido em 1981, em Niterói, que iniciou a carreira em batalhas de MCs, já gravou com Marcelo D2.
Ele resgata as raízes negras do rap e se auto-denomina um contador de história, um griot, que transmitia a cultura oral africana para as novas gerações.
Solicite aos alunos que façam uma pesquisa sobre o termo “griot” e registrem.
3ª Etapa: Estudando o gênero
Apresente a letra e música “Vamos voltar à realidade” de MC Marechal (o link está disponível no Saiba mais)
Vamos Voltar a Realidade – Mc Marechal
Hoje o café da cabeceira esfria, igual suas emoções
Janela aberta, nem sei dia
Tempo ruim, sem previsões
Nada de paz! Seus sonhos estão mortos nos lençóis
Sem voz, sem ações, suas razões esperançosas dormem a sós: Pim Plim!
TV testa fidelidade, investe em falsa liberdade, te congela e fecha a imagem
Traz mensagem distorcida das festas e futilidade
Mas jamais vão expor quem chora, atrás dos restos de maquiagem, neguinho
Despertador, Big-Brother, 9,8,4 !
Só tranca, seu quarto, seu tempo sentado, seu trago
Seu trampo, sentado, você servindo sem ver sentido
Sem teto, seu estado, no estúdio e não avista a intenção do inimigo
Papai Noel veste vermelho e te traz coca
Te lacra na embalagem dos puro interesse e troca
Não tem como sair mais já nem nota
Que o mundo é de plástico e tem quem finge não enxergar o que nos sufoca…
Vamos voltar a realidade…
Eles querem nos forçar a amar o que nós não podemos ter
E fazer tu se apaixonar Pelo o que não é você
Até o ponto de acreditar que portar um Nike é vencer? Chega o momento em que
Tu encara o espelho e não consegue mais se ver
Cadê tua alma? Cadê tua fé, guerreiro?
Cadê teus princípios, Teu sentimento verdadeiro,
Cadê a mulher, cadê o amor, cadê Qual foi? Cadê os parcero?
Vagabundo tá topando tudo por dinheiro…
Na ilusão de ser feliz, Neguinho aceita os que eles disserem…
É o que o diabo quis E o anjo protetor já não interfere
Abdicaram da raiz, Vários irmão se matam em série
Eles alegam: "Nós só tamo dando ao povo o que eles querem"
Cada vez que o ego inflar, Tu se sentir o fodão,
Não esquece que o poder Não tem haver com sensação
Eles estudam o teu sentimento, Exploram tua emoção
Se eles sabem o que tu sente Pode prever sua reação…
Analise com os alunos letra e peça para que identifiquem a que e a quem se faz uma crítica da condição dos ‘parceiros’ que ele cita. Verifique se os alunos conseguem notar que inicialmente o MC refere-se à alienação que a televisão impõe às pessoas, colocando-as num mundo de plástico.
Observe com os alunos a referência ao consumismo que é imposto pelas marcas e pela propaganda que convence às pessoas de que elas precisam de tudo aquilo que se vende. Chame a atenção para o verso “Cadê tua alma? Cadê teus princípios? Mostrando que o MC considera que esses princípios foram consumidos pelos produtos que lhe são oferecidos.
Há uma relação direta entre o consumismo e o ego inflado por possuir, sendo uma crítica ao ter que se sobrepõe ao ser apresenta por MC Marechal.
Peça para que os alunos destaquem outros versos que reforcem a ideia de perda da personalidade imposta pelo excesso de consumo.
4ª Etapa: Fechamento
Faça uma leitura dirigida do poema de Carlos Drummond de Andrade com os alunos:
EU ETIQUETA
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome… estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade
Agora peça aos alunos apontem as semelhanças com a música de MC Marechal e redijam um comentário em que apontem a atualidade do tema abordado em ambos os textos.
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