Conteúdos

Mario de Andrade;

Crônica;

A cidade e o campo.        

Objetivos

Conhecer o escritor Mario de Andrade;

Reconhecer a obra Será o Benedito!  no contexto da literatura infantil e juvenil;
Conhecer as características da obra Será o Benedito!
 

1ª Etapa: Apresentação de Mario de Andrade

Inicie a aula apresentando aos alunos um trecho do vídeo “Mario de Andrade – Mestres da Literatura” (link na Seção Saiba Mais) e, em seguida, peça para que comentem o que mais chama a atenção sobre a personalidade do autor. Note se os alunos perceberam o engajamento do autor com a criação de um projeto de reconhecimento e valorização da identidade brasileira e esclareça esse aspecto, se considerar necessário.

 

Converse com os alunos sobre o projeto artístico de Mario de Andrade, mostrando que ele é reconhecido como um dos intelectuais que pensaram e organizaram a Semana de Arte Moderna de 1922, marco do início do movimento modernista no Brasil. Registre na lousa alguns dos ideais dos modernistas:

 

– reconhecimento e valorização do nacional;

 

– a língua como identidade nacional;

 

– ruptura com o passado;

 

– proposta de uma nova estética 

 

Converse com os alunos sobre o ponto de vista deles sobre o que seria a valorização do nacional e da língua como identidade. Registre o que eles disserem na lousa para que façam uma discussão após a leitura da crônica “Será o Benedito!”. Observe se consideram a diversidade cultural como um elemento da nacionalidade brasileira, caso não abordem essa questão, aponte para a classe que Mario de Andrade dedicou boa parte de sua vida e obra aos estudos dessa diversidade. Produziu estudos tanto na música popular quanto no folclore.

 

2ª Etapa: Conhecendo a obra – Será o Benedito!

Inicie a aula perguntando aos alunos se já ouviram a expressão “será o Benedito”. A partir dos comentários, comente que não há um registro formal de quando essa expressão surgiu; alguns a relacionam ao folclore e outros ao campo político. Ao que parece, Mario de Andrade parte dessa frase idiomática para compor essa crônica que também nãos sabemos se se baseia em fatos verídicos.

 

Inicie a leitura compartilhada do trecho a seguir:

 

“A primeira vez que me encontrei com Benedito, foi no dia mesmo da minha chegada na Fazenda Larga, que tirava o nome das suas enormes pastagens. O negrinho era quase só pernas, nos seus treze anos de carreiras livres pelo campo, e enquanto eu conversava com os campeiros, ficara ali, de lado, imóvel, me olhando com admiração. Achando graça nele, de repente o encarei fixamente, voltando-me para o lado em que ele se guardava do excesso de minha presença. Isso, Benedito estremeceu, ainda quis me olhar, mas não pôde aguentar a comoção. Mistura de malícia e de entusiasmo no olhar, ainda levou a mão à boca, na esperança talvez de esconder as palavras que lhe escapavam sem querer:

 

— O hôme da cidade, chi!…

 

Deu uma risada quase histérica, estalada insopitavelmente dos seus sonhos insatisfeitos, desatou a correr pelo caminho, macaco-aranha, num mexe-mexe aflito de pernas, seis, oito pernas, nem sei quantas, até desaparecer por detrás das mangueiras grossas do pomar.”

 

Logo no início da crônica, o narrador apresenta o personagem Benedito – o negrinho que tinha 13 anos e era “só pernas” – mostre aos alunos que a escolha da palavra “negrinho” marca uma característica tanto da época em que a crônica foi escrita como também representa a sociedade reconhecidamente aristocrática que diferenciava os que viviam na casa grande e os que eram da senzala.

 

Mostre que esse uso não caracteriza um preconceito racial, mas indica uma divisão claramente marcada nesse espaço social.

 

Chame a atenção dos alunos para o olhar curioso do narrador para o menino e vice-versa. Converse com eles sobre as marcas do narrador citadino e o menino que corria livremente pelo campo; a surpresa dessa diferença é expressa na fala de Benedito que exclama:

 

“- O hôme da cidade, chi!” 

 

Chame a atenção para o registro da linguagem falada pelo menino. Converse com os alunos sobre essa marca do modernismo brasileiro: o registro de uma língua brasileira. Além do uso do discurso direto, o parágrafo seguinte também marca um novo uso da linguagem:

 

“Deu uma risada quase histérica, estalada insopitavelmente dos seus sonhos insatisfeitos, desatou a correr pelo caminho, macaco-aranha, num mexe-mexe aflito de pernas, seis, oito pernas, nem sei quantas, até desaparecer por detrás das mangueiras grossas do pomar”

 

Peça para que os alunos em duplas analisem o trecho acima e comentem o uso da linguagem. Observe se eles percebem o uso de linguagem mais fluida: “num mexe-mexe aflito de pernas, seis, oito, pernas…”, como se registrasse o próprio movimento do menino a correr pelo campo, como um “macaco-aranha” que corre livremente. Retome aqui a ideia de que o preconceito não se faz presente nesse registro, uma vez que é representação de uma época em que o negro ocupava o espaço de fora da casa grande, e por isso não possuía prestígio social algum.   

3ª Etapa: Será o Benedito! – o olhar da cidade para o campo

Inicie a aula lendo mais um trecho de Será o Benedito!:

 

“Nos primeiros dias Benedito fugiu de mim. Só lá pelas horas da tarde, quando eu me deixava ficar na varanda da casa-grande, gozando essa tristeza sem motivo das nossas tardes paulistas, o negrinho trepava na cerca do mangueirão que defrontava o terraço, uns trinta passos além, e ficava, só pernas, me olhando sempre, decorando os meus gestos, às vezes sorrindo para mim. Uma feita, em que eu me esforçava por prender a rédea do meu cavalo numa das argolas do mangueirão com o laço tradicional, o negrinho saiu não sei de onde, me olhou nas minhas ignorâncias de praceano, e não se conteve:

 

— Mas será o Benedito! Não é assim, moço!”

 

Chame a atenção dos alunos para a forma como Benedito olha para o narrador, com certa curiosidade, com uma certa alegria que até então não conseguimos descobrir o motivo. Mostre a ilustração feita por Odilon Moraes para a edição da CosacNaify para esse trecho. Retome a referência aos espaços: os de dentro da casa grande – “gozando essa tristeza sem motivo das nossas tardes paulista” – e o de fora “o negrinho (…) me olhando sempre, decorando os meus gestos, às vezes sorrindo para mim.”

 

Imagem disponível no link.

 

Converse com os alunos sobre a imagem que veem: a distância da casa grande, o que separa os dois. A contemplação sugerida pela postura do narrador. Conte aos alunos que há a sugestão de uma admiração do menino pelo narrador, por ser o “estrangeiro”, aquele que vem da cidade grande, porém que desconhece as coisas mais comuns do campo, como colocar a rédea num cavalo.

 

Fato que gera em Benedito uma indignação, marcado na fala: “mas será o Benedito”.

 

Leia com os alunos o trecho, apresente a ilustração a seguir e peça para que em duplas comentem qual a nova postura de Benedito em relação ao narrador: 

 

“Pegou na rédea e deu o laço com uma presteza serelepe. Depois me olhou irônico e superior. Pedi para ele me ensinar o laço, fabriquei um desajeitamento muito grande, e assim principiou uma camaradagem que durou meu mês de férias”

4ª Etapa: O fascínio pela cidade

Inicie a aula com a leitura do trecho a seguir:

 

“Pouco aprendi com o Benedito, embora ele fosse muito sabido das coisas rurais. O que guardei mais dele foi essa curiosa exclamação, “Será o Benedito!”, com que ele arrematava todas as suas surpresas diante do que eu lhe contava da cidade. Porque o negrinho não me deixava aprender com ele, ele é que aprendia comigo todas as coisas da cidade, a cidade que era a única obsessão da sua vida. Tamanho entusiasmo, tamanho ardor ele punha em devorar meus contos, que às vezes eu me surpreendia exagerando um bocado, para não dizer que mentindo. Então eu me envergonhava de mim, voltava às mais perfeitas realidades, e metia a boca na cidade, mostrava o quanto ela era ruim e devorava os homens. “Qual, Benedito, a cidade não presta, não. E depois tem a tuberculose que… Chame a atenção da classe para os trechos em destaque, converse com eles sobre o fascínio que a cidade causava naquele menino. Converse sobre a reação do narrador frente a isso: como ele sentia-se inicialmente? E ao final? Por que afirmava que a cidade “era ruim e devorava os homens”? 

 

Organize uma roda de conversa sobre essas questões, mostre que o narrador buscava reconhecer que o local era melhor que a cidade, que lá o homem se desencontra, sendo devorado por toda vida agitada da cidade. Note que, como os argumentos não funcionavam, o narrador fazia um apelo para a doença, como algo que convencesse o menino a abandonar de vez a ideia de sair do seu próprio lugar. Porém nada disso adiantava, já que Benedito sonhava ser tudo o que a cidade pudesse oferecer.

 

5ª Etapa: Fechamento

Inicie a aula conversando sobre o fato de Benedito sonhar com todas as possibilidades oferecidas pela cidade. Mostre a eles que naquela época o desejo de vivenciar a agitação da cidade parecia ser fascinante. Pergunte a eles se isso ainda permanece. Qual é a visão que se tem do campo? 

 

Apresente o final da crônica:

 

“Nas vésperas de minha partida, Benedito veio numa corrida e me pôs nas mãos um chumaço de papéis velhos. Eram cartões postais usados, recortes de jornais, tudo fotografias de São Paulo e do Rio, que ele colecionava. Pela sujeira e amassado em que estavam, era fácil perceber que aquelas imagens eram a única Bíblia, a exclusiva cartilha do negrinho. Então ele me pediu que o levasse comigo para a enorme cidade. Lembrei-lhe os pais, não se amolou; lembrei-lhe as brincadeiras livres da roça, não se amolou; lembrei-lhe a tuberculose, ficou muito sério. Ele que reparasse, era forte mas magrinho e a tuberculose se metia principalmente com os meninos magrinhos. Ele precisava ficar no campo, que assim a tuberculose não o mataria. Benedito pensou, pensou. Murmurou muito baixinho:

 

— Morrer não quero, não sinhô… Eu fico.

 

E seus olhos enevoados numa profunda melancolia se estenderam pelo plano aberto dos pastos, foram dizer um adeus à cidade invisível, lá longe, com seus “chauffeurs”, seus cantores de rádio, e o presidente da República. Desistiu da cidade e eu parti. Uns quinze dias depois, na obrigatória carta de resposta à minha obrigatória carta de agradecimentos, o dono da fazenda me contava que Benedito tinha morrido de um coice de burro bravo que o pegara pela nuca. Não pude me conter: “Mas será o Benedito!…”. E é o remorso comovido que me faz celebrá-lo aqui.”

 

O final trágico coloca o narrador em choque: acreditou que se Benedito ficasse no campo viveria mais e melhor, porém o destino mostrou-lhe que não cabe a ele decidir sobre esse fim, por isso o remorso.  

 

Materiais Relacionados

Para conhecer mais sobre Mario de Andrade, acesse o link.

 
Para conhecer mais sobre Mario de Andrade, assista programa Mestres da Literatura da TV Escola.
 
Para acessar a obraSerá o Benedito!
 
Para assistir ao Jornal da Gazeta sobre Mario de Andrade.
 
CANDIDO, Antonio. “O Mario que conheci”.
 
GEBRA, Fernando de Moraes. Identidades intersubjetivas em contos de Mario de Andrade. Tese de doutorado apresentada à Área de Estudos Comparados da UFPR. Disponível no link.
 
ANDRADE, Mario de. Será o Benedito!, São Paulo: CosacNaify, 2012.
 

Arquivos anexados

  1. Será o Benedito!

Tags relacionadas

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.