Conteúdos
• Graciliano Ramos
• S. Bernardo
Objetivos
• Conhecer o escritor Graciliano Ramos;
• Conhecer o romance São Bernardo;
• Analisar a tom memorialista da narrativa;
1ª Etapa: Finalização - debate
Inicie o debate apresentando aos alunos as relações que foram trabalhadas entre o filme e o livro. Em que se diferem? Qual é a percepção deles ao acompanhar a construção da narrativa escrita de Paulo Honório e o relato dos pensamentos através do filme?
De que forma a relação com o espaço intensifica a solidão na qual vivia a personagem, mesmo quando estava ainda casado e com a casa cheia de visitas?
Converse com a classe as diferenças de linguagem para cada produto e mostre como a música escolhida e também os enquadramentos nas personagens auxiliam na adesão do expectador ao relato de Paulo Honório.
Proponha ao grupo que utilizem uma outra linguagem para apresentar um capítulo do livro. Pode ser uma novela de rádio, um desenho animado, uma sequência de imagens, um rap.
2ª Etapa: Antes do filme: conhecendo escritor Graciliano Ramos
Inicie a aula com a apresentação do documentário “O mestre Graça”, de André Luis da Cunha (link disponível na Seção Saiba Mais).
Converse com os alunos sobre a proximidade que existe entre os lugares onde cresceu e viveu Graciliano Ramos e sua família e a descrição das personagens criadas por ele. Conte aos alunos que o autor se utilizou da escrita para apresentar os problemas sociais do país, mostrando a vida do nordeste brasileiro, com suas mazelas, como a seca, a fome. Leia com os alunos os dois parágrafos do capítulo II em que Paulo Honório se apresenta:
“O que é certo é que, a respeito das letras, sou versado em estatística, pecuária, agricultura, escrituração mercantil, conhecimentos inúteis neste gênero. Recorrendo a eles, arrisco-me a usar expressões técnicas, desconhecidas do público, e a ser tido por pedante. Saindo daí, a minha ignorância é completa. E não vou, está, claro, aos cinquenta anos, munir-me de noções que não obtive na mocidade.
Não obtive, porque elas não me tentavam e porque me orientei num sentido diferente. O meu fito na vida foi apossar-me das terras de S. Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura, adquirir um rebanho bovino regular. Tudo isso é fácil quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o sujeito que vai começar, olha os quatro cantos e não tem em que se pegue, as dificuldades são terríveis.”
Mostre para os alunos que o narrador se centrou em tudo o que “obteve”, ou seja, apegou-se a tudo que conseguiu possuir durante sua vida.
3ª Etapa: História e Literatura: contexto da obra
Inicie a aula conversando com os alunos sobre as condições do Brasil no período em que o livro foi escrito. Trace um panorama histórico do Nordeste nas décadas de 1930 e 1940.
Organize um mural com notícias e as obras publicadas nesse período, conhecido como 2ª Fase do Modernismo, o romance de 1930. Depois de montado o mural, converse com os alunos sobre a fazenda S. Bernardo, como foi retratada, ela se enquadraria no tipo de propriedade rural daquele período? Como Paulo Honório conseguiu adquiri-la?
O professor de literatura pode se aprofundar nas características empreendedoras de Paulo Honório, avançadas para aquele momento, mas condizentes no que se refere às condições de trabalho e também à moradia dos empregados.
4ª Etapa: Sociologia e Psicologia: relações humanas
Inicie a aula retomando a cena em que Paulo Honório se apresenta, sentado sozinho naquela mesa de jantar e, em seguida, apresenta as reflexões finais. Pergunte aos alunos o que mais lhes chama a atenção. Observe se eles reconhecem a rigidez do protagonista até mesmo em seu sofrimento. A escolha das palavras para narrar os pensamentos é feita de maneira precisa, seca, sem devaneios ou mesmo desespero.
Leia com a classe os trechos a seguir do último capítulo:
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessas e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria!”
(…)
Está visto que, cessando esta crise, a propriedade se poderia reconstituir e voltar a ser o que era. A gente do eito se esfalfaria de sol a sol, alimentada com farinha de mandioca e barbatanas de bacalhau; caminhões rodariam novamente, conduzindo mercadorias para a estrada de ferra; a fazenda se encheria outra vez de movimento e rumor.
Mas para quê? Para quê? Não me dirão? Nesse movimento e nesse rumor haveria muito choro e haveria muita prga. As criancinhas, nos casebres úmidos e frios, inchariam roídas pelas verminoses. E Madalena não estaria aqui para mandar-lhes remédio e leite. Os homens e as mulheres seriam animais tristes.
Bichos. As criaturas que me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos para o serviço do campo, bois mansos. Os currais que se escoram uns aos outros, lá embaixo, tinham lâmpadas elétricas. E os bezerrinhos mais taludos soletram a cartilha e aprendiam de cor os mandamentos da lei de Deus.
Bichos. Alguns mudaram de espécie e estão no exército, volvendo à esquerda, volvendo à direita, fazendo sentinela. Outros buscaram pastos diferentes.”
Peça para que os alunos comentem esse trecho final do livro: os homens e as mulheres são vistos como animais, serviram a ele como bichos. Paulo Honório não se vinculou a nenhum deles, apossou-se deles e os utilizou para alcançar seu propósito: enriquecer.
O que havia restado? O que ele havia percebido? Observe se os alunos reconhecem que a personagem faz um balanço da sua vida, olha para trás e busca reconhecer algum saldo positivo em toda sua vida.
Materiais Relacionados
Para assistir ao filme S. Bernardo, baseado na obra de mesmo título, acesse o link.
Para conhecer vida e obra de Graciliano Ramos, acesse o site do autor
Para assistir ao documentário “Universo Graciliano”, acesse o link.
MIR, Nelcy Martins. “Linguagens imbricadas: São Bernardo, romance e fita”. Univ. Hum., Brasília, v. 6, n. 1, p. 97-123, jan./jun. 2009. Disponível no link.
Sinopse:
A história de Paulo Honório, um caboclo pobre que se torna um fazendeiro rico. Obcecado pelo seu desejo de ficar ainda mais rico, não segue a ética e a moral, conseguindo o que deseja a qualquer custo. Casa-se com Madalena, uma professora conhecedora do mundo letrado, importa-se com as condições de vida dos empregados do marido e a dualidade entre eles passa a gerar em Paulo Honório ciúme e raiva da mulher por não conseguir se apossar de seus pensamentos.
Ficha Técnica: Direção: Leon Hirszman Roteiro: Leon Hirszman (baseado na obra homônima de Graciliano Ramos) Produção: Henrique Coutinho, Marcos Farias, Luna Moskovitch e Márcio Noronha Fotografia: Lauro Escorel Edicão: Eduardo Escorel Música: Caetano Veloso Gênero: Drama País/Ano de produção: 1971/Brasil Duração: 100 min. Elenco: Othon Bastos (Paulo Honório); Isabel Ribeiro (Madalena); Rodolfo Arena (Dr. Magalhães); Jofre Soares (Padre Brito); Joseph Guerreiro (Godim); Nildo Parente (Padrilha); Mario Lago (Nogueira); Vanda Lacerda (Dona Glória)
SÃO BERNARDO. Direção de Leon Hirszman. Rio de Janeiro: Saga Filmes. Distribuidora Embrafilme. 1971. 1 videocassete (100 min): VHS, son., color.
Arquivos anexados
- São Bernardo – Graciliano Ramos