Conteúdos
Este plano de aula de educação física aborda os aspectos conceituais, técnicos e táticos da lógica interna do Rugby, relacionando conhecimentos acerca do esporte em uma perspectiva introdutória voltada para iniciantes.
● Elementos conceituais: origem do rugby, regras e conhecimentos gerais; e
● Elementos procedimentais: elementos úteis para introduzir o jogo de rugby.
Objetivos
Espera-se que os e as estudantes sejam capazes de descrever e relacionar conhecimentos acerca do Rugby, tendo como base conceitos e procedimentos específicos do esporte.
Proposta de trabalho
O material está dividido entre: a) conhecimentos básicos e gerais sobre o esporte, que podem ser dialogados no princípio e no final das aulas; e b) atividades que podem ser aplicadas como introdutórias à dimensão procedimental do esporte. Esperamos que este plano seja útil e colabore com a sua prática docente.
Materiais utilizados
● Bolas de Rugby (se houver) ou, alternativamente, de outras modalidades;
● Coletes para divisão de equipes; e
● Fitas ou coletes para fazer o flagball.
1ª Etapa: Dimensão conceitual - história, características e regras
O rugby foi criado na Inglaterra, inspirado na modalidade do futebol, razão pela qual foi conhecido, primeiramente, como “rugby football”. A primeira partida mundialmente reconhecida ocorreu no ano de 1871, junto com a primeira oficialização internacional de regras. Desde então, muitas regras foram alteradas, tais como o número de jogadores, o sistema de pontuação e o formato da bola, dentre outras. O esporte evoluiu para diversas formas de ser jogado. Duas das formas mais conhecidas são o Rugby XV e o Rugby Sevens, que se diferenciam quanto aos seguintes aspectos:
Em ambas as formas, as medidas máximas do campo são: 100mx70m.
O restante das regras se mantém, sendo as principais delas:
- A bola nunca pode ser passada para frente, a não ser por um chute, devendo, então, ser passada para trás ou para os lados, com um passe de mãos.
- Formas de pontuação:
- Try (5 pontos): é preciso que o/a jogador/a passe a linha de fundo, linha dos Hs ou in-goal do campo adversário e coloque a bola no chão, para validar o ponto;
- Drop goal (3 pontos): uma pontuação que pode ser feita com um chute espontâneo, a qualquer momento da partida, sendo que a bola deve quicar primeiro no chão e passar entre as hastes do H; e
- Conversão (2 pontos): depois de realizar um try, a equipe tem a chance de aumentar a pontuação com um chute para o H. Na modalidade XV, a bola é chutada ao estar sobre um apoio, enquanto no sevens o chute é feito tal como no drop goal.
- O tackle é uma das formas de interromper a jogada do time adversário. Consiste em derrubar um/a jogador/a adversário/a, e vale apenas quando ele ou ela estiver com a bola em mãos, podendo ser tocado/a apenas da linha do peito para baixo.
- Quando a bola sai pela lateral do campo, cobra-se o line-out, ou seja, são formadas duas filas paralelas e a bola deve ser lançada entre elas pelo time responsável pela posse de bola na cobrança da lateral. Os times costumam realizar uma formação em que alguns jogadores elevam os outros, segurando-os pelos braços e mãos, em uma altura acima da cabeça, para que este tenha mais chances de pegar a bola.
- Quando acontece uma infração leve (por exemplo: passo para a frente), cobra-se um tipo de falta chamada de scrum. Nesse reinício de jogo, os dois times fazem uma espécie de barreira de frente uma para outra e se abaixam, formando um túnel em que o time que não cometeu a infração deve posicionar a bola no túnel, para tomá-la de volta.
Ainda que tenha contato intenso entre os/as jogadores/as, o rugby é um esporte coletivo de invasão que possui interação com adversários/as e companheiros/as de equipe. Como já trabalhado em outros planos de aula, os esportes coletivos de invasão “são aquelas modalidades em que as equipes tentam ocupar o setor da quadra/campo defendido pelo adversário para marcar pontos (gol, cesta, touchdown), ao mesmo tempo em que têm que proteger a própria meta. […] Nesses esportes é possível perceber, entre outras semelhanças, que as equipes jogam em quadras ou campos retangulares. Em uma das linhas de fundo (ou num dos setores ao fundo), fica a meta a ser atacada, e na outra linha de fundo a que deve ser defendida. Para atacar a meta do adversário, uma equipe precisa, necessariamente, ter a posse de bola (ou objeto usado como bola) para avançar sobre o campo do adversário (geralmente fazendo passes) e criar condições para fazer os gols, cestas ou touchdown. Só dá para chegar lá conduzindo, lançando ou batendo (com um chute, um arremesso, uma tacada) na bola, ou no objeto usado como bola, em direção à meta. Nesse tipo de esporte, ao mesmo tempo em que uma equipe tenta avançar a outra tenta impedir os avanços. E para evitar que uma chegue à meta defendida pela outra, é preciso reduzir os espaços de atuação do adversário de forma organizada e, sempre que possível, tentar recuperar a posse de bola para daí partir para o ataque. O curioso é que tudo isso pode ocorrer ao mesmo tempo. Num piscar de olhos, uma equipe que estava atacando passa a ter que se defender, basta perder a posse de bola e pronto, tudo muda” (GONZÁLEZ, F. J.; BRACHT, 2012).
Os conhecimentos anteriores podem ser dialogados com os/as estudantes no início das aulas, em rodas de comentários e discussão. As regras podem ser aos poucos apresentadas, antes de cada atividade que exija suas aplicações. Sugerimos que todas as regras sejam retomadas em conjunto apenas depois de terem sido trabalhadas separadamente, em atividades diferentes.
2ª Etapa: Dimensão procedimental
Para jogarmos o rugby nas aulas de Educação Física, não é preciso saber todo o manual de regras. A intenção não é que o esporte da escola seja uma extensão do esporte de rendimento no qual muito se valoriza a competição e a vitória, correndo o risco de promover a exclusão das e dos estudantes que não possuem experiência na modalidade. O rugby que podemos desenvolver na escola pode, para além do conhecimento procedimental do jogo completo, enfatizar as habilidades cognitivas, o pensamento estratégico para a resolução de problemas. as tomadas de decisão, a solidariedade entre adversários e companheiros, a organização coletiva e a preocupação com a aprendizagem de todas e todos, diretamente vinculada a valores que qualifiquem positivamente a convivência.
Serão apresentadas algumas atividades que enfatizam as capacidades e as habilidades destacadas no parágrafo anterior, assim como atividades que evidenciam circunstâncias técnicas e táticas para trabalhar, como por exemplo a relação EU-BOLA, pelo fato da prática do rugby envolver uma bola diferente, assim como a relação EU-BOLA-COMPANHEIRO/A, que é bastante incomum quando comparada com os demais esportes de invasão.
Para viabilizar o desenvolvimento das capacidades e habilidades de organização coletiva, tomada de decisão, resolução de problemas, solidariedade etc., é preciso que, durante as atividades, o/a professor/a dê apoio aos/às estudantes, auxiliando na leitura das situações, incentivando a reflexão sobre os problemas encontrados durante os jogos, bem como acerca do caminho para solucioná-los de forma consensual, além de valorizar as atitudes solidárias e rechaçar atitudes discriminatórias e violentas.
Uma boa estratégia para facilitar o desenvolvimento da leitura de jogo e da tomada de decisão é, eventualmente, parar o jogo, pedindo para os alunos que fiquem exatamente onde estão. Eles devem, então, observar todas as pessoas em volta e pensar sobre a própria ação em relação à ação dos/as adversários/as, para que reflitam, com calma, acerca de qual é a melhor ação a ser tomada. Podem ser utilizados exemplos de situações de jogo específicas como: contra-ataque, defesa em desvantagem numérica, aglomeração em volta da bola e ausência de opção de passe, entre outras.
Vamos às atividades:
1. Relação EU-BOLA-COMPANHEIRO/A: consistem em atividades rápidas, de manipulação da bola e de direcionamento do passe, de acordo com as regras de passe do rugby.
- Em roda, virados/as de frente para o centro, os/as estudantes terão consigo duas bolas, que deverão passar para o/a colega que estiver em um dos lados. As bolas começam em extremidades diferentes da roda, e um sinal deve ser dado para que comecem passando ambas as bolas para o mesmo lado. De tempos em tempos – com intervalos diferentes entre cada um – dê novos sinais para que mudem a direção do passe. Isso exigirá concentração dos/as estudantes, e agilidade, pois deverão passar a bola rapidamente para que uma não encontre a outra. Variação: a roda é formada com os/as jogadores/as de costas para o centro, diminuindo o campo de visão e exigindo maior concentração e mais agilidade na recepção e no passe.
- estafeta: em filas paralelas, os/as estudantes deverão passar a bola para a pessoa da fila ao lado e que estiver imediatamente em sua diagonal atrás – podendo variar as distâncias em que ficam as pessoas nas filas. Quando a bola chegar na última pessoa possível do passe ser realizado, ela abraça a bola e corre para ocupar o primeiro lugar de sua fila, recomeçando a sequência de passes. Duas ou mais bolas poderão ser utilizadas ao mesmo tempo, por diferentes pessoas. Primeiro, a tarefa é feita com as filas paradas. Na variação, as pessoas das filas devem se deslocar andando sendo guiadas por cada pessoa da frente de cada fila, enquanto realizam os passes. Na última variação, deverão realizar a mesma tarefa correndo.
2. Relação EU-BOLA-COMPANHEIRO/A-ADVERSÁRIO-ALVO
- Jogo dos 7 passos para valer o try: como vimos, try é uma das formas de pontuação no rugby, em que o/a jogador/a deverá passar com a bola pela linha de fundo dos Hs. Numa quadra, utilize as linhas de fundo para demarcar essa mesma linha e, para validar a pontuação, as equipes deverão completar primeiramente sete passos entre si, considerando as regras de passo do rugby. Poderão ser utilizados chutes para passar a bola para frente – para isso, o/a jogador/a com a posse de bola a solta no ar, dando um chute direto para a direção que preferir – ou passes para o lado ou para trás, utilizando as mãos. Não é permitido tackle para roubar a bola da equipe adversária, apenas a interceptação de passe. As pessoas podem se deslocar com a bola em mãos. Ao correr para finalizar o try, podem perder a posse de bola, caso alguém encoste no ombro de quem corre com a bola em mãos – portanto, livre-se da bola quando alguém correr para te pegar!! -, e essa interceptação só vale depois da equipe ter completado os sete pontos e estar claramente com intenção de correr para pontuar.
- Flagball: esse jogo tende a representar o jogo completo de rugby, mas ainda com regras adaptadas. Não é permitido realizar o tackle, por isso, para tirar a bola do/a adversário/a que a tiver em mãos, os/as jogadores/as deverão utilizar um colete ou uma fita presa na parte de trás do short; quando tiverem a fita ou o colete puxados e retirados, aí essa pessoa entrega a posse de bola para o outro time. Caso o/a jogador/a consiga realizar um passe antes de ter sua fita ou colete retirado, a posse da bola permanece com seu time. Pode-se organizar uma partida de dez minutos a cada tempo. Oriente para que sigam as regras de passe utilizadas no jogo anterior. O objetivo do jogo é que as equipes pontuem o máximo possível, para tentar vencer a partida. Para isso, será válido pontuar de três formas já conhecidas: drop goal, try e a conversão. A linha de fundo da quadra representa a linha pela qual o/a jogador/a deve passar para colocar a bola e marcar um try. Para realizar a conversão e o drop goal, os chutes deverão ser feitos tendo como referência o gol que fica na quadra, porém o alvo não é dentro dele e sim acima dele, tendo como limitação lateral uma linha imaginária para cima que acompanha as traves e o limite de altura do chute pode ter como referência a altura da cesta de basquete, por exemplo. Alguém pode desempenhar a função de arbitragem – um/a estudante ou professor/a -, mas não é uma necessidade. As decisões sobre as situações de jogo também podem ser debatidas durante a partida.
Para realizar outras atividades em que seja possível aplicar as técnicas de tackle, scrum e line out, nas quais ocorre contato físico mais intenso, garanta que os/as estudantes tenham vivido processos suficientes de reflexão e ação, para que as atitudes tomadas não venham a ferir nenhum/a colega, bem como para que não haja situações de abuso em que esse contato físico poderia ser mais uma oportunidade de agressão. É essencial que todas e todos possam dialogar sobre como vivenciar tais situações, tendo como o objetivo a aprendizagem com base no respeito e na colaboração mútua.
Materiais Relacionados
GONZÁLEZ, F. J.; DARIDO, S. C.; OLIVEIRA A. A. B (org.). Esportes I. UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Confederação Brasileira de Rugby (CBR), 2021.
Acesso em: 14 de dezembro de 2021.
GONZÁLEZ, F. J.; BRACHT, V. Metodologia do ensino dos esportes coletivos. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2012.
GARGANTA, J. O ensino dos jogos desportivos. Porto, 1998.