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Realismo – as características do Realismo no romance O Primo Basílio de Eça de Queirós

Objetivos

Reconhecer aspectos do estilo realista em romances;
Recuperar, pelo estudo do texto literário, as formas instituídas de construção do imaginário coletivo, o patrimônio representativo da cultura e as classificações preservadas e divulgadas, no eixo temporal e espacial;
Refletir sobre o processo de criação de um autor;
Elaborar um enredo a partir da criação de um personagem;
Conhecer um resumo de aspectos das obras realistas: Madame Bovary de Gustave Flaubert e O Primo Basílio, de Eça de Queirós;
Identificar aspectos estruturais da narração.

Conteúdos:
Romance realista, criação de personagem, análise  e produção de texto.

Antes de dar início às etapas abaixo, consulte a aba Para Saber Mais.

1ª Etapa: Introdução ao tema

Inicie a atividade contrapondo elementos próprios do Romantismo com aqueles que se desenvolveram ao longo do período realista da literatura.

Sugerimos, abaixo, alguns aspectos relativos ao gênero romance, contrapondo Romantismo e Realismo. Também sugerimos os romances em que você pode melhor observar tais aspectos e alguns trechos em que esses elementos mais se evidenciam.
A fantasia do Romantismo X a observação dos fatos no Realismo

• Lucíola (José de Alencar): “com sua virgindade de alma tão pura e tão absoluta, que a não tisnaram os pecados do corpo. Por isso, mesmo nas horas em que mais lhe esplende a glória de cortesã, o romancista a veste simbolicamente de branco.”

• Quincas Borba (Machado de Assis): “Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.”

O amor puro do Romantismo X o amor “real”.

• Senhora  (José de Alencar): “Não! É cedo! É preciso que ele me ame bastante para vencer-me a mim; […] quando ele convencer-me do seu amor e arrancar do meu coração a última raiz desta dúvida atroz que o dilacera; quando nele encontrar-te a ti, o meu ideal, o soberano de meu amor; quando tu e ele fores um, e eu não vos possa distinguir nem no meu afeto, nem nas minhas recordações, nesse dia eu lhe pertenço…”

• O Primo Basílio  (Eça de Queirós): “Jorge foi heroico durante toda essa tarde. Não podia estar muito tempo na alcova de Luísa, a desesperação trazia-o num movimento contraditório; mas ia lá a cada momento, sorria-lhe, conchegava-lhe a roupa com as mãos trêmulas; e como ela dormitava, ficava imóvel a olhá-la por  feição, com uma curiosidade dolorosa e imoral, como para lhe surpreender no rosto vestígios de beijos alheios, esperando ouvir-lhe nalgum sonho da febre murmurar um nome ou uma data; e amava-a mais desde que a supunha infiel, mas dum outro amor, carnal e perverso. Depois ia-se fechar no escritório, e movia-se ali entre as paredes estreitas, como um animal numa jaula. Releu a carta infinitas vezes, e a mesma curiosidade roedora, baixa, vil, torturava-o sem cessar: Como tinha sido? Onde era o Paraíso? Havia uma cama? Que vestido levava ela? O que lhe dizia? Que beijos lhe dava…”

A mulher idealizada do Romantismo X a mulher não idealizada do Realismo

• Iracema (de José de Alencar): “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.”

• Dom Casmurro (de Machado de Assis): “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…”

A emoção exacerbada no Romantismo X o distanciamento emocional presente no Realismo

• O Guarani (Jose de Alencar): “A menina não respondeu; estava embebida a contemplar o moço; saciava-se de olhá-lo, de senti-lo junto de si, depois de ter sofrido a angústia de ver a morte rogando a sua cabeça e ameaçando a sua vida.
É preciso amar para compreender essa voluptuosidade do olhar que se repousa sobre o objeto amado, que não se cansa de ver aquilo que está impresso na imaginação, mas que tem sempre um novo encanto..”

• O Ateneu (Raul Pompeia): “D. Ema é a esposa do autoritário diretor e sua figura a ele se opõe: “bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac, formas alongadas por sua graciosa magreza, erigindo, porém, o tronco sobre os quadris amplos, fortes como a maternidade; olhos negros, pupilas retintas de uma cor só… de um moreno rosa que algumas formosuras possuem, e que seria a cor do jambo…Adiantava-se por movimentos oscilados, cadência de minueto harmonioso e mole que o corpo alternava. Vestia cetim preto justo sobre as formas, reluzente como pano molhado …”

Fuga da realidade e o uso da natureza como cenário para expressão da alma no Romantismo X Crítica à moral e costumes vigentes presente no Realismo.

• Iracema (José de Alencar):  “Neste momento, Tupã não é contigo! replicou o chefe. O Pajé riu; e seu riso sinistro reboou pelo espaço como o regougo da ariranha. – Ouve seu trovão e treme em teu seio, guerreiro, como a terra em sua profundeza. Araquém proferindo essa palavra terrível, avançou até o meio da cabana; ali ergueu a grande pedra e calcou o pé com força no chão; súbito, abriu-se a terra. Do antro profundo saiu um medonho gemido, que parecia arrancado das entranhas do rochedo. Irapuã não tremeu, nem enfiou de susto; mas sentiu estremecer a luz nos olhos, e a voz nos lábios. – O senhor do trovão é por ti; o senhor da guerra será por Irapuã: disse o chefe. O torvo guerreiro deixou a cabana (…).”

• Madame Bovary (Gustave Flaubert): “Eu tenho uma religião, e mesmo até mais do que todos eles, com suas momices e charlatanices. Eu creio em Deus! Creio no Ente Supremo, num Criador, qualquer que seja, pouco importa, que nos pôs neste mundo para desempenharmos os nossos deveres de cidadãos e de pais de família; mas o que não preciso é ir a uma igreja beijar salvas de prata, engordar com a minha algibeira uma súcia de farsantes que vivem muito melhor que nós!”

Oriente que a sala se divida em pequenos grupos e peça para que cada grupo leia com atenção  dois dos trechos levantando as principais características  de oposição entre os dois estilos de época: Romantismo e Realismo. Coletivamente, peça para que os grupos socializem as características levantadas em cada trecho e elaborem um painel agrupando aquelas que estiveram presentes na maioria dos trechos.

Além das características do Realismo expostas nos trechos acima, destacam-se:

• O embasamento no materialismo;
• O emprego de ideias científicas;
• A introspecção psicológica das personagens;
• As descrições objetivas e minuciosas;
• A universalização de conceitos
• A patologia moral das personagens.

Proponha um debate questionando se os alunos consideram que o contexto histórico influencia o autor na produção de sua obra, e quais as semelhanças e diferenças que existem entre Romantismo e Realismo. Talvez seja necessário fazer uma revisão sobre os aspectos do Romantismo e para isso acesse a atividade interativa “Romantismo” disponível no portal NET educação.

2ª Etapa: Exploração do objeto

Organize a turma em duplas de trabalho para utilização de computadores portáteis ou dos computadores da sala de informática.
Peça para que os alunos acessem a atividade interativa “Realismo”, disponível no site NET Educação.

Nessa atividade, a partir da obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós, os alunos entrarão em contato com as principais características presentes no Realismo. Durante a exploração do objeto, oriente os alunos a fazerem um levantamento dessas características para posteriormente compará-las no painel que foi elaborado no início da atividade.

Deixe que eles retornem à atividade interativa quantas vezes quiserem, conforme forem esclarecendo as dúvidas e se apropriando das informações.

Ao final, proponha uma discussão sobre o que aprenderam, levantando aspectos que julgarem mais importantes.

3ª Etapa: Construção de Narrativa

Após a exploração do tema, solicite a retomada do romance O primo Basílio, enfatizando alguns aspectos para auxiliar a turma na atividade aqui sugerida: a elaboração de um texto com características do Realismo. Professor, neste momento você poderá recuperar as características apresentadas no início da aula e solicitar que os alunos comecem a produção escrita pela criação de personagens com características realistas. Depois, devem pensar na ambientação e, por fim, no enredo, nos conflitos a serem solucionados ao longo da narrativa.

Aproveite o momento para realizar intervenções e solucionar possíveis dúvidas referentes ao conceito de Realismo.
Para facilitar o processo de criação, seguem algumas perguntas que podem ser motivadoras da produção:

Personagem(ns)
1. Qual é o nome da personagem?
2. Quantos anos ela tem?
3. Quando e onde ela nasceu e cresceu?
4. Ela conheceu seus pais? Como foi sua infância?
5. Ela é casada (ou noiva ou viúva)? Se for, como aconteceu?
6. Ela tem filhos? Se tem, como eles são?
7. Ela recebeu educação formal? Se teve até onde ela foi?
8. O que a personagem faz para viver?
9. Por que ela escolheu essa profissão?
10. Como ele é fisicamente em detalhes?
11. Qual é o aspecto da aparência física dela que é mais distintivo ou mais facilmente notado?
12. Como ela se autodescreveria?
13. Como ela passa suas horas de lazer?
14. O que ela gosta mais no trabalho / ocupação?
15. O que ela gosta de comer?

Ambiente
1. Onde ela mora e como é esse lugar?
2. Como é o clima / atmosfera?
3. Por que ela mora lá? Quais são os problemas comuns lá?

Objetivos / Motivação
1. A personagem tem algum objetivo? Se tem, qual é?
2. E por que ela tenta fazer isso?

Enredo
1. Qual a relação entre as personagens antes de desencadeado o conflito? Amizade, inimizade, paixão, inveja etc.
2. Qual será o conflito?
3. O que ou quem desencadeará o conflito? Como?
4. Como as personagens reagirão ao conflito?
5. Como será solucionado o conflito?
6. Como a narrativa conduzirá a uma nova estabilidade entre as personagens?

Por se tratar de uma atividade bastante complexa, você poderá realizá-la de diversas maneiras. Sugerimos algumas estratégias:

1. Iniciar o texto em sala, pelas respostas às questões. Em seguida, solicitar aos alunos que produzam o texto em casa, entregando uma primeira versão ao professor, para comentários e correções. Por fim, os alunos entregam a versão final já corrigida.
2. Realizar o mesmo procedimento acima descrito, porém com trabalho em duplas.
3. Destinar os minutos finais de um conjunto de aulas para produção do texto final.
4. O professor pode organizar o processo de produção do texto conforme a disponibilidade de horários da escola. O que deve ser aqui ressaltada é a necessidade de um acompanhamento de cada uma das etapas. O professor deve acompanhar o resultado das respostas, em seguida a primeira versão do texto e, por fim, a última versão, sempre fornecendo elementos que apontem para uma reflexão dos alunos sobre as características do Realismo. As produções dos alunos poderão ser organizadas em um livro para ser socializado na escola. Para isso, oriente que a sala se divida em grupos, de maneira que um grupo fique responsável pela introdução fazendo uma breve explicação desse movimento literário, e os outros por indicar a leitura de outras obras do Realismo. Para essa segunda atividade, você pode escolher livros do Realismo brasileiro ou português ou obras produzidas em outras línguas (como Madame Bovary). Em seguida, distribua os livros entre os grupos, solicitando-lhes uma leitura que, além de observar os aspectos da literatura realista, também atente para o que há nelas de mais envolvente. Por fim, peça-lhes que escrevam um comentário, fornecendo-lhes o seguinte modelo de estrutura de texto:

Título do livro
Autor
Data da primeira publicação
Sinopse do enredo
Comentário sobre as características do realismo presentes na obra
Comentário sobre a “qualidade” do texto (se interessante, desinteressante, trágico etc.), apresentando razões no próprio romance que apóiem sua opinião.

4ª Etapa: Avaliação

Esta é uma etapa que deverá ocorre ao longo de toda a atividade.
Na 1ª Etapa, aproveite para observar o quanto os alunos trazem de pré-requisitos sobre o Romantismo. Verifique se tais pré-requisitos são suficientes para que consigam observar as diferenças entre o movimento romântico e o realista. Ainda nessa etapa, procure observar as habilidades de leitura, compreensão e interpretação e a comparação.

Na 2ª Etapa, você pode aproveitar para observar a dinâmica de leitura dos alunos. Observe se eles fazem boas antecipações do texto de Eça de Queiroz. Verifique, também, em que se baseiam para realizar tais antecipações. Verifique, também, se o aluno consegue, ao longo de toda a atividade com a lousa, perceber elementos que, no texto de Eça de Queiroz, caracterizam-no como realista.

Na 3ª Etapa é o momento de observar o quanto das características do Realismo o aluno conseguiu apreender e se é capaz de formular textos a partir de tal conhecimento. Você terá dois momentos importantes para verificar isso: o primeiro, na criação do texto realista; e o segundo, na produção do comentário sobre a leitura de texto realista.

Materiais Relacionados

Caro professor, antes de iniciar esta atividade, é importante que se aproprie dos aspectos formadores do romance realista, principalmente das obras de Eça de Queirós (O Primo Basílio) e de Flaubert (Madame Bovary), e também sobre a criação de personagens e elementos da narrativa. Selecionamos os links abaixo para ajudá-lo.

Leia o conteúdo disponível nos seguintes links:

Realismo
Resumos das obras
Narração
Romantismo e Realismo – comparando estilos

Arquivos anexados

  1. Plano de aula – Realismo

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