Conteúdos
Maternidade;
Trabalho doméstico;
Condição Feminina;
Objetivos
• Refletir sobre as relações sociais e de trabalho no Brasil:
• Refletir sobre mudanças sociais no Brasil nos últimos anos;
• Discutir estereótipos e regras sociais veladas da nossa sociedade;
• Refletir sobre o cinema brasileiro contemporâneo;
1ª Etapa: Sociologia: condições do trabalho doméstico
O filme propicia uma interessante análise sociológica do Brasil (relações de trabalho, herança colonial, escravidão). Apesar de ser uma função social, o fato de se dar na residência do empregador (muitas vezes o local de moradia do empregado) e envolver o cuidado com crianças, há uma mistura com relações afetivas. A partir desta constatação e do debate anterior, pode-se aprofundar uma série de conteúdos acerca do Brasil.
– Origem do trabalhador doméstico: proponha que pesquisem sobre origem, escolaridade, ano de chegada à cidade e “escolha” do trabalho de empregados domésticos. Se o grupo de alunos tem empregados em suas residências, peça que entrevistem esses trabalhadores. Se não tiverem proponha que realizem a pesquisa junto a familiares e conhecidos, ou mesmo produzam enquetes em entrevistem pessoas (edifícios, pontos de ônibus, etc)
– Condições do trabalho doméstico: a ideia desta atividade é compreender as condições a partir dos espaços e dos aspectos legais. Para isso, inicie pedindo que tragam propagandas e folhetos de edifícios em que haja plantas dos apartamentos à venda. De posse deste material proponha que meçam e comparem as áreas destinadas aos proprietários e aos empregados.
A nova lei do empregado doméstico entrou em vigor em outubro de 2015. Até então os trabalhadores domésticos tinham menos direitos do que qualquer trabalhador brasileiro. Proponha aos alunos que pesquisem a nova lei e indiquem como era e o que mudou. Procure discutir a desigualdade entre os trabalhadores. Por que o empregado doméstico tinha menos direitos?
Nesse ponto é interessante indagar sobre a herança da escravidão. Escravas domésticas cuidavam das crianças, amamentavam os filhos de seus patrões, como amas de leite, viviam no espaço da casa, uma situação muito diversa dos escravos e escravas que trabalhavam na lavoura. Aqui vale retomar o filme: Val é considerada praticamente da família. Esta ambiguidade (já que Val não é da família e não tem as mesmas condições dos membros) embota as relações. Isso pode ser trabalhado a partir de dois trechos:
– Em certo momento do filme, Val repreende Jéssica, dizendo que ela não poderia aceitar sentar-se na mesma mesa dos patrões, comer o sorvete especial e usar o quarto de hóspedes. Diante do argumento da filha de que eles haviam oferecido, ela diz “eles oferecem por educação, porque sabem que você não vai aceitar”. Pontue com os alunos o que este diálogo mostra sobre as relações e sobre a visão de que “cada um deve saber o seu lugar”.
– Há um desconforto causado pela chegada de Jéssica? O professor pode relembrar cenas como a do esvaziamento da piscina, do resultado do vestibular, a curiosidade de Jéssica em relação aos livros, etc. De que forma a existência de uma garota de origem pobre que busca ascensão social pelos estudos é vista pelos patrões de Val? Nem todos os membros da família percebem isso da mesma forma, o que também pode ser analisado. (Bárbara e Carlos);
O fechamento desta etapa pode ser feito por meio de diferentes atividades:
– texto dissertativo: proponha aos alunos que produzam uma texto dissertativo (os dados levantados nas pesquisas devem estar presentes no texto):
Exemplos de temas
O trabalho doméstico: da senzala ao quarto de empregada
Trabalho doméstico: da ama de leite à funcionária
2ª Etapa: Exibição do Filme
O filme estreou nos cinemas brasileiros, em agosto de 2015, após ter recebido vários prêmios internacionais. Aos poucos, está conquistando o público e ganhando espaço nas salas de exibição, provocando debates acalorados na imprensa e nas rodas de conversa. É interessante que a escola organize a ida dos seus alunos às salas de cinema. Vale ressaltar a temática da obra relacionando-a com experiências pessoais de cada aluno. Pode ser feita uma sondagem sobre a realidade desses alunos: têm empregados e empregadas em suas casas (empregadas, cozinheiras, babás, motoristas, faxineiras).? Já realizou trabalho como empregado (a) doméstico (a)/ babá? Conhecem quem exerça esse tipo de trabalho?
É interessante que, antes da sessão, professores apontem para seus alunos que o filme apresenta um drama social, ainda que de maneira leve, às vezes até em tom cômico.
3ª Etapa: Debate após o filme
É fundamental realizar o debate após a exibição. Pode ser na própria sala de cinema ou na escola, mesmo que seja alguns dias depois. Eis algumas perguntas provocadoras que podem desencadear o debate:
• Qual foi a cena mais marcante da obra?
• Quais personagens os alunos e alunas mais se identificaram? Conseguiriam se colocar no lugar de pessoas que não têm a mesma posição social?
• Teria sido muita ousadia de Jéssica aceitar dormir no quarto de hóspedes? Essa atitude pode ser considerada inadequada? Houve surpresa nesta cena?
• Como viram a diferença na construção dos personagens femininos e masculinos? As mulheres da trama (Val, Jéssica e Bárbara) são muito mais ou menos fortes do que os personagens masculinos? Essa condição está presente na sociedade mais ampla ou é característica apenas do ambiente doméstico?
• Os (as) alunos (as) conhecem pessoas que deixaram seus filhos para cuidarem dos filhos de outras pessoas?
• O fato de cenas com Val provocarem algumas risadas seria suficiente para caracterizar a obra como uma comédia?
• O que os alunos e alunas conheciam sobre o cinema brasileiro? Este filme foge aos rótulos que normalmente são atribuídos ao cinema brasileiro?
• O trabalho doméstico é desvalorizado em todas as sociedades? (aqui vale um contraponto com o que aparece no cinema americano, em que jovens realizam serviços domésticos, empregados domésticos são raros e bem pagos)
4ª Etapa: Língua Portuguesa e Arte
Inicie a atividade apresentando o curta metragem Vida Maria, de Márcio Ramos, sugerido no link 4 do para organizar o seu trabalho
Ao final da exibição retome o vídeo com a turma e proponha uma comparação com Que horas ela volta:
• Há semelhança nos contextos de origem? E entre os personagens?
• O que aproxima e o que separa Maria José, Lurdes, Jéssica, Val, além de todos os nomes grafados no caderno?
• Val rompeu com a história de Maria José, Lurdes e suas avós, vindo para São Paulo? Jéssica rompeu com a história de Val, ao recusar o papel de vir para a cidade trabalhar e cuidar de uma família que nunca será a sua? Ao deixar o filho para vir para São Paulo, ela não está reproduzindo a história de sua mãe?
A partir desta discussão, proponha que escrevam diálogos entre as personagens e marque um dia para a leitura compartilhada dos diálogos produzidos.
A partir desses textos, pode-se propor um debate sobre os sonhos que os jovens têm e os impedimentos possíveis para realizá-los (por exemplo, gravidez não planejada, impedimentos para cursar uma faculdade ou ausência de qualificação para o trabalho, entre outros).
• Como se aproximar desses sonhos?
• Quais as possibilidades de vencer os obstáculos?
• Eles são maiores para as mulheres?
• Como a gravidez pode ser uma realização e ao mesmo tempo um obstáculo à vida profissional e à ascensão social?
• Como os garotos se posicionam diante dessas questões?
• Como os homens também têm rompido com essa tradição da maternidade ser um problema exclusivamente feminino?
Depois do debate, proponha à classe a elaboração de uma apresentação dos diálogos escritos. Eles podem ser reelaborados, recombinados e ampliados pata ser apresentados a toda a escola.
Materiais Relacionados
1. O trailer do filme está disponível no seguinte link.
2.
Embora o filme esteja sendo aclamado pelo público, a
crítica não tem sido unânime. O crítico Humberto Pereira Silva, situa a obra na filmografia brasileira atual e problematiza o que ele considera tom “humorístico” do filme. Um bom texto para dar base ao professor nos debates em sala de aula.
3. Outros filmes brasileiros recentes também tratam das desigualdades seculares do Brasil, ainda refletidas na sociedade contemporânea, como O Som ao Redor (Kléber Mendonça, 2012), A História da Eternidade (Camilo Cavalcante, 2014), Casagrande (Fellipe Barbosa, 2014), entre outros.
4.
Um curta metragem que pode fazer um bom diálogo com o filme é
Vida Maria, de Márcio Ramos.
5.
A personagem Jéssica deseja cursar arquitetura. Em certo momento do filme, analisa a planta da casa dos patrões de sua mãe. A arquitetura como revelação dos extratos sociais é analisada nesta
crítica de José Geraldo Couto que fala da “dramaturgia dos espaços”:
Que horas ela volta?
Sinopse:
A pernambucana Val (Regina Casé) trabalha como babá em uma casa em. Ela deixou sua filha Jéssica (Camila Márdila) em sua cidade, em Pernambuco, e cuida de Fabinho (Michel Joelsas), como se fosse seu filho. Ela mora no local de trabalho, no quarto de empregada de uma casa no Morumbi, bairro chique de São Paulo. Treze anos depois, ela recebe a notícia da vinda de sua filha para São Paulo, que virá para prestar vestibular para a Faculdade de Arquitetura da USP. Jéssica não segue as regras sociais com as quais a mãe está habituada, quase sempre veladas, que regem a relação patrão-empregada doméstica. Sua atitude causa grande confusão, deixando clara a ambiguidade dessas relações de trabalho.
Direção: Anna Muylaert Elenco: Regina Casé, Camila Márdila, Michel Joelsas, Karine Telles e Lourenço Mutarelli. Gênero: Drama Duração: 111 min. Distribuidora: Pandora Classificação: 12 Anos
Arquivos anexados
- Que horas ela volta?