Conteúdos
Cinema e Educação
Objetivos
• Desenvolver a consciência crítica e cidadã a partir da própria educação do estudante
• Compreender a diversidade brasileira e a desigualdade social
• Relacionar conceitos do estudo da demografia com o contexto social brasileiro.
• Desenvolver a capacidade de organizar informações e criar argumentação eficaz.
1ª Etapa: Início de conversa e apresentação
O avanço dos meios de comunicação parece ter nos levado à sociedade da informação. O problema é que ter informação não é necessariamente ter formação e, menos ainda, conhecimento ou sabedoria. A educação brasileira parece ser um grande problema que permitiria ao país tomar o rumo do real desenvolvimento. Mas como anda a nossa educação? Quais as desigualdades que ela pode nos mostrar.
Por outra perspectiva podemos pensar que o jovem está no centro desta problemática. O estudante , , é exatamente o destinatário da educação e, por conseguinte, o principal interessado no seu avanço. Mas por que será que é tão difícil educar e como podemos lidar com o desestímulo, o abandono e as inconstâncias que observamos em sala de aula. Dialogar com nossos alunos, de forma franca, pode contribuir para a superação desta dificuldade.
O documentário Pro dia nascer feliz é um meio para fazer esta ligação, já eu pode ver a si e a seus pares. Tão diferentes e tão iguais, jovens de realidades muito diferentes aparecem neste filme, falando livremente para as câmeras, conjuntamente com os educadores envolvidos no processo. O filme nos faz perceber a importância e, de outro lado, o parcial abandono da educação assim como os desafios que aguardam nossos alunos na necessária reforma da sociedade brasileira.
Como apresentação do filme sugerimos que se inicie uma discussão acerca do espaço escolar e de como os alunos veem a sua própria escola. Tente descobrir o que eles entendem como bom ou ruim, como se relacionam com os professores e pergunte também das maiores dificuldades ou decepções com relação à educação. É importante que se estabeleça a base para uma conversa franca com os alunos.
2ª Etapa: Exibição e discussão
Prepare-os então para comparar o seu universo escolar com outros e tentar observar a situação de diversos jovens brasileiros.
Peça para que pensem em semelhanças e diferenças, identidade e alteridade. Pro dia nascer feliz será um filme interessante para que os alunos se apropriem do próprio desafio da educação e, por que não, do próprio processo educacional. O filme poderá, então, ser exibido para toda a sala.
Sugerimos uma discussão a partir de tópicos do filme. Inicialmente, os alunos podem tecer comentários gerais acerca do filme e suas primeiras impressões. Faça uma primeira sondagem acerca do que os estudantes pensam ser o problema central do filme e como se sentiram ao ver as diversas situações educacionais.
Em seguida, retome, no filme, algumas passagens para discussão. Sugerimos as seguintes passagens e temáticas a serem discutidas. Neste tópico passamos à forma de breves comentários, possibilitando ao professor identificar momentos e questões que sejam de interesse de sua comunidade escolar e escolher aqueles que pretende abordar:
• 3’20’’: Mostre o panorama traçado da educação brasileira
• 3’50’’: O poema “ausência” de Vinícius de Morais pode ser pesquisado e distribuído para a sala. Talvez um comentário sobre o poema possa interessar.
• 5’00’’: Atente para o ‘orçamento’ da escola. Neste momento seria interessante ponderar, com os alunos, como é possível educar de forma competente com um orçamento destes. Menos que indignação, seria interessante propor soluções.
• 7’20’’: A estrutura da escola. Talvez seja uma atividade rica comparar as diversas estruturas de escola que o filme nos mostra. Pode-se ainda utilizar as informações de 9’21’’: O censo escolar de 2004 juntamente com as imagens de água e banheiro
• 12’10’’: Atente para a necessidade de transporte dos alunos e, na sequência, a ausência de professores e de aulas.
• 15’30’’: A escola como escape poderá ser um tema repetidamente analisado durante o filme. Neste primeiro momento é importante verificar que a escola está em uma região não muito urbanizada.
• 17’40’’: A passagem para Duque de Caxias revela outra paisagem. Seria possível comentar as diferenças? Pergunte para os alunos acerca de semelhanças dos problemas e diferenças para com o ambiente visto no filme até então.
• 20’00’’: Novamente, seria possível comparar a estrutura das escolas e a dificuldade de cativar os alunos para uma aula de história.
• 25’40’’: O Conselho de Classe é um momento muito interessante de ser analisado. Pondere com os alunos quais atitudes eles entenderam coerentes ou não coerentes nas falas dos professores. Por que será que agem assim?
• 29’00’’: A fala do aluno é assustadora. Há uma certa tranquilidade e até divertimento com o fato de que o aluno foi aprovado sem aprender nada.
• 30’30’’: Considere com os alunos a fala acerca do papel da escola. Será que o papel da escola é realmente este que o filme está traçando?
• 37’40’’: Você considera a escola de Itaquaquecetuba mais estruturada que as demais? Mas e as faltas que se seguem no filme?
• 44’50’’ e 46’30’’: duas temáticas que acabam por compor o universo jovem: o preconceito sexual e o desespero a ponto de o suicídio ser considerado.
• 48’00’’: considere com seus alunos a falta que a escola pode fazer na vida. Os seus alunos abandonariam a escola se pudessem? Como foi para a jovem que dá o depoimento a perda do universo escolar?
• 54’00’’: A entrada do colégio Santa Cruz pode indicar diferenças de estrutura. A temática também parece que mudará, mas será que os jovens não têm outros problemas, outros grilos, outras preocupações? Neste momento, interessa trabalhar a questão da ‘bolha’ que apareceu tão fortemente no diálogo.
• 57’00’’: A depressão e o apoio. A importância dos pais, dos professores, da comunidade que cuida do jovem.
• 1h05’00’’: A fala da aluna Cissa pode ser considerada interessante em contraponto. Enquanto um jovem diz que não aprendeu nada durante o ano e não vê problema nisso, a jovem diz não se importar com a nota, mas com o ‘processo’. O que significa este ‘processo’?
• 1h07’00’’: A relação com os pais. Mostre que indiferentemente da classe social, a questão familiar é uma constante. Rico ou pobre, a relação dos pais com os filhos parece ser uma temática corrente na vida escolar.
• 1h10’’50: Vale o comentário acerca da ‘escola ser reflexo do mundo’ e iniciar a temática da violência e de sua banalidade na voz das meninas que brigaram (e também da jovem que matou uma colega de sala)
Talvez a compreensão acerca do processo de aprendizado e das dificuldades estruturais da sociedade brasileira em lidar com os seus jovens possa ser o mote para introduzir o tema da importância da escola e da educação básica. Todavia, não deixe de utilizar este filme para debater com seus alunos, de forma aberta e ponderada, a sua realidade escolar, seus desafios, frustrações e vitórias.
Nesta etapa é possível gerar um instrumento de avaliação, solicitando aos estudantes que redijam, em seus cadernos, uma breve resenha do filme, indicando como o filme afetou individualmente o(a) aluno(a). Neste percurso, oriente-os a refletirem sobre o seu universo de distanciamento ou proximidade no tocante ao tema apontado no filme.
3ª Etapa: Janela demográfica – uma retomada de conceitos de demografia. Análise do estado brasileiro.
Nesta etapa interessa uma retomada de um grupo de conceitos de geografia: a demografia, a pirâmide etária e o PEA. A partir destes conceitos, aborde a pirâmide etária brasileira. O link indicado traz a possibilidade comparativa da pirâmide nos últimos anos – e possibilita compreender a diferença nos nascimentos e envelhecimento da população. Neste gráfico, mostre também o que poderia ser considerado o PEA (a População Economicamente Ativa) e informe como esta parte da população acaba por ser responsável para sustentar as demais partes. Comente que atualmente o desafio do Brasil é a educação básica.
Para uma melhor perspectiva do panorama da educação brasileira, separe a sala em grupos e distribua a cada grupo um dos três mapas citados como link. Cada grupo deverá realizar uma ‘leitura do mapa’, tecendo um comentário explicativo sobre o mesmo. A ideia é que o grupo de alunos crie um texto chegando a algumas conclusões a partir da análise de dados. Quais as regiões com piores índices, quais as que se destacam por ser as melhores? Como estão os centros urbanos em relação às cidades mais afastadas das capitais? Quais índices parecem mais preocupantes?
Como complemento desta etapa você pode tentar localizar os estados que foram cenário do filme visto e verificar sua posição em cada mapa.
Ao final desta etapa solicite uma breve apresentação de cada resultado.
4ª Etapa: Desafios para o Brasil.
Esta etapa propõe uma análise de texto e comentário sobre desafios brasileiros.
Distribua para os alunos o texto de Carlos Henrique Brito Cruz, sobre o conhecimento e o desenvolvimento sustentável. Peça para que eles façam um resumo do artigo, separando o argumento principal do autor, os exemplos que utiliza e quais os conceitos essenciais para a compreensão de seu pensamento.
Na sequência abra a discussão para a solução de dúvidas acerca da ideia de crescimento sustentável e das reformas necessárias para tanto. Tente mostrar a importância do ensino universitário e da pesquisa e da tecnologia.
Ao final, solicite aos alunos que reflitam sobre o filme visto e escrevam um breve texto em seus cadernos, relacionando o filme e o texto.
5ª Etapa: A voz da minha sala
No decorrer do filme, vários alunos relatam seu universo escolar e pessoal a partir da expressão literária. Desde a criação de versos até a utilização de um fanzine, muitas são as experiências realizadas pelos próprios alunos para tentar dar vazão ao que sentem em relação à sua vida, seu momento, suas pretensões.
O filme visto pode ser um bom estímulo para fazer com que os alunos exponham e pensem sobre a sua condição, sobre seus grilos, seus sonhos, suas perspectivas. Podem ainda tentar criar poemas ou contos para falar um pouco sobre si.
Proponha, assim, uma atividade de entrega de poemas e, posteriormente, a leitura dramática dos mesmos. Nesta atividade é importante que o professor tenha a sensibilidade para saber se é ou não saudável para o grupo obrigar a leitura de todos os poemas. Aconselhamos a não forçar o aluno a expor seus pensamentos, mesmo na metodologia abaixo indicada. Assim, sugerimos que exista a possibilidade de o aluno entregar o poema sem, contudo, que ele seja lido.
Proponha as seguintes fases do projeto:
1. Os alunos deverão entregar um poema de sua autoria, que reflita algum aspecto de seu sentimento acerca do presente ou do futuro. Tal poema deverá ser digitado em duas vias: uma com o nome do aluno e outra sem o nome. A produção dos poemas poderá ser em sala ou em casa, a depender da disponibilidade de aulas para tanto.
2. Recolha os trabalhos, separando a folha com o nome (que servirá para a sua avaliação) da folha sem o nome. A folha sem o nome será colocada em uma caixa ou sobre a mesa do professor. Se achar necessário, faça uma leitura prévia dos trabalhos para corrigir eventuais desvios de norma que impossibilitem a leitura dramática adequada, sem, contudo, alterar a estrutura ou expressão livre do aluno.
3. Ao final de uma aula, distribua livremente os poemas entre os alunos (garantindo que nenhum aluno pegue o seu próprio poema) e marque para o próximo encontro o momento de leitura. Peça também aos alunos que, na parte de trás da folha, escrevam, para o dia da leitura, um comentário curto acerca do poema.
4. Na aula final, faça a leitura e comente os poemas, sem indicar nomes. Se achar relevante ou interessante, peça aos autores para se identificarem, se assim quiserem. Todavia, entendemos que o mais importante é ouvir a voz da própria sala.
Materiais Relacionados
• Veja previamente o filme em diversos canais do Youtube. Indicamos, para acompanhamento da sequência.
•
Leia previamente o
artigo do professor Carlos Henrique Brito Cruz, sobre conhecimento e desenvolvimento sustentável.
•
Para aprofundar a discussão acerca da educação brasileira a partir do documentário, leia o
artigo das estudantes Maria Aparecida Gonçalves e Vanessa Luiz de Melo.
SOBRE O FILME
Gênero. Documentário. País e ano de produção: Brasil, 2007. Duração: 1 hora e 20 minutos (aprox.)
Direção, edição e roteiro: João Jardim
Em Pro dia nascer feliz o diretor João Jardim dá voz à diversidade dos estudantes de ensino médio de alguns estados brasileiros. Sem pretensão de um estudo exaustivo do tema, os depoimentos e narrativas sucedem-se a partir dos contextos educacionais nos jovens. Desde uma escola do interior de Pernambuco até um colégio particular de São Paulo, os temas ligados à educação e seus desafios ganham corpo pela narrativa dos jovens e dos professores envolvidos no processo educativo.
O filme é uma rara oportunidade para discutir com os próprios estudantes a sua situação e a situação do ‘outro’, do estudante que está em outro lugar, outra realidade. Comparar realidades, verificar condições, criticar a partir do conhecimento do diverso e compreender os desafios da educação são possibilidades de diálogo com os próprios estudantes. Carências, grilos, sonhos, vontades, desânimo, desestímulo, apoio, pressão… violência. Palavras que desfilam no filme de João Jardim e que encantam por sua sinceridade, por sua crueza.
Intriga notar ainda como tão diversos são tão iguais. Jovens, todos, parecem partilhar das mesmas dificuldades e de sofrimento muito intenso. Mais parece que se sentassem para conversar, conseguiriam rir e chorar, brincar e zombar e, ainda assim, terem a esperança de, um dia, serem felizes.
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